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Maysa Polcri
Publicado em 1 de novembro de 2024 às 14:16
A dois dias da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no domingo (3), candidatos têm uma grande preocupação que não tem a ver com os estudos. Trata-se da violência urbana em Salvador. Após confrontos entre policiais e suspeitos no Complexo do Nordeste de Amaralina, que causaram a morte de dois suspeitos, pais temem que alunos façam a prova na localidade.
É o caso de um morador da Pituba, que é pai de um aluno do 3º ano do Ensino Médio de um colégio particular. O jovem, que tem 17 anos, fará a prova no Centro Estadual de Educação Profissional Carlos Corrêa de Menezes Sant'Anna, que fica no Beco da Cultura. Assim que soube da operação policial no bairro, o pai se preocupou. Nesta sexta-feira (1º) diversos serviços essenciais estão suspensos no bairro.
O homem, que prefere não se identificar, conta que está com medo de levar o filho para fazer a prova, já que não costuma circular de carro na região. "Eu tenho amigos que moram no Nordeste que já me disseram que devo estacionar o carro longe e andar com meu filho até a escola. Olha o nível que chegamos, não podemos entrar nos bairros. É uma cidade com várias cidades sitiadas, como se cada uma delas estivesse em guerra", diz.
Para driblar a violência, o homem cogita, inclusive, contratar um segurança para levar o filho até o local de prova. "Sei de um segurança que conhece a região e vou perguntar quanto ele cobra para levar meu filho e buscar. Ou ainda, contratar alguém que rode com carro por aplicativo e seja do Nordeste. Meu carro nunca entrou lá, eu tenho medo de deixar ele [filho] no colégio e não conseguir mais sair", comenta.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP), as escolas estaduais do Complexo do Nordeste de Amaralina funcionam normalmente nesta sexta-feira (1º). "Ações das Forças da Segurança continuam intensificadas nas localidades de Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho", diz a instituição.
Apesar disso, 12 escolas municipais estão com as portas fechadas. São elas: EM Santo André, EM Anita Barbuda, Cmei Vale das Pedrinhas, EM Neusa Nery, EM Artur de Sales, EM José Calazans, EM Vale das Pedrinhas, EM Cristo Redentor, EM Maria Amália Paiva, Cmei Dália de Menezes, EM Teodoro Sampaio e EM Zulmira Torres. São mais de 3 mil alunos impactados, segundo a Secretaria Municipal de Educação de Salvador (Smed).
Postos de saúde também não estão funcionando, e a circulação de ônibus está suspensa na localidade. A escala de violência no Complexo do Nordeste de Amaralina se deu a partir da última terça-feira (29), quando suspeitos atacaram policiais na região. Dois dias depois, na quinta-feira (31), equipes da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) Bahia, da Secretaria da Segurança Pública (PM e PC) e da Polícia Federal deflagraram a operação Rota Segura.
Na ação da polícia, dois suspeitos morreram, quatro pessoas foram presas e um adolescente foi apreendido. Um dos mortos é Luís Fernando Umbelino dos Santos, o "Tonelada", de 31 anos. Segundo a SSP, ele era responsável pela logística de armas para "bonde" de uma facção, responsável por ataques contra viaturas policiais e rivais de outro grupo criminoso.
A Secretaria de Segurança Pública foi questionada sobre a segurança no Complexo do Nordeste de Amaralina durante o Enem, mas não se manifestou até esta publicação. Enquanto isso, pais temem o pior. "Já tem dois dias que meu filho não dorme direito, com medo. Se ele tiver que sentar ao lado da janela, sei que não vai conseguir fazer a prova com medo de tomar um tiro", lamenta o pai indignado.