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Gil Santos
Publicado em 22 de agosto de 2024 às 11:33
A população da Bahia está envelhecendo mais rápido que as de outros estados. Um cálculo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) revelou que nos próximos anos os idosos vão duplicar no estado. Até 2070, serão mais 2,8 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, além das que já existem. Especialistas atribuem a mudança à queda no número de nascimento de bebês, ao crescimento da migração da população jovem para outros estados e ao aumento da longevidade e da esperança de vida.
Os cálculos apontam que, entre 2024 e 2070, haverá diminuição no número de pessoas em todas as idades até 53 anos. Atualmente, existem 2.310.505 idosos na Bahia. A projeção do IBGE é de que ocorra crescimento de 123,8% e que o estado chegue, em 2070, com 5.171.132 pessoas com 60 anos ou mais (40,3% da população). Será o segundo maior contingente de idosos por proporção do país, atrás apenas do Distrito Federal, com 40,4%. Já a quantidade de crianças e de adolescentes deve cair pela metade.
O Brasil tem uma legislação específica para proteger os direitos da população idosa, mas o Estatuto do Idoso esbarra em dificuldades do dia a dia. A costureira Nilzete Souza, 66 anos, questiona se a sociedade está preparada para essa mudança no perfil etário da população e citou o exemplo da mãe dela, uma senhora de 89 anos, que frequentemente encontra barreiras para ter acesso a direitos básicos.
"A gente sabe que a lei diz que temos direito a prioridade nas filas e assentos reservados no transporte público, por exemplo, mas nem sempre isso é respeitado. Há uns dois meses tive que discutir com uma jovem para minha mãe poder sentar no metrô. As pessoas não entendem que o idoso tem o tempo dele. Ele é mais lento, sim, porque é uma pessoa idosa. A sociedade precisa se educar", disse.
A dificuldade de acesso aos serviços de saúde, a falta de acessibilidade, de atividades de lazer e de oportunidades no mercado de trabalho são outros problemas citados. A supervisora do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, explica que os cálculos foram baseados nos números de nascimentos, de migração e de mortes. Foram usados dados do Censo Demográfico de 2022, de cartórios, do Ministério da Saúde e de imigração. Os especialistas fazem as projeções a partir do cruzamento dessas informações.
"Demograficamente temos nascimentos, mortes e migração contribuindo para que a população da Bahia se torne mais envelhecida. Temos, por exemplo, o aumento da esperança de vida ao nascer e da esperança de vida dos idosos. A esperança de vida ao nascer terá um ganho de 8 anos, entre 2024 e 2070, e para os homens será ainda maior, de 9 anos", explicou.
Hoje, a projeção é de que quem tem 60 anos deve viver mais 22,9 anos, ou seja, pode chegar quase aos 83 anos. Entre 2024 e 2070 essa expectativa de vida vai aumentar. Alguém que tenha 60 anos, em 2070, terá a esperança de viver mais 26,6 anos, ou seja, ir até quase os 87 anos.
Outros dois pontos levantados pela supervisora que contribuem para o envelhecimento é que, desde 2010, a Bahia tem registrado queda no número de nascimento. A projeção é que a partir de 2035 a população comece a encolher e reduza em 13,7% até 2070. A segunda questão é a migração. Historicamente, a população jovem deixa a Bahia e vai buscar oportunidades de trabalho e de estudo em outros estados ou países.
Impactos
Para o economista, doutor em Ciências Sociais e professor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU) da Unifacs, Laumar Neves, o envelhecimento da população terá impactos diretos sobre a economia, a organização social e os serviços públicos.
"Estamos passando por um processo de transição demográfica e perdendo o status de ser um país de jovens. A questão da Previdência é o primeiro ponto a ser observado. Teremos mais pessoas dependendo dos benefícios previdenciários [aposentadorias e pensões] e menos pessoas contribuindo. O segundo ponto é que idosos precisam de mais cuidados médicos, o que vai gerar uma pressão maior sobre o sistema de saúde", explicou o professor.
Ele frisou que o mercado de trabalho também será afetado por essa mudança demográfica, já que a idade média da população vai aumentar, e disse que as empresas terão que rever critérios que hoje excluem profissionais do mercado por conta da idade. Por fim, o professor destacou que o envelhecimento vai exigir também um reposicionamento social quanto ao papel da pessoa idosa na sociedade. "Vivemos em uma sociedade onde o bom e o belo é apenas o novo. Vamos ter que repensar", disse.