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O que está por trás do aumento dos casos de coqueluche na Bahia?

Casos da doença cresceram 800% em um ano no estado

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 17:18

No Brasil, o último pico epidêmico de coqueluche ocorreu em 2014
No Brasil, o último pico epidêmico de coqueluche ocorreu em 2014 Crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A morte de uma bebê de 9 meses por coqueluche, em Teixeira de Freitas, acendeu o alerta para o aumento de casos da doença na Bahia. Em todo o ano passado, foram apenas dois casos confirmados no estado, contra 18 registrados entre janeiro e novembro deste ano - o que representa um aumento de 800%. Para especialistas, a escalada de casos tem relação com a diminuição da cobertura vacinal e o próprio ciclo da coqueluche.

A Bahia não tinha óbitos pela doença há cinco anos. A bebê que morreu no dia 12 de novembro, na cidade de Teixeira de Freitas, não tinha registro de vacinação para a coqueluche. Outros óbitos de bebês menores de 2 anos foram identificados no país em 2024.

Em Minas Gerais, onde uma morte foi registrada em agosto, a vítima tinha 1 ano e 23 dias. Um caso também foi identificado no Paraná - o bebê tinha 3 meses. Três mortes em menores de 6 meses também foram registradas no Rio de Janeiro. Os casos de coqueluche costumam ser mais graves em crianças, que devem se vacinar com cinco doses do imunizante entre os 2 meses até os 7 anos de idade.

Desde maio, o Ministério da Saúde (MS) faz alertas sobre a tendência de aumento de casos no país. Uma nota técnica produzida pela pasta chamava atenção para o surto de coqueluche em países da Ásia e Europa e recomendava a ampliação da vacinação. Além de crianças, gestantes e profissionais da saúde, que atuam no atendimento a grávidas e recém-nascidos, devem se vacinar.

A infectologista pediátrica Anne Galastri explica que a vacinação das gestantes é tão importante quanto a imunização das crianças. Como os bebês só podem ser imunizados a partir dos 2 meses de vida, são as mães que garantem a proteção dos filhos.

“O principal meio de bloquear novos casos é com a vacinação. Toda gestante, a partir das 20 semanas de gestação, precisa tomar a vacina contra a coqueluche para passar os anticorpos para o bebê”, diz a médica, que integra o departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Na Bahia, a cobertura vacinal para gestantes é de 82,96%. A meta do Ministério da Saúde é de 95%.

Aumento de casos 

A coqueluche é uma doença infecciosa respiratória bacteriana que tem como principal característica a ocorrência de crises de tosse seca e intensa.

A transmissão ocorre, principalmente, por meio de gotículas de saliva expelidas por tosse, espirro ou fala. Os sintomas da coqueluche, inicialmente, são semelhantes aos de um resfriado comum. O tratamento é feito com antibióticos. Em caso de tosse persistente por mais de 48 horas, os pacientes devem receber atendimento médico. 

No boletim sobre casos de coqueluche na Bahia, em setembro deste ano, a Secretaria de Saúde do Estado chamou atenção para a diminuição da cobertura vacinal. “Apesar da importância da imunização, a análise da cobertura vacinal dos imunobiológicos utilizados para prevenção da coqueluche em menores de 1 ano revelou uma situação preocupante com o registro de queda nos anos da pandemia da covid-19, principalmente no ano de 2021”, pontuou.

A cobertura da vacina para crianças de até 1 ano é de 85,57% na Bahia, segundo o Ministério da Saúde. Para o infectologista Victor Castro Lima, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o aumento de casos tem relação com a adesão à vacinação.

“Observamos uma redução na adesão às vacinas do Programa Nacional de Imunização há alguns anos. É muito provável que a ocorrência de casos no Brasil e na Bahia esteja associada a baixa cobertura vacinal”, avalia. A Bahia teve 15, 12 e 19 casos confirmados de coqueluche em 2020, 2021 e 2022, respectivamente.

A médica Anne Galastri ressalta ainda que, para além da questão vacinal, a coqueluche tem aspecto cíclico. “São esperados pequenos surtos da doença a cada cinco anos. Quando temos uma população com menores taxas de vacinação, os riscos aumentam”, explica.

O Ministério da Saúde justifica que o aumento de casos em 2024 deve-se ao reforço da vigilância e diagnóstico no país. "Durante a pandemia, os casos diminuíram significativamente devido ao distanciamento social", diz a pasta.