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Morte de babalorixá teria sido “encomendada” por outro pai de santo

Vítima disputava o amor de um rapaz. Tiros foram disparos por um “profissional”, diz família

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 22 de janeiro de 2024 às 05:00

Babalorixá teria morte
Babalorixá teria morte "encomendada" por outro pai de santo Crédito: Reprodução

Durante o adeus, veio à tona uma versão, que pode desvendar o mistério entorno do assassinato do babalorixá Nilton Leal da Conceição, 45 anos, ocorrido bairro do Barbalho, logo após sair da Lavagem do Bonfim. Foi no enterro do líder religioso, no dia 14 deste mês, que os parentes, filhos e filhas de santo e amigos mais próximos tomaram conhecimento que os tiros teriam sido encomendados por outro pai de santo.

“O que chegou até a gente é que Nilton tinha envolvimento com um rapaz, que já teve ou ainda mantinha uma relação com outro pai de santo, que mandou fazer (o crime)”, contou um parente que, por medida de segurança, preferiu não revelar o nome. Segundo ele, a versão foi apresentada por algumas pessoas de confiança do babalorixá, nos momentos finais do sepultamento, realizado no Cemitério Municipal de Brotas. “Disseram que esse pai de santo é daqui de Salvador e que queria o rapaz pra ele”, disse a fonte, emendando em seguida que esta versão já é de conhecimento do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). “Na semana passada algumas pessoas do ciclo dele (Nilton) já foram ouvidas no DHPP”, complementou a fonte.

A versão diz ainda que o tal pai de santo apontado como mandante teria contratado um “profissional” para fazer o serviço. “É o que tudo leva a crer. Quem matou, chegou encapuzado e atirou em cheio, tanto que Nilton morreu na hora. Não descartamos que tenha sido um policial, porque esse pessoal de terreiro atende muita gente, conhece todo mundo, inclusive muita gente da polícia”, disse um amigo da família, que também optou pelo sigilo.

Para reforçar a tese, ele citou o fato de a cena do crime não ter sido preservada. “Quem estava lá, disse que Nilton já estava morto, mas, logo em seguida aos disparos, uma viatura da Polícia Militar chegou e ‘socorreu o corpo’. Foram quatro tiros nas costas. Se ele estava sem vida, porque retiraram? Por causa disso a perícia do local não foi feita e as cápsulas não foram recolhidas”, contou a fonte. Segundo a Polícia Civil, Nilton chegou a ser socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos.

Outra versão

A casa de Nilton era no mesmo endereço onde funciona o seu terreiro, o Yle Axé Olufemyn, na Rua Arlindo Fragoso, no Matatu de Brotas, e o local tem a ver com uma segunda versão, que surgiu no dia seguinte ao enterro da vítima. O comentário diz que um morador do bairro é quem contratou a execução. “Há cinco anos, Nilton brigou com um vizinho por causa de um pedaço de terra que fica no fundo do terreiro. Eles chegaram a ‘sair na mão’ e o caso foi parar na justiça e está rolando até hoje. Mas não acreditamos que isso tenha a ver com a morte, porque tem muito tempo isso. Na verdade, alguém trouxe essa história de volta para desviar o foco do verdadeiro motivo, o passional”, declarou um outo parente do babalorixá, sem se identificar.

Pai de santo era querido no bairro do Matatu
Pai de santo era querido no bairro do Matatu Crédito: Reprodução

Parentes e amigos de Nilton disseram que estão chocados com o episódio, pois, nos últimos dias, a vítima estava tranquila, ou seja,  não apresentava nenhum comportamento fora do habitual. “Estava sempre alegre, festeiro, de bem com a vida, nada de anormal. Tanto que ele estava muito feliz por ter passado o Réveillon com a mãe e o crime foi pouco tempo depois”, relatou uma senhora próxima à família. “Alguma dívida, descartamos também, porque ele tinha uma condição financeira razoável, que dava pra ajudar a mãe e distribuir cestas básicas”, emendou um parente.

Em nota, a Polícia Civil informou que a 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) apura o caso. Questionada sobre as versões, a PC informou que “o caso segue em investigação e diligências estão sendo realizadas para identificar o autor”. O CORREIO procurou a Polícia Militar para saber se tem conhecimento de uma possível participação de um policial no crime, do relato de testemunhas de que o babalorixá já estava morto quando foi lavado numa viatura ao HGE, se o procedimento é este e porque nenhuma outra equipe ficou no local para preservar a cena do crime. Em nota, a PM respondeu: “o processo de investigação cabe à Polícia Civil”.

Dor

Nilton era conhecido como “Meu Bem” e  querido no Matatu de Brotas. “As pessoas faziam de parar para cumprimentá-lo. Tinha uma energia muito boa”, disse uma moradora antiga do bairro. O babalorixá foi morto na região da Ladeira da Água Brusca, que dá acesso à Cidade Baixa, onde aconteceu a Lavagem do Bonfim, no último dia 11. De acordo com testemunhas, um homem se aproximou de Nilton, na rua Vital Rego, por volta das 19h30, atirou e fugiu. Socorrido, ele morreu no HGE.

Horas antes do crime, ele postou um vídeo em que aparece dançando durante a festa do Senhor do Bonfim. "Sinto a perda de meu filho. Era um menino do bem, trabalhador, caprichoso e que nunca me deu trabalho. Estou me sentindo fortalecida pelas pessoas que falam bem dele", disse a mãe dele, Maria Antônia Leal, à TV Bahia, um dia após o crime.

Nilton Leal postou vídeo curtindo a Lavagem do Bonfim
Nilton Leal postou vídeo curtindo a Lavagem do Bonfim Crédito: Reprodução

A mãe chegou a passar mal e precisou ser atendida em uma UPA ao saber da morte de Nilton. O CORREIO tentou falar com Maria Antônia e os irmãos do babalorixá, mas sem sucesso. “Eu não sei como ela (mãe) ainda está de pé. É o segundo filho que perde assassinado”, revelou a amiga da família.

Em junho de 2014, o mecânico Edvaldo Alves Leal, o “Dinho”, foi morto em Massaranduba, também a tiros. À época, ele descumpriu um “toque de recolher” para levar a namorada na casa dela. “Acabou brigando com o chefe do tráfico, que o jurou de morte, mas não acreditou. No dia seguinte, foi baleado dentro de uma oficina”, contou.