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‘Meu mundo caiu’, diz acusado da morte do menino Joel após descobrir que tiro veio de policial

Alexinaldo Santana Souza foi ouvido no primeiro dia de júri do caso

  • Foto do(a) author(a) Raquel Brito
  • Raquel Brito

Publicado em 6 de maio de 2024 às 20:17

Fórum Ruy Barbosa
Fórum Ruy Barbosa Crédito: Reprodução/Google Street View

No fim da tarde desta segunda-feira (6), o tenente da PM Alexinaldo Santana Souza contou sua versão da noite em que o menino Joel foi morto. Além dele, o ex-policial militar Eraldo Menezes de Souza também é acusado pelo crime. Alexinaldo foi o segundo a responder aos questionamentos da juíza Andréa Teixeira Lima e da promotoria, no primeiro dia de júri do caso, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.

Foi da arma de Eraldo que partiu o tiro que matou o menino. Já o tenente foi denunciado pelo Ministério Público porque estava no comando da operação. Diante do júri, Alexinaldo disse que, passando pela rua da Mouraria, viu cerca de dez homens armados.

O tenente disse que a operação foi como qualquer outra, para inibir as práticas criminosas, como tráfico de drogas. “Era corriqueiro nos serviços no Nordeste de Amaralina sermos recebidos a tiros, em diversas localidades. Obviamente, se a gente for recebidos a tiros, vamos dar a resposta, que foi o que, de fato, aconteceu”, disse.

“A ordem do disparo contra os atiradores acontece quando eu estou na rotatória da casa do menino Joel”, disse ele. Ele afirmou ainda que correu no sentido oposto aos atiradores. “Quando a gente está na parte alta e as guarnições estão lá em cima, consigo ver os policiais. Mas no momento que eu saio atrás do atirador, perco o contato visual com eles”

Foi uma senhora, na sacada de uma casa, que apontou para o local onde eles encontraram a arma no chão. Ela não falou nada, só apontou. Segundo Alexinaldo, o lugar estava mal iluminado e eles só identificaram que era uma arma quando chegaram perto e iluminaram.

A outra tentativa de disparo de arma de fogo contra a polícia aconteceu no beco em frente à casa de Joel. Eles agruparam as equipes e entraram no beco de onde os suspeitos saíram. A guarnição revidou, mas logo parou os disparos, porque os indivíduos já estavam fora de vista.

“Minha primeira preocupação foi saber onde estava a pessoa baleada. Eu não matei ninguém e isso ser imputado a mim me traz uma dor profunda. Acusação no mínimo leviana”, contou.

Alexinaldo também se emocionou. “Naquele momento, eu cheguei a temer que eu pudesse ter atirado, porque eu procurei a vítima e disseram que já tinha sido atendida. Como eu era o atirador da frente, fiquei muito receoso de ter sido eu. Me disseram, ‘não, a vítima estava naquela casa ali de trás’”.

“Não tinha nenhum familiar da vítima no local e os moradores estavam hostilizando os policiais, acusando de ter atirado”, disse.

Quando ele chegou na delegacia do Nordeste de Amaralina, ficaram sabendo que a vítima era menor de idade e que precisariam ir na Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca).

Alexinaldo chegou a ir ao hospital, mas Joel já estava no centro cirúrgico. Depois voltou para o Nordeste de Amaralina e orientou os policiais a disponibilizarem as armas para perícia. Ele também pediu que eles ficassem lá, as duas viaturas juntas, e não se separassem, enquanto o tenente ia para a delegacia fazer o reconhecimento da arma de fogo.

“Quando sai o laudo e consta que o disparo foi feito por um dos policiais, foi ali que o mundo caiu”, contou.

Ele disse que nunca voltou ao local onde tudo aconteceu porque poderia parecer que estava tentando coagir as vítimas. “Eu já respondi outro processo em Santo Amaro, quando eu efetuei uma prisão por apreensão de drogas e me acusaram de invasão de domicílio”, segundo ele já está prescrito. Respondeu outro por ato de resistência, que foi arquivado.

Alexinaldo foi questionado pela advogada de defesa, Dominique, se houve pedido de ajuda da família aos policiais após Joel ser atingido. Ele negou.

“Não presenciei [nenhum pedido], e se presenciasse certamente esse socorro aconteceria. Inclusive, foi a primeira pergunta que eu fiz quando tomei conhecimento que uma pessoa foi baleada: ‘onde está essa pessoa?’. Porque iríamos fazer o primeiro socorro na mesma hora”, disse.

Ele negou também que tenha agido por “intuito vingativo”, como apontado no processo. “Eu entrei naquela comunidade com a intenção de proteger”.

Alexinaldo se emocionou novamente ao falar que nasceu no Nordeste de Amaralina. “Eu sou negro também. Estou lá fazendo um trabalho, jamais na minha vida eu iria querer que uma criança morresse”, disse.

“Isso traz reflexos para a minha vida até hoje, para a minha carreira. E hoje eu não sofro mais, porque acho que a minha consciência está tranquila”, adiciona.

Ele afirma que chegou a ter paralisia facial por estresse. O acusado também contou que tem um relacionamento de 15 anos, mas só veio a ter um filho agora porque não queria ter, já que “não sabia o que ia acontecer com ele no futuro”.