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Mesmo integrando forças de segurança, mulheres ainda são vítimas de violência doméstica

Relembre casos de feminicídio registrados na Bahia nos últimos anos

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 05:00

Delegada Patrícia Neves foi morta pelo companheiro em agosto de 2024
Delegada Patrícia Aires (no meio) foi morta pelo companheiro no último dia 11 Crédito: Reprodução/Redes sociais

Ter posse de arma de fogo, conhecer bem as leis e combater diretamente casos de violência contra a mulher. Nenhum desses fatores impediu que a delegada Patrícia Neves Jackes Aires, encontrada morta dentro do próprio carro em São Sebastião do Passé, fosse vítima de feminicídio. Tancredo Neves Lacerda Feliciano de Arruda, que já tinha agredido a policial em maio, confessou ter matado a companheira asfixiada. A morte da delegada não é um caso isolado e mostra que, mesmo integrando forças de segurança, mulheres não estão imunes à violência doméstica.

Em outubro de 2020, a policial militar Rafaella Gonçalves foi morta pelo marido, o policial militar Edson Salvador Ferreira, em Ibotirama, no oeste baiano. Além de policial, Rafaella era digital influencer e dividia com os seguidores a rotina de uma policial feminina. Ela tinha mais de 67 mil seguidores no Instagram.

Assim como aconteceu com a delegada Patrícia Aires, Rafaella já havia denunciado o homem que a matou por violência doméstica meses antes de ser morta. Em ambos os casos, medidas protetivas proibiram que os autores se aproximassem das vítimas.

Para Márcia Tavares, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Universidade Federal da Bahia (Neim/Ufba), casos como o de Rafaella e Patrícia mostram que todas as mulheres estão sujeitas a serem vítimas de feminicidas. “A violência começa de forma sutil. São pequenos gestos que vão ganhando espaço nas relações. As mulheres procuram justificativas e acreditam que o amor pode ser o remédio para relacionamentos violentos. Mas não é assim”, diz Márcia.

No ano passado, 108 feminicídios foram registrados na Bahia, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ainda de acordo com o levantamento, 55 medidas protetivas de urgência são concedidas diariamente no estado. “Onde existe violência, não há amor, e sim posse. Mas uma coisa é conhecer a legislação e outra é vivenciar isso na esfera pessoal. Muitas vezes as vítimas não enxergam e nem assumem que precisam de ajuda”, completa Márcia Tavares.

A subtenente da Polícia Militar Wagna Andrade Soares também foi morta pelo companheiro, em abril de 2017, em Feira de Santana. O corpo da vítima foi encontrado em uma área de mata com marcas de golpes no rosto.

Durante coletiva de imprensa sobre as investigações da morte da delegada Patrícia Aires, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, falou sobre a necessidade de proteção das mulheres. Inclusive aquelas que integram forças policiais.

“É através das denúncias que nós vamos continuar enfrentando, cada vez mais, casos de violência contra as mulheres. Ocorrências como essas nos entristecem muito porque as forças de segurança também estão vulneráveis. Não podemos mais permitir que atitudes violentas sejam permitidas pela sociedade”, falou.

Tancredo Neves Lacerda Feliciano confessou ter matado a delegada Patrícia Aires depois de ter sido preso em flagrante pela suspeita de feminicídio. Ele está preso em Salvador, e a Polícia Civil investiga as circunstâncias do crime. Outras mulheres já haviam denunciado o homem por violência doméstica. Há quatro meses, a Justiça prorrogou a medida protetiva que uma das vítimas possui contra ele.

A advogada Renata Deiró, presidente da Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA), ressalta que a violência ultrapassa barreiras sociais e econômicas. “Números mostram que mulheres pobres, periféricas e negras são identificadas como as maiores vítimas dessa violência, contudo fatores socioeconômicos, tabus e mitos sociais contribuem para uma baixa notificação por parte das mulheres de classes sociais mais elevadas”, defendeu ela, em artigo publicado no CORREIO.