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Maysa Polcri
Publicado em 7 de abril de 2025 às 10:57
Antes de se mudar para Salvador, o carioca Bryan Barros, de 34 anos, tinha sido assaltado três vezes no Rio de Janeiro. Mas foi em Salvador, na madrugada de domingo (6), que o motorista de aplicativo viveu a "pior noite" de sua vida. Ele transportava uma criança e três adultos até a Federação, quando um dos passageiros, policial militar, se descontrolou, saiu do carro e atirou contra o veículo em que sua própria família e Bryan estavam. >
O trajeto entre o ponto de embarque, na Barra, até a avenida Cardeal Silva, destino final da viagem, possui menos de seis quilômetros. Mas o que seria uma viagem rápida, virou um episódio de terror para o motorista de aplicativo. Tudo começou, segundo Bryan, porque o policial militar, que estava no banco da frente, estava colocando os passageiros em risco. >
"Ele ficava a todo momento virando para o banco de trás e fazendo cócegas na criança. O menino chutou e subiu no banco. Eu pedi para eles pararem porque um acidente poderia acontecer. Mas ele continuou com as brincadeiras, com ainda mais intensidade, para me provocar", conta Bryan. Além do soldado da PM Jonas Paulo Silva de Oliveira e seu filho, estavam no carro sua esposa, também policial, e a mãe dela. >
Ao perceber que o passageiro parecia estar sob efeito de álcool e com medo de um acidente ocorrer, Bryan Barros decidiu cancelar a corrida, em frente ao Hospital Santo Amaro, na Federação. "Era um local seguro para desembarcar uma família, e pedi para eles saírem do carro. Foi quando ele [o policial] se descontrolou, mostrou a arma na cintura e falou para a família descer do carro", diz o motorista. >
Temendo pela sua vida, Bryan, que até então não sabia que Jonas era policial, deu partida no carro. "Eu implorei pela minha vida, disse que tenho filho pequeno, e só pensei em me salvar", relembra. Depois que acelerou o veículo, o soldado começou a atirar contra o carro. A esposa, o filho e a sogra ainda estavam dentro do carro dirigido por Bryan. >
Bryan Barros
Motorista de aplicativoDurante a fuga, o motorista acabou colidindo no meio-fio, e o volante do carro parou de funcionar. Bryan fugiu a pé e recebeu ajuda de populares. A família voltou ao local onde o policial estava. A sogra de Jonas foi ferida por estilhaços do vidro, que foi quebrado devido aos disparos. >
Bryan retornou ao local acompanhado de populares e encontrou uma guarnição da Polícia Militar. Foi quando ele soube que Jonas também integra a corporação. "Perdeu, mané", teria dito o PM ao motorista. Ambos foram encaminhados à Central de Flagrantes, onde Bryan prestou depoimento e permaneceu por 14 horas. >
O motorista disse que foi constrangido pelos policiais, que debocharam do episódio. O motorista também teria sugerido que ele o policial realizassem exames toxicológicos, que poderiam atestar se algum deles estava sob efeito de drogas, mas o pedido foi negado pela delegada. >
Após o episódio de medo, Bryan não sabe se continuará a trabalhar como motorista de aplicativo, o que faz há sete anos. "Agora, eu estou seguro, em casa, com a minha família. Mas não sei como será voltar a rodar, o que faço para pagar as contas", lamentou. >
Durante o depoimento, o policial Jonas Paulo disse que a confusão teve início porque ele suspeitou da conduta do motorista, versão dada pela Polícia Civil. "O desentendimento teria começado por suspeitas do policial em relação ao condutor e se agravou após um conflito dentro do veículo, resultando em uma passageira ferida e disparos contra o carro", disse a corporação, em nota (veja abaixo). >
A PM informou que agentes da 41ª CIPM (Federação) estiveram no local e constataram que havia uma mulher ferida, "após desentendimento entre passageiros e o motorista por aplicativo, no qual houve disparos de arma de fogo efetuados por um policial militar que estava entre os passageiros". O caso foi registrado na Corregedoria da PM.>
"A Central de Flagrantes instaurou um Inquérito Policial para apurar uma denúncia de dano e disparo de arma de fogo em local habitado, registrada no sábado (5), na Ladeira do Campo Santo, no bairro da Federação. >
Informações preliminares indicam que o caso envolve uma discussão entre um policial militar e um motorista de aplicativo, durante uma corrida que também transportava duas mulheres e uma criança. >
O desentendimento teria começado por suspeitas do policial em relação ao condutor e se agravou após um conflito dentro do veículo, resultando em uma passageira ferida e disparos contra o carro. >
A mulher foi socorrida para uma unidade de saúde, e os demais envolvidos foram conduzidos à delegacia para prestar esclarecimentos. Oitivas e diligências seguem em andamento e laudos periciais irão elucidar as circunstâncias do fato.">