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Maysa Polcri
Publicado em 11 de setembro de 2023 às 05:10
Em meio aos braços pintados de branco, fitas do Senhor do Bonfim amarradas nos pulsos e as dezenas de selfies em pontos turísticos, o sentimento de insegurança também marca as viagens de turistas que visitam Salvador. As notícias sobre tiroteios na capital e as mortes de 11 pessoas em quatro dias rodaram o Brasil, o que acendeu o alerta para quem vem de fora do estado. Evitar sair à noite e andar desacompanhado na rua, além de pesquisar antes de visitar certos bairros são algumas das medidas de precaução tomadas por turistas que passaram o feriado prolongado na cidade.
A professora Isabela Galindo, 46, é de Alagoas e veio com o marido acompanhar a filha que participou de um torneio de ginástica rítmica, em Lauro de Freitas. Antes de chegar ao aeroporto, ela já estava ciente dos episódios de violência que aconteceram na capital durante a semana. As notícias que apareceram em telejornais nacionais amedrontaram a família, que evitou fazer passeios durante a noite durante a viagem.
“É uma pena ver que uma cidade tão bonita tem esses problemas de violência. A gente ficou com medo e estamos evitando sair à noite, a sensação é de que não conseguimos relaxar”, contou. Isabela e o marido passeavam no Pelourinho na manhã de sexta-feira (8). Um dos pontos turísticos mais famosos de Salvador estava tomado por grupos de turistas, que acompanhavam encantados cada ponto visitado.
Juliana Miranda, turista carioca, conta que no voo de vinda para Salvador já foi bombardeada de informações sobre a insegurança da capital baiana. “Uma pessoa que sentou do meu lado disse que ‘pelo amor de Deus’ eu tomasse cuidado. Também ouvi muitas comparações de que aqui está se tornando um Rio de Janeiro”, revelou. Juliana, que viaja com a amiga Poliane de Andrade, contou que evita usar o celular na rua e andar com correntes para não chamar atenção.
Mais do que uma sensação, o receio de turistas em virem para a capital baiana provocou cancelamentos de reservas e adiamentos de viagens. “Houveram cancelamentos, mas o percentual não atingiu nem 5% do nosso receptivo. A Abav enxerga que o trabalho de segurança deve ser pontual porque temos mais quatro feriados até o final do ano”, afirma Jorge Pinto, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (Abav). O cancelamento de viagens compradas através da 123 Milhas também contribui para a diminuição de viagens.
Gegê Magalhães, diretor de turismo da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), vê com preocupação os episódios violentos, mas garante que a segurança está reforçada nos pontos turísticos da capital. “Estamos buscando soluções juntos ao Governo do Estado em prol dos problemas da população e dos visitantes. Temos reforço da Polícia Militar nos pontos turísticos e a Guarda Civil Municipal vem apoiando todos os lugares turísticos da cidade”, diz. Mais 100 agentes estão sendo treinados e devem reforçar a guarda municipal até o final deste ano.
Apesar de não ser a primeira vez do publicitário Davi Gomes em Salvador, ele conta que ter ouvido relatos em Fortaleza, onde mora, sobre a insegurança da capital baiana, foi uma novidade. “Eu postei fotos aqui e uma amiga perguntou se eu tinha vindo para Salvador e como estava a segurança por aqui”, conta. Apesar disso, o receio não foi motivo para deixar de visitar pontos turísticos com os dois amigos que o acompanham na viagem.
Entre os turistas que conversaram com a reportagem, os que moram no Nordeste relataram que a insegurança já faz parte do cotidiano de outras cidades e, por isso, não assusta tanto. É o caso de Paulo Monte, de 39 anos. Morador de Fortaleza, assim como Davi, Paulo veio para Salvador acompanhar um time de futebol que participou de um campeonato.
Mesmo acostumado com a violência de onde mora, ele conta que a comissão técnica do time orientou que os jogadores não saíssem à noite antes da partida. “A gente pediu para que eles não saíssem durante a noite, especialmente sozinhos, para não correr nenhum tipo de risco”, afirma.
O medo de assaltos e furtos também preocupam os turistas que frequentam a cidade. O mesmo receio que atinge moradores da cidade, também recai sobre os turistas. O Rio Vermelho, bairro boêmio da cidade e querido dos viajantes, enfrenta uma onda de violência com aumento de 50% no número de roubos.
No dia 1º deste mês, um casal de turistas de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, foi assaltado por três homens nas proximidades do Largo de Santana, por volta de 1 hora da manha. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais o turista chegou a afirmar que “a cidade é linda, mas a segurança é zero”. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, secção Bahia, foi procurada, mas não respondeu os questionamentos sobre o impacto da violência no comércio.
“A divulgação de manchetes de violência na televisão, infelizmente, recai sobre a vinda de turistas para a cidade. Os turistas estão cancelando as viagens para cá”, afirma Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (Fetur). Diante do cenário de preocupação, integrantes do trade turístico cobram ações efetivas para conter a violência em Salvador.
“Nós não podemos ter a imagem da nossa cidade comprometida com esvaziamento de turistas e baianos, comprometendo o trabalho do segmento de turismo”, pontua Jorge Pinto, vice-presidente da Abav. Durante o desfile do 7 de Setembro, o governador Jerônimo Rodrigues (PT), falou sobre os tiroteios que ocorreram em localidades como Alto das Pombas, Calabar e Engenho Velho de Brotas e negou que haverá intervenção da União na segurança do Estado. “Estamos fazendo parceria com a Polícia Federal, tanto na inteligência, como nas operações feitas. Mas, por enquanto, não há dúvidas de que não precisamos de intervenção federal”, disse o governador.
Na sexta-feira (8), a ocupação hoteleira de Salvador estava em 76%, mas a expectativa era que a taxa aumentasse durante o final de semana. Os hotéis localizados na orla, em bairros como Stella Maris, Itapuã e Barra eram os que tinham as maiores ocupações, acima de 91%. Nem todos concordam com o impacto da insegurança na chegada de turistas na capital baiana. Silvana Rós, vice-presidente da Federação Nacional dos Guias de Turismo (Fenagtur), é um exemplo disso. “Estou com 140 clientes atualmente e todos os grupos que estavam agendados vieram. Não recebi nenhum tipo de insatisfação, desistência ou comentário”, diz.