Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Onze vezes campeã: moradora de Brotas se torna boxeadora após sofrer violência doméstica

Renata Gouveia conquistou o campeonato estadual onze vezes e foi finalista de quatro edições do Brasileiro

  • Foto do(a) author(a) Millena Marques
  • Millena Marques

Publicado em 8 de março de 2024 às 06:00

Boxeadora também lidera turmas de boxe na comunidade
Boxeadora também lidera turmas de boxe na comunidade Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Ir contra a maré, ocupar espaços historicamente reservados para homens e fazer a diferença no mundo: mantra de vida carregado por mulheres que ostentam, com excelência e força, histórias inspiradoras e de superação. No Dia da Mulher, o CORREIO reuniu jornadas distintas e encantadoras sobre mulheres que ousaram fazer mais.

Foi usando luvas de boxe que a moradora do bairro Brotas Renata Gouveia, 35 anos, encontrou forças e sentido após ter sido vítima de violência doméstica. Ainda menina, o sonho era ser jogadora profissional de futebol. Entrar nos ringues foi sugestão de um psicólogo, que a acompanhou após o relacionamento abusivo. Hoje, ela ostenta 11 títulos do campeonato baiano da modalidade e ensina mais de 20 crianças, adolescentes e jovens na própria comunidade.

"Não tenho nem palavras para definir o que o boxe significa para a minha vida. Se não fosse o boxe, se não fosse Deus, eu estaria morta. Eu conheci esse esporte e mudei completamente, tanto o meu exterior, mas principalmente o meu interior”, afirma.

A primeira vez que entrou num ringue foi há 12 anos, quando o psicólogo dela sugeriu a prática de esporte após as violências físicas e verbais, num projeto social do bairro de Cosme de Farias. Com apenas quatro meses de treinamento, Gouveia teve sua primeira luta, um amistoso que ficou marcado por ter sido a primeira vitória da boxeadora – o começo de uma jornada brilhante.

De lá para cá, as conquistas foram muitas: 11 vezes campeã baiana, 10 participações em campeonatos nacionais (sendo finalista em quatro edições), cinco vezes campeã Copa Carlinhos Furacão, inúmeros participações em jogos abertos de São Paulo, entre outros.

A caminhada não foi fácil. Primeiro, Renata Gouveia precisava superar um trauma, que não recebeu punição judicial, apenas medidas protetivas, consideradas ineficazes pela vítima. Tudo começou em 2003, quando iniciou um relacionamento com um rapaz de 19 anos – ela tinha 14, na época. O primeiro ano de relação não apresentava pistas do que aconteceria nos próximos cinco anos. “O primeiro ano de namoro foi tudo lindo, só flores”, conta.

As agressões verbais e físicas começaram a partir do segundo ano de relação. De acordo com Gouveia, o agressor a espancava de muitas formas, até mesmo com pedaços de madeira. “Ele me espancava de todas as formas. Eu me escondia da minha família, não tinha coragem de contar para ninguém, até que um dia ele me espancou na rua, na frente de várias pessoas. Foi aqui que tive coragem para sair do relacionamento.”

Renata conta que chegou a denunciar o agressor, mas a única coisa que conseguiu foram as medidas protetivas de distanciamento. “Denunciei várias vezes, mas, infelizmente, não adiantou nada. Ele não foi preso.”

O início da vida de atleta foi complicado. Isso porque, além de ter sido vítima de violência doméstica, Gouveia tinha que conciliar rotina de treinos, viagens para competições e a educação da filha. O suporte veio da mãe, Valda Gouveia, que ficava responsável pela menina. “Não foi e nem é fácil ser atleta, no início foi mais difícil, pois com minha filha pequena tinha que viajar e deixá-la com minha mãe”, conta.

Às vezes, era necessário abdicar de atividades de lazer e oportunidades de emprego por causa da rotina. “Muitas vezes deixava de levar minha filha para passear, deixava de acompanhá-la em apresentações escolares e consultas médicos e outras coisas. Foi necessário também abdicar de dois empregos, porque não consegui conciliar”, pontua.

Além de enfrentar desafios para conciliar as obrigações da rotina, Renata enfrentou comentários misóginos e machistas. “Já sofri preconceitos. As pessoas falam que boxe é para homem, que eu deveria ser modelo. Sempre respondo que sou modelo, mas o ringue é minha passarela.”

Além do boxe, Renata dedica a vida ao trabalho como segurança em camarins de artistas e ainda arranja tempo para cursar o técnico em Segurança do Trabalho. Em Brotas, ela coordena turmas de boxe gratuitas. “Como o esporte me ajudou, eu tenho certeza de que também pode ajudar outras pessoas, não pela mesma situação que eu passei, mas cada qual com uma situação diferente”, conclui.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela