Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Raquel Brito
Publicado em 6 de maio de 2024 às 16:10
O tenente-coronel Roberto Castro foi a primeira testemunha a ser ouvida no turno da tarde no júri popular dos acusados de matar o menino Joel em 2011. O militar conheceu um dos julgados, o tenente Alexinaldo Santana Souza, em 2021, e trabalhou com ele por dois anos e quatro meses, em Santo Amaro. Nesse período, a testemunha garante não ter tomado conhecimento de reclamações sobre a conduta do PM. Eraldo Menezes de Souza é o outro PM julgado no caso.
Alexinaldo foi denunciado pelo Ministério Público porque estava no comando da operação. Já Eraldo responde por ter saído da arma dele o tiro que matou Joel.
“Ele era responsável, cumpridor das obrigações, proativo, sempre disposto a ajudar e fazer o seu melhor. Tivemos momentos de dificuldade, até pela pandemia, e ele sempre querendo ajudar”, afirmou.
Advogado de defesa, Vivaldo Amaral perguntou se Castro tinha conhecimento do envolvimento de Alexinaldo na morte do menino Joel quando os dois se conheceram. “Nós não conversamos em detalhes, mas eu perguntei por que motivo ele ainda era tenente, e ele me disse que respondia a um processo penal", esclareceu.
A testemunha também foi questionada por uma das assistentes de defesa sobre o estado emocional dos policiais durante conflitos. “É uma mistura de todos os sentimentos. Claro que tem o medo, tem a ansiedade para não ocorrer nada errado. A limitação do tempo para tomar decisões é um fator decisivo também. É um misto de emoções”, iniciou.
“A gente procura calcular para que a coisa não fuja do ‘script’, para que transcorra sempre dentro do planejado, mas é muito difícil, porque as variáveis sempre são muitas”, acrescentou, ao ser perguntado se os movimentos dos agentes são calculados durante as operações.
Outro questionamento, também feito pelos advogados de defesa, foi sobre o que se passa na cabeça dos policiais quando se enxergam nas barras da justiça após trocas de tiros em operações.
“É uma sensação muito ruim, a gente se sente desmotivado, muitas vezes acontece de um policial pedir para se afastar da atividade operacional por conta desse tipo de problema. É comum acontecer e isso gera, no mínimo, uma inquietação muito grande”, respondeu.
O Ministério Público também sabatinou Roberto. Uma das perguntas diz respeito à súplica de apoio do pai do menino para a corporação após o filho ser baleado e a resposta dos policiais ter sido “o tiro veio de lá”, dando a entender que não seria responsabilidade deles.
A testemunha respondeu que o protocolo, nestes casos, é preservar a vida e prestar socorro.
Em outro momento, o representante do MP quis saber as providências internas da própria PM para convalescer e acabar com a necropolítica da instituição.
“Toda operação é precedida por um briefing, onde se planeja o que vai acontecer. No final, normalmente acontece o debriefing, onde avaliamos o que aconteceu”, respondeu.
Para compor o júri, foram escolhidos cinco homens e duas mulheres. Além deles, foram convocadas outras 14 testemunhas - quatro de acusação e 10 de defesa, sendo cinco de cada réu.