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Larissa Almeida
Publicado em 18 de abril de 2025 às 05:00
Fechada desde janeiro de 2023, a sala principal do Teatro Castro Alves (TCA) integra as obras do Complexo do Teatro Castro Alves que foram orçadas em R$ 260 milhões. As intervenções se encontram na terceira fase desde o ano passado, com um longo prazo de operação e entrega prevista para o primeiro semestre de 2026. A reforma, que tem custo elevado, foi classificada pelo secretário de Cultura Bruno Monteiro como “à altura” do equipamento. >
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (17), durante anúncio das destinações dos recursos da Política Nacional Aldir Blanc, Bruno reconheceu o alto custo das obras. “É uma reforma realmente grande e cara. São R$ 260 milhões pelo menos, mas é compatível com a importância, a dimensão e a responsabilidade que nós temos com aquele equipamento”, disse. >
“Fazia 30 anos que o TCA não passava por um processo de reforma e esta tem parâmetros muito nítidos de restauro, modernização, acessibilidade e garantia da qualidade do equipamento”, completou o secretário. >
O projeto da obra do Complexo do TCA prevê a requalificação integral da arquitetura e da gestão do equipamento, mantendo os valores estéticos e históricos da estrutura existente na proposta original de José Bina Fonyat Filho e Humberto Lemos Lopes. A promessa do governo é de que haverá requalificações na cenotécnica, iluminação, instalações, vestimentas cênicas, poltronas, revestimentos acústicos, reforço estrutural do urdimento e camarins. >
No Foyer estão inclusos o restaurante, cozinha, bilheteria, salas de apoio, loja, terraço, elevador, climatização e estrutura para exposições. Já no interior do prédio principal, de acordo com o projeto, haverá melhorias nas dependências dos corpos artísticos – Balé Teatro Castro Alves (BTCA) e Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) –, nas salas de ensaio polivalentes, espaços administrativos, elevadores e instalações elétricas, hidráulicas e de climatização. >
A requalificação quer adequar o teatro às normas técnicas e acústicas mais atuais, investindo também em tecnologia para a cultura. Diretor-geral do TCA, Moacyr Gramacho explicou, em entrevista ao CORREIO em 2023, que os ruídos externos eram um problema para as apresentações. “Nos últimos anos, o público aprimorou sua audição e isso exige que os espaços tenham uma grande requalificação. Então, a gente vai mexer na acústica, fazendo uma blindagem para reduzir os ruídos externos”, falou.>
A promessa também é de que o terraço ganhe investimentos para que eventos sejam realizados no local. Para isso, o projeto aponta intervenções no sistema de drenagem e impermeabilização do espaço. Por fora, a fachada e o paredão voltado para a Concha Acústica devem receber restauro completo, além de urbanização e paisagismo de pisos, gradis e áreas como o Vão Livre. >
A reportagem procurou a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) para saber qual foi o valor destinado a cada um dos setores de intervenção da obra, mas a assessoria de comunicação informou que não conseguiria atender a demanda. >
Crise na cena teatral >
O tempo de fechamento da sala principal do TCA é proporcional ao período de intensificação da crise na cena teatral. Na última quarta-feira (16), artistas cobraram ao Governo do Estado uma maior atenção ao teatro e um deles chegou a protagonizar um momento de tensão com Bruno Monteiro, durante o encontro da classe artística com representantes do estado, na Sala do Coro. >
O ator Marcos Cristiano, do lado de fora, gritou por “socorro” e repetiu a frase “Estou sendo agredido!”. Na sequência, gritou: "Que governo é este que proíbe o artista de sua livre manifestação? Fui agredido, fui impedido de entrar", disse, enquanto entrava na Sala do Coro. Mais tarde, Marcos explicou que foi impedido de entrar com uma faixa que sinalizava sua insatisfação com a política estadual de incentivo ao teatro, especialmente o teatro de rua. >
Na última semana, uma das principais artistas da cena teatral baiana, Fernanda Paquelet, revelou a insatisfação da classe com a política pública para produção teatral baiana. >
“Eu dialogo com muita gente do meu setor e as queixas vêm, principalmente, pela descontinuidade da política pública. E é muito louco isso na área do Governo do Estado, porque é o mesmo partido político e é totalmente descontinuada a ação. Inclusive, é totalmente descontinuado o perfil de pessoas que assumem a pasta da cultura”, reclamou. >
Fernanda reivindicou uma mudança de gestão. “A gente precisa de uma Secretaria de Cultura que questione a governança, a gente precisa de uma secretaria mais ligada aos interesses da cultura e da arte e não aos interesses da política, porque ela é transitória”, disse a atriz e diretora. >
Para ela, o teatro baiano tem sofrido um desmonte. “A arte precisa de continuidade, ela precisa de constância. Se você tem uma estrutura que, de quatro em quatro anos, começa tudo de novo, desmonta, obviamente que a atuação das pessoas fica prejudicada, a continuidade do trabalho fica prejudicada, você não consegue uma boa formação, a formação é descontinuada”, reiterou.>