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Priscila Natividade
Publicado em 3 de novembro de 2024 às 15:57
A aposentada Maria José de Queiroz, 62 anos, saiu cedo de casa, no Matatu de Brotas. Não queria correr nenhum risco de se atrasar. Pediu um Uber para se dirigir até o local da prova, na Federação. No caminho foi surpreendida quando o motorista a perguntou o que ela ia fazer lá, se já era formada e já tinha se aposentado: "De uma forma muito etarista e preconceituosa, ele alegou que Enem era para gente jovem e eu estava tirando uma vaga que poderia ser da filha dele. Isso só meu deu mais vontade ainda de fazer o exame. Não é porque eu tenho essa idade que não posso fazer o Enem. Disse a ele que todos tinham o direito e que nada me impediria de exercer o meu. Já sou formada em Pedagogia e Ciências Contábeis, tenho duas pós-graduações, trabalhei 34 anos na rede municipal de ensino. Meu sonho agora é ser psicóloga", contou.
Maria José é um dos 449.528 candidatos inscritos na Bahia que devem comparecer ao primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Neste domingo (3), em todo país, os mais de 4,3 milhões de inscritos confirmados vão testar os conhecimentos em 45 questões de múltipla escolha de linguagens (língua portuguesa, literatura, língua estrangeira, artes, educação física e tecnologias da informação e comunicação) e mais 45 questões de ciências humanas (história, geografia, filosofia e sociologia), além da prova de redação, que deve ter entre sete e 30 linhas.
A futura psicóloga montou até um grupo de estudos para se preparar para o exame, logo após ter feito a inscrição que ganhou de presente de uma amiga. "Quero ser psicóloga para acolher as pessoas. A pandemia deixou muita gente que precisa amar mais o próximo, se amar mais. E eu quero muito ajudar nesse sentido. Se eu for aprovada, vou trabalhar um ano sem cobrar nada a ninguém. Agora é só fazer a prova", garantiu Maria José, que ia fazer o exame na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Ufba.
Muita gente, no entanto, deixou para chegar após as 11h nos locais de prova. O CORREIO rodou, pelo menos, quatro instituições onde o movimento passou a ser maior faltando 1h para a abertura dos portões. Na Escola Politécnica da Ufba, no entanto, um pouco antes das 10h, a primeira estudante já tinha chegado para realizar a prova.
Disposta a tentar uma vaga para o curso de Medicina, essa é a primeira vez que Stephanie Couto, 16 anos, vai fazer o exame. "Eu estou nervosa, preferi vim logo. A redação é sempre um vilão para mim. Mas sempre tento relaxar. Passei a tarde estudando e depois assisti um filme".
Aluna do Colégio Anchieta, ela acredita que o tema da redação vai ter algo a ver com etarismo. "Estava conversando com meus amigos sobre essas apostas e foi meio que unânime, a gente achar que o tema pode ser esse".
Desafio
Na porta do Colégio Central, as amigas Samara Vieira e Camilly Victória, de 18 anos, trouxeram o que puderam de casa na mochila para enfrentar as 5h e meia de prova: "Eu trouxe quatro sanduíches, salgadinho, bala, refrigerante, bolo. Eu só não trouxe a marmita do almoço porque fiquei com medo de estragar", disse Camilly, que quer fazer o curso de Direito.
Samara apostou nas pesquisas que fez no TikTok: "Eu vi um vídeo que dizia que chiclete ajudava na memória e amendoim dava energia. Trouxe os dois. Mas também tenho água e chocolate. Quando eu fico nervosa, gosto de mastigar as coisas para não começar a roer as unhas que acabei de fazer".
A estudante, que tenta uma vaga para psicologia, também pesquisou nas redes sociais qual poderia ser o tema da redação - motivo maior do seu nervosismo. "Um vídeo que vi no TikTok de uma mulher que jogou o tarô cigano dizia que ia dar sistema carcerário no tema da redação. Mas a verdade é que eu estou com medo da prova toda. Quando me inscrevi, estava bem focada, mas tive que conciliar os estudos com o curso técnico em estética que estou fazendo e aí fica complicado equilibrar".
Bruna Vitória, 24 anos, tenta o Enem pela quarta vez a fim de cursar medicina - curso que ela até chegou a iniciar em uma faculdade particular, mas não conseguiu sustentar o peso do valor da mensalidade. "Fiquei três semestres, mas não deu para segurar e voltei para fazer o Enem. Foram seis meses de muita renúncia, estudando de oito a nove horas por dia, fazendo simulados e ainda trabalhando ao mesmo tempo".
Antes de chegar para fazer a prova, na véspera, Bruna já tinha escrito três redações durante o sábado. "Até ontem ainda estava estudando. O que o vestibulando reclama muito é que a gente chega na 20ª questão exausto. Treinei muito também para esse desafio até porque tenho ansiedade. O Enem é uma prova de resistência", afirmou.
Uma das primeiras a entrar no Colégio Central assim que os portões foram liberados, Mariana Correia, 18 anos, tenta uma vaga para Ciências Biológicas. "Eu sinto que não me preparei o suficiente, mas acho que estudei o que consegui. Nessa reta final dei um gás maior. Passei a semana bem nervosa, mas agora estou tentando ficar tranquila".
O segundo dia de provas acontece no próximo domingo (10). O caderno de provas é composto por 90 questões objetivas de ciências da natureza - química, física e biologia - e matemática. Os gabaritos oficiais do Enem 2024 serão divulgados no dia 20 de novembro, e o resultado final será publicado em 13 de janeiro de 2025.