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Maysa Polcri
Publicado em 24 de julho de 2024 às 05:15
Em três meses, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou duas mortes decorrentes de febre oropouche, nas cidades de Valença e Itabuna, no sul baiano. O Ministério da Saúde (MS), no entanto, não reconhece que os óbitos foram causados pela doença. Segundo a pasta do Governo Federal, além das mortes na Bahia, um óbito também está sendo investigado em Santa Catarina. >
Em nota, o Ministério da Saúde explica que “para se confirmar um óbito pela doença, é preciso uma avaliação criteriosa dos aspectos clínicos epidemiológicos considerando o histórico pregresso do paciente e a realização de exames laboratoriais específicos”. Não há prazo para que os óbitos sejam confirmados ou descartados. Se comprovadas, as mortes poderão ser as primeiras registradas no Brasil. >
A doença já era considerada endêmica na região Norte do país e, a partir do segundo semestre de 2023, o Laboratório Central da Bahia (Lacen-BA) incorporou o diagnóstico de febre oropouche. A medida possibilitou que os primeiros casos fossem detectados no estado. Foram 835 registros na Bahia, até o dia 18 de julho. >
Ilhéus é a cidade com mais casos diagnosticados, foram 110 apenas neste ano. Até agora, 59 municípios baianos registraram pessoas com febre oropouche, o que representa 14,1% de todas as cidades do estado. O mosquito maruim (culicoides paraensis), conhecido também como mosquito-pólvora, é o principal vetor da doença. As regiões sul e leste da Bahia, que têm predomínio do inseto, respondem por 97,4% dos casos, segundo a Sesab. >
Contrapondo o que diz o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde afirma, em nota, que os óbitos foram confirmados após “análises criteriosas realizadas” pela Câmara Técnica de Análise de Óbitos da Diretoria de Vigilância Epidemiológica. A primeira morte ocorreu em 27 de março, enquanto a segunda foi registrada em Itabuna, em 10 de maio - a vítima morava em Camamu. >
Após três meses do primeiro óbito, o Ministério da Saúde ainda não reconheceu a causa da morte. O MS e a Sesab não disponibilizaram fontes para comentar as investigações em curso. O virologista Gúbio Soares, que já havia identificado a circulação do vírus em Salvador, em 2020, explica como funciona a análise dos casos. >
“O vírus já circulava em Belém, no Pará, mas nunca foram registradas mortes pela doença no país. É preciso uma análise aprofundada para entender os casos da Bahia, com estudos do sequenciamento do vírus que circula no estado. Fazer biópsia dos órgãos das pacientes e dos tecidos, especialmente do coração, cérebro e fígado”, afirma. >
Ambos os óbitos confirmados pela Secretaria Estadual de Saúde foram de mulheres, não gestantes, sem comorbidades e com idade entre 21 e 24 anos. Os primeiros sintomas foram febre, dor de cabeça, diarreia, náuseas e dores nos membros inferiores. Os quadros evoluíram para sintomas mais graves, como manchas vermelhas e roxas pelo corpo, além de sangramentos nasal, gengival e vaginal. >
Um artigo assinado por 20 especialistas reforça que as mortes foram decorrentes de infecção por febre oropouche. A pesquisa foi publicada no dia 16 de julho, em versão inicial para revisão. Os especialistas analisaram que a evolução dos casos foi similar a uma infecção grave pelo vírus da dengue. >
“Se não fosse pela extensa avaliação laboratorial associada a um surto de OROV [vírus oropouche] em curso na região, ambos os casos seriam, provavelmente, classificados de forma inadequada como mortes por dengue em vez de OROV”, diz a publicação. O artigo é um preprint, ou seja, ainda não foi publicado por revistas científicas e nem analisado por pares. >
Em fevereiro deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa) divulgou que uma adolescente de 15 anos morreu depois de ser infectada, ao mesmo tempo, por covid-19 e oropouche. O caso não foi confirmado pelo Ministério da Saúde.>
Diante do aumento do número de casos na Bahia, Marcos Sampaio, presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES), cobra agilidade nas ações para o combate da doença. "Precisamos fortalecer o combate às arboviroses e trazer a população para essa mobilização geral. É preciso ampliar a testagem para que nada passe desapercebido. Não existe um tratamento específico para a doença, e os cuidados são para os sintomas", pontua. >
Como prevenir a febre oropouche, segundo o Ministério da Saúde >
Evitar áreas onde há muitos mosquitos, se possível.>
Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplique repelente nas áreas expostas da pele.>
Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas.>
Se houver casos confirmados na sua região, siga as orientações das autoridades de saúde local para reduzir o risco de transmissão, como medidas específicas de controle de mosquitos.
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