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'O diagnóstico é isso: aprender a amar'

Há três anos, Tatiane Souza recebeu o diagnóstico de autismo nível 2 para nível 3 suporte do filho Nairobi Souza

  • Foto do(a) author(a) Elaine Sanoli
  • Elaine Sanoli

Publicado em 19 de março de 2025 às 06:00

Tatiane e Nairobi Souza
Tatiane e Nairobi Souza Crédito: Acervo Pessoal

Há três anos, Tatiane Souza recebeu o diagnóstico de autismo nível 2 para nível 3 suporte do filho Nairobi Souza, de 6 anos. Elétrico, inteligente e com muito cabelo, como ele mesmo faz questão de caracterizar, o pequeno demonstrava postura nervosa, com traços de agressividade e a fala limitada quando ela decidiu ir atrás de especialistas para entender o seu comportamento. De lá para cá, a cada dia ela aprende um pouco mais sobre o universo que é seu filho. A trajetória dos dois é envolvida de afeto, atenção e sobretudo compreensão. 

"Me renovou, me mudou completamente. Eu me tornei outra pessoa com o diagnóstico do meu filho. Eu lembro de uma situação muito marcante: quando eu ia brigar com ele em alguma situação ou chamar atenção, falava em um tom de voz muito tranquilo e ele ria da minha cara, como se eu não tivesse autoridade de mãe, mas na verdade eu não sabia como falar com ele, não sabia que eu teria que mudar o meu tom de voz e minha expressão facial, porque ele não entendia que eu estava reclamando com ele.

Para mim foi um divisor de águas poder compreender o meu filho, saber como respeitá-lo, entender porque ele fica desregulado, reconhecer situações que o deixam estressado. O diagnóstico é isso: aprender a amar. Outras mães podem falar 'Eu te amo' e seu filho responder 'Eu te amo' de volta. Às vezes a gente só ama e faz. Ele não entende e não vai responder da mesma forma. É o amor que é diferente."

Tatiane e Nairobi Souza
Tatiane e Nairobi Souza Crédito: Acervo Pessoal

"Como é o meu primeiro e único filho, tem coisas que eu acabava achando que eram normais, por não saber a diferença de uma criança para outra. Quando ele tinha dois anos, teve a poda neural, uma regressão muito grande. Os alimentos aos quais já era acostumado, ele parou de comer. No autismo, durante as podas neurais, você pode perder habilidades, recupera-las ou não, mas você as perde. Nessa perda, foi o período em que a gente percebeu os traços dele."

"Foi um choque no período do diagnóstico. É um período muito dolorido, a gente chama de período de luto. Quando eu recebi o diagnóstico dele, eu parei e entendi que meu filho estava em sofrimento, que eu não compreendia quem era o meu filho e quais são as necessidades dele. Eu engoli de imediato para correr atrás, porque eu achava que o principal era ele estar bem. Corri atrás do corri atrás das terapias, senti muita dificuldade com isso, tanto que fui idealizadora de uma ação coletiva com 40 mães na Defensoria Pública, para conseguir o diagnóstico dele e a partir desse momento eu sou idealizadora de um projeto chamado 'Atipicidades' no Centro Palmares, o qual sou presidente".

"Eu sempre quis um filho independente, que pudesse fazer as suas escolhas e correr atrás dos objetivos. Quando veio o diagnóstico eu pensei que esse sonho nunca seria realizado, mas hoje eu vejo uma criança que tem suas escolhas. Outro dia ele queria ir com uma roupa para um lugar, eu falei: 'Meu filho, mas essa roupa está muito feia'. E ele foi ficando irritado, dizendo: 'Não, mamãe, mas eu quero ir com essa roupa'. Eu parei e perguntei para ele: 'Você prefere estar feio e feliz ou estar bem arrumado e triste?'. Ele respondeu: 'Feio e feliz'. Ele tem suas escolhas e independência. Eu achei muito engraçado, mas é o jeitinho dele.

Ano passado, ele fez a primeira viagem sem o pai e a mãe para outro estado, foi para casa da avó, passou 10 dias lá. Eu tenho meu filho independente. As limitações dele existem, mas não significa que ele não possa fazer o que ele queira ou que ele não vá correr atrás dos objetivos. A gente cria um medo, uma bolha de proteção, mas às vezes a gente é surpreendido. Deus me deu o filho perfeito, do jeito que eu precisava e sonhava."