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Morte de Mãe Bernadete: Polícia está à procura de imagens e não descarta nenhuma hipótese, diz delegada

Liderança quilombola foi executada por dois homens na noite de ontem em Simões Filho

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  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Da Redação

  • Wendel de Novais

Publicado em 18 de agosto de 2023 às 13:01

Mãe Bernadete
Mãe Bernadete Crédito: Reprodução

A delegada Andréa Ribeiro, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), disse em coletiva nesta sexta-feira (18) que dois homens estão sendo procurados pela morte de Mãe Bernadete, executada ontem à noite em Simões Filho. A polícia ainda não sabe se há câmeras que podem ajudar na investigação, mas está à procura.

A delegada diz que a Polícia Civil ainda não tem conhecimento sobre o programa de proteção que Mãe Bernadete fazia parte. "Se por ventura ela integrava algum programa de proteção à testemunha isso será trazido aos autos e levado em consideração na investigação".

Ela diz também que a busca de imagens que possam ajudar na investigação é algo rotineiro em casos de homicídio. "Nesse momento não tenho informações que a gente já tem imagens sendo analisadas, mas nossas equipes já estão em busca disso, dessas imagens, desse possível trajeto que foi feito pelos executores. Informação que temos é que o crime teria sido cometido por duas pessoas a bordo de uma motocicleta", explica.

A delegada falou da possibilidade do crime ter ligação com conflitos por terra  - a líder quilombola vinha sofrendo ameaças, segundo advogado da família, por parte de pessoas envolvidas em extração ilegal de madeira. "A gente não descarta essa hipótese, assim como não descarta a hipótese de ameaça, ou outras que possam estar relacionadas à atuação do tráfico de drogas na localidade". Ela também disse que não é possível falar no momento se houve relação do crime com intolerância religiosa.

Ela garantiu que a Polícia Civil está focada na investigação. "A vítima era uma pessoa querida na comunidade. Desempanhava papel importante naquela comunidade quilombola. Infelizmente foi brutalmente assassinada dentro de sua residência, uma senhora de 72 anos. Todos os esforços estão sendo feitos para dar uma resposta o quanto antes".

Mãe Bernadete foi morta com uma arma de calibre 9mm. Ela foi assassinada na presença de familiares.

Ameaças

Mãe Bernadete sofria ameaças constantes. As mais recentes, segundo o advogado da família David Mendez, eram relacionadas à extração ilegal de madeira na área do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, que está em uma Área de Proteção Ambiental (APA).

"As mais recentes ameaças diziam à extração ilegal de madeira. Lá é uma APA e dentre as muitas brigas que Dona Bernadete capitaneava, ela era uma espécie de delegada da comunidade, com autoridade moral. Então ela não deixava que nenhuma bandidagem ou que nada eerrado se criasse. Ela batia de frente com facção criminosa, batia de frente com extração ilegal", disse o advogado.

Ele ressaltou ainda que a líder atuava "no vácuo do poder público". "Caberia a ela esse papel? Uma senhora de 72 anos? Ou caberia à Polícia Militar, Secretaria de Segurança Pública? Porque ela fazia isso no vácuo do poder público", questionou.

Ainda segundo ele, Mãe Bernadete tinha uma medida protetiva,executada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do estado, desde que o filho Flávio Pacífico foi morto em 2017, mas que a segurança tinha falhas. "Só que era uma proteção falaciosa. Como é uma proteção sem polícia militar? Sabe como era a proteção? Uma viatura ia lá em horário indeterminado, às vezes de manhã, às vezes de tarde, e falava: "Oi, dona Bernadete, tudo bem com a senhora?". Uma proteção para inglês ver", reclamou.

Procurada, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos informou que o Governo do Estado segue determinado nas investigações e elucidação do assassinato. Nesta manhã (18), a equipe da SJDH recebeu representantes da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, para alinhar medidas céleres no acompanhamento do caso, conforme determinado pelo governador Jerônimo Rodrigues.

"Mãe Bernadete era atendida pelo Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal, executado na Bahia pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. O PPDDH atua no atendimento e acompanhamento dos casos de risco e ameaça de morte desses defensores/as. As estratégias de proteção, previstas no Programa de Proteção, estavam sendo mantidas para a liderança Bernadete, através do uso de câmeras de monitoramento, instaladas no território, e de rondas policiais permanentes desde 2017. As medidas protetivas do PPDDH são desenvolvidas no próprio território da liderança, com o objetivo de fortalecer a sua atuação e permanência na localidade", diz nota.

O território Quilombo Pitanga dos Palmares é formado por cerca de 290 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. A comunidade tem um histórico complexo de disputas e conflitos fundiários, e é nesse contexto, que o PPDDH atua na adoção de medidas, visando à proteção de defensores que tenham seus direitos ameaçados.