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Vitor Rocha
Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 17:22
Pague meu filipinho! A expressão é antiga e está relacionada a uma superstição com ‘frutas gêmeas’ como sinal de boa sorte no interior da Bahia. A crença popular ganhou repercussão por conta de um post na plataforma X (antigo Twitter) nesta semana, em que os usuários relataram surpresa ao descobrir o apelido incomum para os frutos.
“Meu namorado me falou que quando duas bananas nascem juntas se chama “Felipe”. Eu obviamente não acreditei, mas é verdade?”, escreveu a autora da publicação. O questionamento gerou muitos significados e brincadeiras entre os internautas.
A pesquisadora em cultura popular Sálua Chequer explicou que a origem do termo vem dos grãos de café, mas, com o tempo, se espalhou para outras frutas, como tomate, pêssego e banana.
Segundo a educadora, ao encontrar um filipinho, o felizardo recebe sorte e pode pedir uma prenda para outra pessoa que, ao cumprir a brincadeira, também vira sortuda. No entanto, caso a pessoa escolhida para realizar a prenda não cumpra a sua parte, a crença tem azar como punição.
“Eu nunca vi alguém passar a fruta para alguém e a pessoa não realizasse a prenda do 'Pague meu Filipinho'. Existia uma crença de que dava azar, a ameaça era essa. Em geral, muitas dessas crenças populares têm esse aspecto punitivo, no sentido de obediência”, afirmou.
Apesar da definição mais comum, o termo pode ter outros significados em diferentes regiões do estado, como demonstrou a doméstica Tânia Alves. Nascida no distrito de Humildes, em Feira de Santana, a trabalhadora de 51 anos contou que, além da tradicional sorte, encontrar um filipinho significava que a pessoa teria filhos gêmeos.
“Toda vez que a gente encontrava uma fruta gêmea na roça, a agonia era por causa dessa questão da gravidez. O pessoal amava encontrar um filipinho em caju, banana, pêssego, todo o tipo de fruta”, relembrou.
Já a ciência possui outra resposta para os filipinhos, conforme apontou o pesquisador Edson Amorim. Líder do do Programa de Melhoramento Genético de Bananeira e Plátano da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Cruz das Almas, ele explicou que, no desenvolvimento da ovário da flor para se transformar em fruto, pode ocorrer este processo de transformar as frutas em ‘siamesas’.
“Quando existem flores femininas muito próximas na penca, os ovários podem ter as paredes fundidas. Dessa forma, quando começam a crescer na formação dos frutos, estes ficam unidos”, disse.