Microempresas representam 9 em cada 10 empresas na Bahia

Proporção segue a tendência nacional, uma vez que 92,5% dos negócios formais no Brasil correspondem às microempresas

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  • Larissa Almeida

Publicado em 21 de junho de 2024 às 06:10

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null Crédito: fizkes | Shutterstock

Ao visitar o antigo centro comercial de Salvador, a aposentada Maria Souza, 68 anos, conta que costuma apontar à filha e sobrinhos como era ‘capital baiana do passado’, expressão que usa para se referir à época datada de pelo menos 45 anos atrás, quando ela, que vivia no bairro da Fazenda Grande, precisava ir até o centro para conseguir remédios em farmácias. A experiência da aposentada não é individual. Isso porque, naquele período, o comércio da cidade era bastante concentrado em grandes empresas, que monopolizavam a venda de diversos produtos essenciais à população. Atualmente, o cenário mudou e as microempresas não apenas ganharam espaço, como viraram o jogo para além da capital: hoje, elas são nove em cada 10 negócios formais na Bahia.

Segundo dados do Cadastro Central de Empresas (Cempre) 2022, divulgados nesta quinta-feira (20) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 92,5% ou 434.577 das 469.986 unidades locais de empresas em atividade na Bahia eram consideradas microempresas – termo que caracteriza negócios com até nove funcionários.

A numerosa quantidade de negócios desse tipo, inclusive, é uma tendência nacional. Isso porque, o levantamento de 2022 mostrou que as microempresas também representavam 92,5% do total no Brasil (9.812.509), enquanto as grandes empresas eram somente 0,2% (23.541). Para Mariana Viveiros, supervisora de informação do IBGE na Bahia, essa predominância está ligada à facilidade de gerenciamento e mobilização de recursos.

“É mais fácil ter microempresas. Isso implica menores necessidades de investimento, o que também é importante porque são as pequenas empresas que acabam dinamizando muito a produção, a economia, os serviços e a produção. [...], elas também exigem menos esforço gerencial”, afirma.

Apesar das facilidades, se engana quem pensa que não há desafios à frente de um empreendimento de pequeno porte. No caso de Fredson Pereira, proprietário da Óticas Pereira, o maior entrave é conseguir momentos de descanso. Ele conta que, mesmo contando com cinco funcionários desde que inaugurou seu negócio, em 2019, ainda não conseguiu tirar férias. “A gente acaba trabalhando mais e isso é um pouco desafiador. Mas, em geral, é um negócio que nos motiva diariamente. Hoje, temos faturamento, em média, de R$ 50 mil”, relata.

De acordo com Isabel Ribeiro, gerente adjunta da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia, a adesão à abertura de uma microempresa tem sido recorrente não por uma preferência, mas pela necessidade de sobrevivência. Ela aponta que mais de 70% dos empreendimentos produtivos estão no setor de comércio e serviços que convive ao lado de um elevado número de empreendimentos informais.

“Não se trata de preferência, e sim da ocorrência da concentração de poucos grandes empreendimentos intensivos em tecnologia e poupadores de mão de obra, que não proporcionam a inclusão dos micros e pequenos negócios na sua cadeia produtiva, como o Polo Petroquímico de Camaçari. Ainda, há a predominância da agricultura de exportação, também intensiva em mecanização, ao lado da agricultura familiar”, analisa.

Para Isabel Ribeiro, os pontos positivos ao adquirir esse tipo de empresa consistem no maior acesso à crédito, a facilidade de formalização pelo portal do Microempreendedor Individual, bem como de obtenção de proteção social – uma vez que há contribuições e impostos fixos que já incluem a contribuição para a Previdência Social.

Já os pontos negativos abarcam as dificuldades naturais dos empreendedores. “Sozinhos em seus estabelecimentos, eles não encontram condições de buscar melhorias gerenciais, capacitações e encontram restrições para ampliar seus mercados em razão do uso de tecnologias obsoletas e dificuldades de contratar mão de obra qualificada”, completa.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro