PMs presos em Salvador já foram investigados por ao menos cinco homicídios

Todos os processos foram arquivados por falta de provas ou legítima defesa

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Publicado em 30 de agosto de 2024 às 05:00

Policiais militares foram presos em operação da Polícia Civil
Policiais militares foram presos em operação da Polícia Civil Crédito: Poliana Lima/Polícia Civil

Os dois policiais militares da ativa que foram presos por sequestro, extorsão e dois homicídios na manhã desta quinta-feira (29) em operação da Polícia Civil da Bahia (PC) já foram investigados por ao menos cinco homicídios em Salvador. Roque de Jesus Dorea, capitão do Departamento Pessoal da Polícia Militar da Bahia (PM), e Ernesto Nilton Nery, soldado da 37º Companhia Independente da PM (CIPM) foram alvo de investigação por morte em ações policiais, mas tiveram seus casos arquivados.

Os dois foram presos com Jorge Adson, um ex-PM que teria sido expulso da corporação, de acordo com informações da TV Bahia, pela suspeita de terem sido os responsáveis pelas mortes de Joseval Santos Santos e Jeferson Sacramento Santos, padrasto e enteado. Antes desse caso, no entanto, Roque e Ernesto acumularam denúncias decorridas de ações policiais que acabaram em mortes.

Só Ernesto foi investigado por quatro casos diferentes na região da Liberdade, área de atuação da 37º CIPM, entre 2016 e 2020. O primeiro destes registros ocorreu no dia 10 de dezembro de 2016, quando Ricardo Rodrigues de Souza, mais conhecido como Bucha de Sena, acabou morto após uma ação policial no bairro do Curuzu. A morte do suspeito gerou até comoção entre moradores e afetou a circulação de ônibus.

Mesmo após denúncia de Ernesto e outros policiais envolvidos na ação que acabou na morte de Bucha, o Ministério Público, em parecer, opinou pelo arquivamento do caso, considerando a excludente de ilicitude da legítima defesa. O mesmo ocorreu com o processo que apurou uma ação policial que terminou na morte de Jean Santos da Silva, em 29 de setembro de 2018, no bairro do IAPI, também na região da Liberdade.

“As provas colhidas evidenciam que os investigados não dispunham de meios diversos para desincumbir-se do ônus de sua função pública além dos disparos de arma de fogo”, afirmou, em parecer, o MP. O órgão disse ainda não ser possível negar que os policiais agiram em legítima defesa ao no tiroteio que acabou na morte de Jean que, assim como Bucha, tinha envolvimento com o tráfico de drogas.

O terceiro caso de morte em uma ação policial com a participação de Ernesto que acabou se transformando em uma ação por homicídio qualificado foi registrado no dia 5 de fevereiro de 2020, no final de linha do bairro Santa Mônica, próximo a um posto de saúde. Na ocasião, Jeferson Cardoso de Carvalho durante uma ação policial. Não há, porém, mais informações sobre o caso, além de um parecer em que o MP explica não ter reunido provas suficientes para provar a ação ilícita dos PMs – Ernesto incluso – no caso.

A última ocorrência com envolvimento de Ernesto foi registada em 28 de dezembro de 2020. O caso foi elaborado pela Corregedoria da Polícia Militar do Estado da Bahia após uma ação na localidade conhecida por “Tampão”, bairro de Santa Mônica, que terminou na morte de Heverton das Neves Cardoso.

Na ocasião, de acordo com os autos, uma equipe da Polícia Militar estava em rondas, quando constataram a presença de alguns indivíduos que efetuaram disparos de arma de fogo contra a viatura. Houve revide e Jean, que estaria envolvido na troca de tiros, foi atingido. Segundo policiais, com ele foram apreendidas drogas e uma pistola calibre 9mm, acompanhada de carregador e 08 cartuchos intactos de mesmo calibre.

Na investigação, porém, não houve conclusão de que Heverton tivesse sido vítima de execução e nenhuma testemunha presencial foi localizada, assim como os familiares da vítima não foram encontrados para serem ouvidos. O único caso de investigação contra Roque, que não estava na ativa, foi registrado em 2011, quando ele foi investigado por homicídio simples pela morte de Eduardo Rodrigues da Silva Júnior.

O caso ocorreu em 23 de julho daquele ano, por volta das meia-noite, na Avenida Cardeal da Silva, na Federação. Contudo, o Ministério Público, em parecer, opinou pelo arquivamento por excludente de ilicitude da legítima defesa após investigações. A reportagem não localizou processo públicos do TJ-BA contra Jorge Adson, ex-PM preso na operação e nem obteve informações sobre o motivo da sua saída da corporação.