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Pelourinho ficou vermelho: multidão toma conta do Largo em homenagem a Santa Bárbara

Por volta das 8h, já estava difícil de transitar no Largo do Pelourinho

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 10:14

Multidão toma conta do Largo do Pelourinho em homenagem a Santa Bárbara
Multidão toma conta do Largo do Pelourinho em homenagem a Santa Bárbara Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Desde a entrada da Baixa dos Sapateiros já era possível avistar os indícios de uma celebração em Salvador na manhã desta quarta-feira (4). Não foi por acaso que, nas calçadas, os manequins das lojas foram expostos com vestes vermelhas. Também não foi coincidência as rosas nas mãos de centenas de pessoas que rumaram em direção à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Toda aquela movimentação tinha motivo: homenagear Santa Bárbara, a protetora de tempestades e trovões.

Por volta das 8h, o Largo do Pelourinho já estava difícil de transitar. Enquanto alguns faziam questão de ir em direção à igreja, outros se apressavam para conseguir um lugar próximo ao palco montado em frente à Fundação Casa de Jorge Amado, onde a Missa Campal, presidida pelo cônego Lázaro Muniz, teve início às 8h10.

Antes da celebração religiosa, a técnica em enfermagem Maria Selma dos Santos, 57, manteve os olhos fechados enquanto entoava as músicas em homenagem à santa. Ela, que é devota também de Iansã – equivalente à entidade católica no candomblé –, contou que estava relembrando o início da história com Santa Bárbara. "Minha história começou quando eu estava em casa há alguns anos e comecei, inconscientemente, a chamar 'Odoyá, Odoyá'. As portas do meu quarto começaram a balançar", conta.

"Eu continuei a dizer 'Odoyá, minha mãe'. Depois desse episódio, eu comecei a despertar para a fé e eu vi a importância dos orixás para a minha vida. Desde então, Santa Bárbara representa a força e a luz. Ela é poderosa. É como se ela desse subsídios, com a permissão de Deus, para suportar as adversidades da vida", afirma Maria Selma.

Para o contador Gerson Amorim, 69 anos, Santa Bárbara é a mediadora que possibilitou a abertura de diversas oportunidades ao longo da vida dele. "Sou devoto dela há muitos anos e, ainda na juventude, pedi a ela que me ajudasse a conseguir um emprego. Graças a Deus e a ela eu consegui esse emprego e estou nele até hoje. Ela é luz e foi assim em tantas outras esferas da minha vida", diz.

A fé de Gerson inspirou a filha Fernanda Amorim, de 19 anos. Ao lado do pai na Festa de Santa Bárbara, ela contou que marca presença em quase todos os anos porque acredita na força da representação da santa. "Além da religiosidade, ela representa a força da mulher, é forte, uma menina que não se prende a nada, é leve como o vento e livre como uma borboleta. Isso me toca muito por conta da nossa história e raízes", relata.

A sensibilidade e emoção, inclusive, foram duas características presentes nos rostos dos homens e mulheres que assistiram a Missa Campal. Com o tema central "Santa Bárbara, filha de Maria, sede nosso auxílio e proteção, para que, de rosto sereno e fronte erguida, possamos enfrentar as adversidades e cultivar esperança", o cônego fez questão de enfatizar a importância de celebrar o amor, o respeito, a fraternidade e a resistência da fé. Ao final da missa, também saudou Iansã.

Fiéis se emocionaram durante Missa Campal em homenagem a Santa Bárbara Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

"A fé pode nos fazer resistir ao mal. Santa Bárbara é um exemplo disso, bem como relação entre outras religiões e o sincretismo nos ajuda também a ter respeito pela religião do outro. Quando saudei Iansã, foi algo muito forte e que tinha que ser muito significativo para o coração das pessoas. A gente valoriza justamente por entender que para muitos isso tem um sentido muito importante e valioso", ressalta.

A procissão com a imagem de Santa Bárbara saiu do Largo do Pelourinho às 10h30. Uma multidão fez o percurso inteiro, que teve a tradicional parada na Sede do Corpo de Bombeiros. No local, antes mesmo de meio-dia, já havia uma fila quilométrica de pessoas que queriam garantir o caruru. Os bombeiros distribuíram cerca de 1,5 mil quentinhas. A comida conseguiu saciar a fome e sustentar o aposentado Marciel Neto, 64 anos, que ainda tinha como plano aproveitar as festas profanas.

Devotos de Santa Bárbara aproveitaram caruru gratuito distribuído pelo Corpo de Bombeiros Crédito: Marina Silva/CORREIO

"Todo ano eu frequento a Festa de Santa Bárbara. Desde a adolescência eu vinha com meus pais, mas nunca tinha parado para comer o caruru. Hoje eu decidi aproveitar e ver se valia a pena, afinal, é de graça e distribuído em um dia festivo. Confesso que estou surpreso, porque está muito bom. Depois daqui, vou tomar uma cervejinha e dar continuidade à festa", declara.

A aposentada Joana Angélica dos Santos, 72 anos, também experimentou o caruru pela primeira vez, mesmo já sendo devota de Santa Bárbara há anos. "Santa Bárbara já intercedeu por mim em muitas ocasiões. Uma vez, durante um incêndio onde eu trabalhava, eu quase ia pegando fogo. Encostei minha mão no tacho do fogo, mas ela saiu intacta porque eu gritei 'Santa Bárbara, valei-me'. Graças a Deus, ela me salvou. Por isso, venho sempre agradecer e hoje não foi diferente. Aproveitei ainda para comer uma quentinha, porque deu vontade hoje", frisa.