Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gil Santos
Publicado em 22 de janeiro de 2024 às 11:39
Faltavam dois dias para o Natal quando o cacique Pataxó Hã-Hã-Hãe Lucas Santos de Oliveira, conhecido como Lucas Kariri-Sapuyá, 31 anos, foi assassinado em Pau Brasil, no Sul da Bahia. Ele foi surpreendido por dois homens em uma moto quando chegava na aldeia, em 21 de dezembro de 2023. Lucas foi o sexto indígena morto naquele ano. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2022 inteiro, foram registradas três mortes, o que revela que o número de vítimas dobrou. >
O caso mais recente aconteceu no domingo (21), quando a indígena Maria de Fátima Muniz de Andrade, a Nega Pataxó, foi assassinada durante um conflito de terra em Potiraguá, no Sul da Bahia. O irmão dela, cacique Nailton Muniz foi atingido no rim e passou por cirurgia no Hospital Cristo Redentor, em Itapetinga. Eles foram baleados durante uma ação de fazendeiros para retomar a posse das terras. >
A ação chamou a atenção do governo federal e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, vai visitar a região nesta segunda-feira (22), mas essa não é a primeira vez que a Bahia atrai os holofotes por conta da violência contra os povos originários. Segundo o levantamento feito pelo CPT, em 2022, foram registrados 211 conflitos no campo no estado, o que inclui indígenas, quilombolas e movimentos organizados, como o MST. Três indígenas foram assassinados. >
O dado colocou a Bahia na terceira posição no ranking dos estados com mais conflitos no campo, atrás apenas do Maranhão (225) e do Pará (236). Naquele ano, o Pataxó Dênis Kawhã Santos da Cruz, 16 anos, foi encontrado morto com sinais de espancamento em uma praia em Santa Cruz Cabrália. Ele foi retirado de uma festa e assassinado. A polícia suspeita de rixa entre bairros. O caso teve repercussão nacional. >
Seis ocorrências>
Os dados do CPT mostram uma escalada na violência no campo em todo o país desde 2014. No ano passado, foram registrados 973 conflitos, representando um aumento de 8% em relação ao mesmo período de 2022, quando foram registrados 900 ocorrências. Este dado fez o primeiro semestre de 2023 fica em 2º lugar nos últimos 10 anos, sendo superado apenas pelo ano de 2020, quando foram registrados 1.007 conflitos.>
Em janeiro de 2023, os Pataxós Samuel Cristiano do Amor Divino, 21, e Nauí Brito de Jesus, 16, foram mortos a tiros no km 787, quando estavam a caminho de uma das fazendas ocupadas por um grupo indígena no processo de retomada de território pelos povos Pataxós, em Itabela. Em abril, o Pataxó Hã-hã-hãe Daniel de Sousa Santos, 17 anos, foi morto dentro de uma área de reserva, também em Pau Brasil. >
Em setembro de 2022, o Pataxó Gustavo Silva da Conceição, 14, foi assassinado com um tiro na cabeça após ataque de pistoleiros a uma aldeia no território indígena Comexatiba, em Prado. Segundo testemunhas, pelo menos cinco homens armados com armas calibre 12, 32, fuzil ponto 40 e bomba de gás lacrimogêneo invadiram o local. Outro adolescente foi atingido com um tiro no braço e outro de raspão.>
A quinta vítima foi uma mulher da etnia Pataxó Hã hã hãe, assassinada em uma estrada que liga Pau Brasil a Itaju do Colônia, em outubro. A suspeita da polícia era de que o crime tivesse relação com o tráfico de drogas. E o último caso foi o de Lucas Kariri-Sapuyá, morto dias ante do Natal. >