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Larissa Almeida
Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 17:46
A morte de uma mulher de 40 anos enquanto fazia um exercício dentro de uma academia no município de Santo Estêvão, no centro-norte baiano, foi provocada por um mal súbito. O caso ocorreu na última segunda-feira (17) e chamou atenção pela rapidez com que tudo aconteceu. Imagens da câmera de segurança mostram quando Francineide Pereira Soares usa a cadeira extensora, aparelho para fortalecer o quadríceps, e passa mal. A velocidade dos acontecimentos, no entanto, é comum ao evento, segundo especialista. >
Por definição, o mal súbito é um evento inesperado. Não há sinais prévios a ponto de dar tempo ser atendido antes de acontecer, mas há como detectar na hora que acontece e evitar a morte súbita – ela geralmente acontece em até 24 horas após o aparecimento do mal-estar. >
De acordo com o médico cardiologista Luiz Ritt, a condição normalmente surge acompanhado da perda de consciência. Ele aponta que, quando alguém se encontra inconsciente inesperadamente, é preciso considerar a possibilidade de que ela esteja sofrendo uma parada cardíaca. >
O primeiro sinal é a queda abrupta, como aconteceu com Francineide na academia, que se inclinou na cadeira extensora, colocou a mão na cabeça e, em seguida, desmaiou. O médico alerta que isso é muito suscetível de ocorrer também com atletas de futebol. Quando a queda ocorre sem que eles tenham tido contato ou choque com outra pessoa durante a partida, é preciso agir ainda mais rápido. A busca por ajuda, no entanto, vale para qualquer pessoa encontrada nessa circunstância. >
“É preciso iniciar as manobras de ressuscitação cardíaca, chamar o Samu (192) e, se estiver em um local com desfibrilador, uma pessoa com treinamento básico pode fazer o uso desse aparelho. Se for feito tudo corretamente, tudo isso pode mesmo salvar uma vida”, diz Luiz Ritt. >
Outros sinais para identificação do mal súbito são: dor no peito, falta de ar, dificuldade para falar ou compreender a linguagem, fraqueza, tonturas, palpitações, desmaio, paralisia do rosto e da perna num dos lados do corpo, perda ou obscurecimento da visão, perda do equilíbrio ou coordenação e dor de cabeça intensa. >
Após um minuto, a cada minuto sem adoção de medidas para ressuscitação cardíaca, as chances de recuperação caem 10%. “Depois de até 10 minutos sem um adequado cuidado, as chances de recuperação são quase nulas. Às vezes, o paciente pode até recuperar, mas pode haver sequelas. Por isso, é importante que se tenha um reconhecimento e cuidado imediatos”, frisa. >
O mal súbito pode acometer qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo ou estilo de vida. No entanto, alguns grupos estão mais suscetíveis ao evento. Eles são compostos por: >
1) Pessoas que já tenham tido algum problema de coração >
“Pode ser um indivíduo que tem uma cardiopatia, que é um coração crescido, que tenha uma insuficiência cardíaca ou que já tenha tido infarto e tenha uma cicatriz no coração. Existem também algumas alterações geneticamente determinadas nos corações que podem estar relacionadas a maior chance de arritmias e, por conseguinte, de um mal súbito”, afirma Luiz Ritt. >
2) Pessoas com histórico familiar de mal súbito >
Pessoas que têm uma história na família de alguém que teve um mal súbito, que morreu subitamente ou que teve um mal súbito e foi ressuscitado precisam fazer exames para poder verificar se têm alguma alteração ou não do coração. Se a resposta for positiva, há chances aumentadas de ter um mal súbito. >
3) Pessoas que usam anabolizantes e outras substâncias que aceleram o coração >
Quem não tem problemas de coração, mas usa substâncias como hormônios e estimulantes, principalmente aqueles que aumentam a frequência cardíaca ou que têm o intuito de elevar o metabolismo, corre risco de sofrer um mal súbito. O mesmo ocorre com pessoas que fazem uso de medicação de forma inadequada >
Um fator de risco, segundo o cardiologista, é quando há um estímulo externo diante desse contexto. “Digamos que o indivíduo está tomando um produto hormonal ou uma substância termogênica e ele tem um coração normal. Se ele vai fazer atividade física, se coloca numa intensidade maior, ele pode ter um mal súbito, mesmo com o coração a priori normal”, alerta. >
4) Homens idosos >
Há maior risco de mal súbito acometer homens entre 60 e 70 anos. Nessa faixa etária, 60% dos casos estão relacionados à doença arterial coronariana, ou seja, à obstrução das artérias do coração. >
Os casos de atletas que morreram em decorrência de mal súbito têm chamado atenção nos últimos dias. No Brasil, houve dois casos de destaque. O mais recente é de um atleta de futsal de 27 anos, que faleceu após parar o treino para amarrar o cadarço e passar mal, na última terça-feira (18). Vander Júnio Camilo Mesquita jogava em Minas Gerais e foi detectado com um mal súbito. Há menos de uma semana, o atacante Gabriel Popó, de 26 anos, do XV de Jaú, também morreu de mal súbito no alojamento do time, antes de uma partida de futebol. >
Apesar de não estarem inseridos no grupo de risco, o cardiologista Luiz Ritt afirma que os atletas expostos a exercícios de alto rendimento podem estar mais suscetíveis ao mal súbito, desde que tenham tido uma infecção cardíaca. “Por isso, é importante que quem vai fazer exercícios de alta intensidade façam uma avaliação cardiovascular mais pormenorizada, principalmente aquele que tenha alguma história familiar”, orienta. >
Quem faz atividade física de maior intensidade e começa a perceber alguns sintomas diferentes, como queda de rendimento e mal-estar durante um exercício, também precisa fazer uma avaliação. O especialista destaca que em pessoas com menos de 35 anos, as causas mais prováveis – apesar de raras – de mal súbito são as genéticas. Acima de 35 anos, as causas costumam estar mais relacionadas a infartos e problemas de coração. >