Na Bahia, ninguém viajou em oito de cada 10 residências; renda é o principal entrave

Número de viagens cresceu em dois anos, mas ainda não atinge patamar pré-pandemia

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Publicado em 13 de setembro de 2024 às 13:15

Adolescente viajando no aeroporto de Salvador
Falta de dinheiro cresceu como motivo para falta de viagens no estado  Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Era tradição na família: bastava passar o Carnaval, que os parentes começavam a planejar qual seria o destino da viagem no meio do ano. Foi nesse contexto que a psicóloga Marina Bastos, 26, cresceu. Mas, a partir da pandemia, as férias ficaram diferentes, com menos viagens para fora da Bahia e feitas de carro. Tudo para economizar. A realidade é compartilhada por muitos baianos, que estão viajando mais, porém, sem alcançar o patamar pré-pandemia. Na Bahia, a cada 10 casas, em oito nenhum morador viajou no ano passado. 

A disseminação da covid-19 no Brasil, que teve início em 2020, fez com que as viagens saíssem da lista de prioridades dos baianos. Estabelecimentos não podiam funcionar e havia restrição de circulação em praticamente todos os lugares. Os danos para o setor de turismo foram significativos, mas, no ano passado, a economia começou a dar sinais de melhora para o segmento. 

Entre 2021 e 2023, a proporção de domicílios baianos em que algum morador viajou cresceu de 14% para 20%, chegando a 1,145 milhão. Isso significa que ao menos um morador viajou em uma a cada cinco residências baianas. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira (13), e incluem viagens realizadas dentro do estado. 

Apesar do avanço, o número de residências baianas onde alguém viajou ainda é inferior ao registrado em 2019. Naquele ano, a taxa era de 22,6%. A tendência do estado segue a lógica nacional: 22 estados do Brasil ainda não alcançaram o patamar de antes da pandemia. No país, a proporção ficou em 19,8%, ligeiramente abaixo da verificada em 2019, quando foi 21,8%. 

A falta de dinheiro é o principal obstáculo para aqueles que não viajaram no ano passado, segundo o IBGE. O motivo foi citado em quatro a cada 10 domicílios onde não houveram viagens (41,4%). Para a família de Marina Bastos, essa foi a dificuldade entre 2020 e 2022. "Era um costume da nossa família viajar todos os anos para conhecer algum lugar diferente. Fomos para Minas Gerais, Paraíba, São Paulo, várias cidades. Mas, com a pandemia, a situação financeira apertou, e ficamos sem viajar por três anos", conta.

A psicóloga e os pais voltaram a viajar no ano passado, quando foram para Porto Seguro, no sul baiano. Eles optaram por fazer uma viagem dentro do estado e de carro para economizar. Em 2023, ano em que a pesquisa do IBGE foi realizada, as passagens aéreas acumulavam alta de 41,59% em Salvador. Os bilhetes de ônibus variavam em 10,7% para viagens intermunicipais e 5,25% para viagens entre estados. No caso das hospedagens, a alta era de 18,23%. 

"A questão financeira ainda aparecia como um entrave muito importante para o turismo no ano passado. Há um potencial de crescimento de viagens na Bahia, mas que ainda esbarra no problema de renda", analisa Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informação do IBGE. Em agosto deste ano, os preços das passagens de avião reduziram 40%, em Salvador. A vigens de ônibus intermunicipais tiveram queda de 0,81% e, as entre estados, aumento de 10,5%. 

Se em 2019, 31,4% diziam que não viajavam por falta de dinheiro, em 2023 a taxa cresceu para 41,4%. Além da falta de renda, os baianos citaram como razões para não viajar a ausência de necessidade (25,9%) e não ter tido tempo (11,7%). Para Maurício Bacellar, secretário de Turismo da Bahia, o estado enfrenta duas dificuldades para retomar os números pré-pandemia. 

"Os dois gargalos que enfrentamos ainda estão relacionados aos efeitos da pandemia nos setores de aviação e de cruzeiros. Na aviação, existe falta de aeronaves e falta de peças de reposição, além dos efeitos do dólar. A mesma coisa acontece nos cruzeiros, em que as empresas perderam navios e reduziram suas frotas, na pandemia, além de sofrer com os juros altos", pontua. 

Cresce o gasto médio de viagem para a Bahia 

O gasto médio de viagens com pernoite para a Bahia é o terceiro maior do Brasil, segundo IBGE. A média ficou em R$2.467 no ano passado, um aumento de 27% em relação a 2021, quando havia sido de R$1.941. O estado só fica atrás de gastos médios de viagens para viagens para Alagoas (R$ 3.704) e Pernambuco (R$ 2.683).

Os dados divulgados revelam ainda que o gasto médio diário por pessoas que viajam pela Bahia é de R$277. O valor também aumentou em relação a 2021, quando havia sido de R$231. A média inclui viagens feitas entre cidades da Bahia e viajantes que partiram de outros estados rumo ao território baiano. 

Os meios de transporte mais utilizados por moradores da Bahia para viagens foram carro (41,7%), ônibus de linha (23,1%), van (8%), avião (8,9%), ônibus de excursão (4,7%), motocicleta (2%) e outros (13,7%).