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Movimentação econômica na cidade durante o verão deve chegar a R$ 5,1 bi

Natal no Centro Histórico alcança 400 mil pessoas e Festival da Virada deve receber de 485 mil turistas ao longo dos cinco dias de festa

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 24 de dezembro de 2023 às 07:00

Por conta do aumento do fluxo no Pelourinho, o Restaurante Guarany contratou mais gente e estendeu o horário de funcionamento às quintas e sextas
Por conta do aumento do fluxo no Pelourinho, o Restaurante Guarany contratou mais gente e estendeu o horário de funcionamento às quintas e sextas Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A última quinzena de dezembro é cheia de expectativa para todo mundo: o que vai servir na ceia de natal, aquele check-list nos presentes para não esquecer de ninguém, o fim da reforma em casa para deixar tudo no lugar. Há quem esteja traçando metas com a cabeça já em 2024, comemorando a chegada da segunda parcela do 13º salário ou trabalhando dobrado para aproveitar a época em que as pessoas estão mais dispostas a consumir.

É nesse período também que o motorista por aplicativos e de transfer executivo, Cláudio Sena, consegue aumentar em 50% a renda do mês, diante de toda a movimentação e fluxo que toma conta da cidade. Tem Natal no Pelourinho, turista chegando no aeroporto, contagem regressiva para o Festival da Virada, confraternizações de fim de ano. Onde a notificação do aplicativo apontar uma corrida, Cláudio vai.

“Eu alterno entre aplicativos como o Uber, as corridas agendadas pelo meu app particular e o transfer executivo, com prioridade para este último, por proporcionar um ganho muito melhor. Priorizo os horários de alta demanda no fim de tarde, estendendo até a madrugada. Nesse final de ano é mais comum o transporte para confraternizações, casamentos, aeroporto, jantares. De onde e para onde a pessoa pede, não tem importância para mim, desde que, o local não seja área de risco”, afirma o motorista que chega a fazer entre 18 a 25 viagens por dia.

Em dezembro, a correria é maior, mas o retorno financeiro também. “O motorista precisa ser organizado, fazer contas e aproveitar esse período para se dedicar e estender a jornada diária. Dezembro é mês de faturar mais para ter tranquilidade com os meses seguintes. Esse é um dinheiro extra que ajuda muito a se preparar para despesas como o pagamento do IPVA e na manutenção do carro”, ressalta.

"Dezembro é mês de faturar mais para ter tranquilidade com os meses seguintes. Esse é um dinheiro extra que ajuda muito a se preparar para despesas como o pagamento do IPVA e na manutenção do carro"

Cláudio Sena

motorista
Motorista por aplicativos e de transfer executivo, Cláudio Sena chega a fazer entre 18 a 25 viagens por dia até o Ano Novo
Motorista por aplicativos e de transfer executivo, Cláudio Sena chega a fazer entre 18 a 25 viagens por dia até o Ano Novo Crédito: Ana Albuquerque/ CORREIO

Enquanto Cláudio está levando passageiros de um lado para o outro e aproveitando para tirar uma grana a mais nessa época, a expectativa é que a movimentação econômica em Salvador possa chegar a um montante de R$ 5,1 bilhões durante todo o verão. O volume é 13% maior que o mesmo período de 2023, quando foi registrada uma receita turística de R$ 4,5 bilhões. A estimativa é do Observatório do Turismo de Salvador.

Mais números demostram o potencial do impacto financeiro das festas de final de ano. Ainda de acordo com dados do Observatório, de 6 até 19 de dezembro, a estimativa é de que 400 mil pessoas tenham visitado o Natal no Centro Histórico. Mais de 485 mil turistas devem vir a Salvador neste Ano Novo durante o Festival Virada Salvador. A movimentação econômica também promete, alcançando algo em torno de R$ 524 milhões ao longo dos cinco dias de festa.

Todo esse fluxo fez com que o sócio do Restaurante Guarany, no Cine Glauber Rocha, Joaquim Nery, não só estendesse o horário de funcionamento às quintas e sextas, abrindo mais cedo para o happy hour e pôr do sol, como ainda aumentasse a equipe em 15%.

“A gente sentiu esse crescimento de fluxo por dois motivos: além do aumento natural de confraternizações e comemorações nessa época do ano, temos o benefício de estar numa área turística muito forte. As pessoas têm esse desejo de voltar para o Centro Histórico de Salvador e estamos num local privilegiado, recebendo os clientes com uma vista especial para ele compartilhar desses momentos especiais”.

"A gente sentiu esse crescimento de fluxo por dois motivos: além do aumento natural de confraternizações e comemorações nessa época do ano, temos o benefício de estar numa área turística muito forte "

Joaquim Nery

sócio do Restaurante Guarany

O Natal no Centro Histórico agregou mais em termos de visibilidade. “A retomada do Pelourinho para o soteropolitano fazendo o Centros Histórico funcionar é muito importante. Esse ano, decidimos oferecer também condições especiais para confraternizações, com menus fechados, por exemplo, e abrimos encomendas para a Ceia de Natal, que tivemos uma resposta super positiva do público”, comenta Nery.

Oportunidades

O Natal e o Réveillon acabaram se transformando em vetores econômicos de crescimento para a cidade, além do Carnaval. Para o secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho, tanto o novo calendário natalino, quanto a atração de visitantes que buscam grandes eventos comprovam a importância que o final do ano ganhou para Salvador. Existe um desejo genuíno do turista de estar aqui. A projeção é que 3,4 milhões venham a Salvador neste verão. O esperado é 13% maior na comparação com o verão do ano passado, quando cerca de 3 milhões de turistas visitaram a capital.

“O Natal no Centro Histórico é um movimento novo com a intenção de potencializar e valorizar ainda mais o Pelourinho, tanto para o turista como para o soteropolitano que não costumava frequentar aqui. Tivemos um sucesso absoluto esses dias, muita gente visitando. Ou seja, criamos um novo calendário natalino na cidade, um lugar que as pessoas vêm para o Natal e vivem a cultura de Salvador de uma perspectiva diferente. Já o Réveillon tem a proposta de trazer o turista de festa com uma opção gratuita, que curte esse tipo de celebração e a grade do Festival da Virada é feita exatamente para isso, trazer gente para cá”.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), a expectativa é de que a taxa média de ocupação fique em torno de 72% entre dezembro/2023 e março/2024. Em momentos como os finais de semana e nas festas de Réveillon e no Carnaval, o setor hoteleiro projeta uma ocupação de 100%. O resultado seria 14% superior ao verão de 2023, quando a taxa de ocupação foi de 63,1%.

Dinheiro circulando

E os reflexos desse movimento se mostram ainda em negócios que não estão apenas no entorno de onde esses eventos acontecem. Até mesmo para o varejo que já tem o Natal e o Ano Novo como as melhores datas do ano, essas iniciativas têm fortalecido ainda mais o segmento, como afirma a gerente de Marketing do Shopping Bela Vista, Juliana Brandão.

“São eventos importantes para colocar Salvador como um grande destino natalino e, por consequência, aquece as nossas vendas. Este ano investimos quase 2 milhões, entre decoração, ações e publicidade, e já percebemos um incremento no fluxo de pessoas de mais de 15%”.

"São eventos importantes para colocar Salvador como um grande destino natalino e, por consequência, aquece as nossas vendas"

Juliana Brandão

gerente de Marketing do Shopping Bela Vista

É mais que uma ‘noite feliz’ sim, também para o segmento de bares e restaurantes. Sócio do La Pasta Gialla, na Pituba, Marcelo Reis destaca que em comparação com os outros meses, o acréscimo nas vendas notado até agora representa um aumento de 15% a 20%.

“Esse período de Natal e Réveillon é marcado por muitas confraternizações, entre amigos e familiares e, com isso, acaba aumentando o volume de clientes. Notamos esse acréscimo de faturamento. Criamos um cardápio especial para encomendas, resgatando a memória afetiva dos nossos clientes mais fiéis, que querem nossos sabores em casa num momento tão especial”.

Na Confeitaria CamuCaju, a alta demanda fez a diferença. O confeiteiro e proprietário, Deyvison Araújo, diz que o aumento do faturamento chega a 100% maior comprado com meses anteriores com encomendas para atender a demanda das famílias, mas, inclusive, na oferta de brindes corporativos. Os produtos mais vendidos são os panetones que vão desde ao clássico de frutas desidratas ao de tapioca com coco e kits presentes com espumantes, biscoitos, doces.

“É um período que exige muita dedicação, ampliação do quadro de funcionários, estoque equipado de embalagens e insumos de produção dos alimentos. De fato, é o mês de muito trabalho e de maior faturamento para nossa CamuCaju. Este ano estamos especialmente surpresos, pois desde o início de dezembro estamos produzindo a todo vapor e já com encomendas programadas para todo o mês”, ressalta.

"De fato, é o mês de muito trabalho e de maior faturamento para nossa CamuCaju. Este ano estamos especialmente surpresos, pois desde o início de dezembro estamos produzindo a todo vapor e já com encomendas programadas para todo o mês"

Deyvison Araújo

confeiteiro e proprietário da CamuCaju

Até o ano virar tem muita oportunidade e disposição de consumo para os empreendedores aproveitarem. A Classy The Store, na Pituba, atende na loja física e faz entregas de roupas e acessórios a domicílio. Proprietária da marca, Juliana Nery, compara que a demanda de um mês normal com as vendas de Natal e Réveillon, alcança um crescimento de 88,4% em relação ao faturamento médio mensal.

As festas de Natal e Ano Novo representam um incremento no faturamento de quase 90% na Classy The Store
As festas de Natal e Ano Novo representam um incremento no faturamento de quase 90% na Classy The Store Crédito: Divulgação

“O final de ano bem preparado e estratégico são dias e noites felizes, na verdade. É um volume expressivo e importante que garante a sustentabilidade da empresa em outros meses de menor movimento. Muita gente vem até a loja física porque quer experimentar, ver como fica no corpo, entender material, caimento, principalmente para datas festivas, porém, pelo volume do período, temos muitas entregas por dia, tanto por motoboys, aplicativos de entregas, quanto via Correios para todo o Brasil”.

O aumento do ticket médio (consumo) por cliente é mais um ganho expressivo, como pontua Juliana. As pessoas estão mais dispostas a investir, a economia gira melhor, circulam mais, consomem mais, gastam mais. “O período de final de ano promove um maior volume por compra e o incremento do 13º é mais um recurso que faz a diferença. Visualizamos 52% de aumento do ticket médio por cliente. Além cada cliente comprar mais que o habitual, temos maior fluxo. É uma ótima chance de fidelizar, conquistar novos clientes, ampliar mercado. Uma nova cliente atraída por aquele look de Réveillon, por exemplo, e é bem atendida, se sente incrível na hora da compra e quando usa a peça, volta para as festas de verão, para o carnaval, para o São João e sempre que tiver necessidade. Aumentamos assim não apenas o faturamento, mas o mailing para compras futuras”.

"Visualizamos 52% de aumento do ticket médio por cliente. Além cada cliente comprar mais que o habitual, temos maior fluxo. É uma ótima chance de fidelizar, conquistar novos clientes, ampliar mercado "

Juliana Nery

proprietária da Classy The Store

Retorno

Para o economista Edísio Freire, quanto mais incentivo ao consumo, maior o fomento para a economia local. “É muito mais que só entretenimento e festa. Existe toda uma cadeia de estímulo ao consumo e se a cidade tem eventos que tornam esse potencial mais pujante, a economia se fortalece, a renda cresce e você acaba gerando melhores resultados, tanto para quem vende quanto para as pessoas que moram na região e acabam tendo o reflexo desse desenvolvimento”, analisa.

Tudo isso acaba voltando de forma positiva para a cidade, como acrescenta Freire. “A gente observa que Salvador vem se tornando uma importante opção para passar o Natal e o Ano Novo, sem contar com o tradicional verão e Carnaval. Um comerciante que certamente hoje tem seu estabelecimento na região do Pelourinho, vendeu muito mais do que vendeu ano passado porque não tinha evento antes lá. É um movimento que todo mundo ganha porque você tem mais turismo, mais dinheiro circulando e pessoas consumindo”.