Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Mochileira mapeia três lugares que sofreram ‘apagamento histórico’ na Bahia

Dois locais estão localizados no Pelourinho, em Salvador

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 9 de março de 2025 às 11:44

Pelourinho
Pelourinho Crédito: Cristian Carvalho/Divulgação

Três lugares emblemáticos da Bahia foram incluídos em um mapa que tem o intuito de sinalizar os espaços apagados historicamente no Brasil. Trata-se do Largo do Pelourinho e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Salvador, e da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, em Porto Seguro. Segundo Talita Azevedo, mochileira e pesquisadora independente que teve a iniciativa do mapeamento, a inclusão dos locais baianos teve como um dos critérios a falta de narrativas múltiplas sobre os espaços, o que impede a construção e disseminação da memória coletiva não-hegemônica.

Talita conta que tudo começou por conta de uma jornada pessoal. Ela, que nasceu na cidade de Campinas, em São Paulo, mas fincou raízes no Rio de Janeiro, sempre teve curiosidade sobre a árvore genealógica da família que, mesmo pequena, tinha membros espalhados por diversos estados do Brasil. Foi graças a essa curiosidade que ela conheceu o avô materno, que vive em Jequié, no sudoeste da Bahia.

O encontro entre os dois marcou um ponto de virada na vida da pesquisadora. Talita, que já tinha o desejo de conhecer o passado da própria família e fez transição da carreira de publicitária para a área de tecnologia, ficou ainda mais motivada a se dedicar à pesquisa quando viu o avô apresentar sinais de Alzheimer.

“Com a doença do meu avô, eu fui ter contato com a demência, que é a perda de memória, sobretudo. Com o apagamento da memória dele ao vivo, na minha frente, eu comecei a tentar entender como eu faria aqueles registros, já que a oralidade dos meus ancestrais estava se perdendo em vida. Então, eu decidi fazer uma expedição”, conta.

Com o nome dos bisavós em mãos, ela comprou uma passagem de ida do Rio de Janeiro para Vitória, com expectativa de voltar de Salvador para o Rio de Janeiro após 20 dias. No processo de peregrinação por diversos destinos brasileiros, Talita diz que se deixou guiar pela intuição. Quando retornou ao Rio, ela começou a sonhar com as cidades e realizou outras pequenas viagens pelo período aproximado de nove meses.

Durante a expedição, o que era apenas uma missão pessoal ganhou proporção maior quando Talita se deu conta de que a história de diversas famílias brasileiras poderia também ter sido apagada pela falta de informações sobre os antepassados. Por isso, ela visitou igrejas e locais de memória na tentativa de encontrar pistas que pudessem norteá-la quanto ao projeto do mapa Presente Histórico, que começava a ser idealizado com base nas próprias andanças.

Talita Azevedo Crédito: Jones Ferreia/Divulgação

“Eu ia desde igrejas até arquivos públicos e cemitérios. Foi algo muito intenso, porque eu tentava procurar por sobrenomes e histórias. Eu comecei a entender quais eram os padrões dos lugares que eu sonhava e eram lugares que tinham influência, sobretudo, da diáspora africana. Lugares que falavam da sustentabilidade, da especulação imobiliária e da minha trajetória muito particular. Eu comecei a encaixar o quebra-cabeça, porque não foi um trabalho que eu já sabia o que seria”, afirma Talita Azevedo.

Dos locais visitados, a pesquisadora listou 13 que mais marcaram a experiência de viagem. Tanto o Largo Terreiro de Jesus e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de acordo com ela, foram incluídos porque não teve a história contada por todas as facetas que os atravessam. “O Largo Terreiro de Jesus, além do espaço em si, eu pensei no entorno. Foi um lugar que me marcou muito, até porque pouco se discute a real importância do que de fato era o Pelourinho, se era um lugar de celebração ou de resistência e dor”, pontua.

“Quando eu cheguei no Largo Terreiro de Jesus, foi muito especial estar ali para entender o que havia em volta. A geografia conta a história de maneira visual. No mesmo lugar onde se está ali comendo acarajé, tem o Elevador Lacerda que conta a história de influência de uma família e não é por acaso, enquanto ao lado tem um sítio arqueológico diante dos seus olhos e a musicalidade. São muitas interferências e facetas de uma mesma história”, acrescenta Talita.

Para a pesquisadora, o Largo Terreiro de Jesus serve de imersão e é um local que precisa ser conhecido para além da história oficial. O mesmo vale para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. “Ela me chamou atenção não só pela beleza dela, mas também pela história de liderança, coletividade e aquilombamento, além dessa função de tantas outras igrejas católicas de terem sido também os lugares em que outras pessoas foram enterradas e onde há o sincretismo religioso”, ressalta.

No caso da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, em Porto Seguro, o fato de integrar a Rota do Descobrimento, fez com que a pesquisadora entendesse que o templo histórico conta uma história colonial, mas também dá possibilidade de descobrir histórias fora da hegemonia.

“Ao lado dela, há pontos muitos pontos marcados de uma ideia portuguesa, muita coisa que lembra os símbolos, tem bandeiras e estátua de colonizadores. Mas, do outro lado, tem o Largo da Misericórdia. [...] Foi um lugar que eu quis marcar, principalmente, pela imersão que proporciona de mergulhar nessa narrativa de história e acontecimentos simultâneos”, detalha Talita.

Ao final da pesquisa, Talita criou o mapa, que está disponível por meio deste site. O objetivo, agora, é transformar toda a peregrinação em um livro e convidar as pessoas a contribuir com registros da memória. “A minha ideia é convidar outras pessoas a contribuírem com esse acervo da memória. [...] É uma forma de mostrar criatividade aplicada à tecnologia pensando nas necessidades do Brasil, propondo novas discussões e novos diálogos com base em dados”, finaliza.