'Poderia ser evitado', lamenta irmã de homem que morreu após abordagem em metrô

Porteiro Edmar Moreira, de 38 anos, foi imobilizado por agentes da CCR Metrô

  • Foto do(a) author(a) Esther Morais
  • Esther Morais

Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 17:43

Edmar foi abordado na Estação Acesso Norte
Edmar foi abordado na Estação Acesso Norte Crédito: Reprodução

Fica a dor da perda e da injustiça. Familiares do porteiro Edmar Moreira, de 38 anos, que morreu após ser imobilizado por agentes da CCR Metrô, na Estação Acesso Norte, em 6 de janeiro, afirmam que estão desolados com a situação e a forma que a morte aconteceu. A causa do óbito ainda não foi confirmada, no entanto, a suspeita dos parentes é de que o homem foi asfixiado e teve uma parada respiratória durante a abordagem.

A irmã da vítima, que pediu para não ser identificada, lamenta a situação. “Era o meio de transporte que ele pegava pra poder trabalhar. Me fica a dor da perda e, sabendo o que aconteceu, a dor da injustiça. Poderia ser evitado, ele já estava contido, algemado, não precisava desse excesso que provocou toda situação”, diz.

Ela ainda conta que em nenhum momento a CCR Metrô entrou em contato para informar sobre o caso e que, inicialmente, achavam que Edmar teve um mau súbito, só depois a família tomou ciência da abordagem na estação.

“Meu irmão saiu para trabalhar às 5h30 da manhã e os patrões ligaram quando sentiram ausência no trabalho porque ele não faltava, nem chegava tarde. [Daí] colocamos cartaz à procura dele e fui ao HGE [Hospital Geral do Estado] com meu pai e meu esposo. Mas ele não deu entrada”, relembra.

A partir disso a família foi procurar no Instituto Médico Legal (IML) e, devido às semelhanças com a vítima, os próprios funcionários do local identificaram os parentes. A irmã foi levada para ver o corpo e confirmou que era Edmar.

"Estamos desolados. É muito difícil para minha mãe se despedir do filho para ir ao trabalho e ele não retornar"

Irmã de Edmar 
Anônima 

O pai da vítima disse que está à base de remédios, pois não consegue lidar com a situação. “Ele era tudo nas nossas vidas, pai de família, nos ajudava. Quando vejo essas imagens meu filho caído deram cabo no meu filho e quero justiça.

"Não estou me alimentando, quero justiça, vou correr atrás disso em nome de Jesus"

Pai de Edmar
Anônimo 

Entenda o caso 

O porteiro Edmar Moreira, de 38 anos, saiu de casa para trabalhar. Na Estação Acesso Norte, do metrô de Salvador, ele foi abordado e imobilizado por agentes da CCR Metrô. A suspeita da família é de que ele morreu após ter sido asfixiado e teve uma parada respiratória devido à abordagem. A causa da morte ainda não foi confirmada.

A ocorrência foi por volta das 6h da manhã de 6 de janeiro. No entanto, os parentes só conseguiram confirmar o óbito 12 horas depois, às 18h, quando a irmã e o pai da vítima foram procurar Edmar no Instituto Médico Legal (IML) e identificaram o corpo.

O vídeo

Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que um homem de camisa branca deixa um cooler no chão. Em seguida, Edmar aparece no local, pega o cooler e segue em direção ao ônibus. Um segundo homem vai atrás dele e puxa o cooler. Edmar tenta entrar no ônibus, mas começa uma briga e pessoas que estão no local imobilizam o porteiro.

Ainda nas imagens, é possível ver a chegada dos agentes de segurança da CCR Metrô. Eles levam Edmar para outro lado da estação, onde o porteiro resiste e acaba caindo no chão. Um dos seguranças algema Edmar e, em seguida, coloca os dois joelhos nas costas do rapaz. Ele fica por um minuto em cima do rapaz e só depois percebe que a vítima nao está mais se mexendo.

Um dos seguranças coloca uma luva e toca em Edmar, mas ele não reage. Cerca de 2min30s depois, um agente da CCR retira as algemas. Outro agente chega com uma cadeira de rodas, mas não usa. Outro segurança chega com uma maca, onde Edmar é colocado e levado para uma sala na estação. Do momento em que o porteiro parou de se mexer até sair na maca se passaram 10 minutos.

A CCR Metrô lamentou o caso e informou que o passageiro ingressou no terminal cambaleando e se envolveu em uma briga com um vendedor ambulante dentro de um ônibus. "Ao constatar a confusão, os agentes de atendimento e segurança se dirigem ao local e contêm o passageiro, acionando, em seguida, a Polícia Militar e o SAMU", detalha.

Ainda de acordo com a concessionária, ao perceber que o passageiro teve um mal súbito, os agentes o conduziram para a sala de atendimento de primeiros socorros (APS), que conta com os equipamentos de reanimação e equipe treinada. Foi nesse local que o porteiro recebeu atendimento até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que foi acionado quando o passageiro estava em atendimento na sala de APS. Os agentes foram afastados do cargo. 

A CCR informou ainda que instaurou um procedimento interno para apurar as circunstâncias da ocorrência e os agentes já prestaram depoimento à polícia.