Médico, pai de suspeito de matar delegada foi demitido de hospital e é investigado por estelionato

Arylton Feliciano de Arruda foi demitido de um hospital em Euclides da Cunha por levar o filho para estagiar sem autorização da unidade

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 14 de agosto de 2024 às 11:37

Tancredo Neves e o pai atuavam juntos em hospital particular na Bahia
Tancredo Neves e o pai atuavam juntos em hospital particular na Bahia Crédito: Reprodução/Redes sociais

O médico Arylton Feliciano de Arruda, pai de Tancredo Neves, suspeito de matar a delegada Patrícia Neves Jackes Aires, também acumula um histórico de investigações policiais. Em 2022 ele foi demitido de um hospital particular na cidade em Euclides da Cunha, por ter levado o filho para estagiar sem o consentimento da unidade. No mesmo ano, ele foi investigado por falsidade ideológica, mas não chegou a ser indiciado. Arylton também é investigado por um suposto crime de estelionato, em Itamaraju, ocorrido em 2023.

Tancredo Neves confessou ter matado a delegada Patrícia Neves e está preso em Salvador. Ele levado pelo pai, Arylton, para trabalhar na Unidade Municipal Antônio Carlos Magalhães, administrada pelo Hospital Português, em Euclides da Cunha. O problema é que o filho se formou em Medicina fora do Brasil e não fez o Revalida, exame necessário para revalidar o diploma emitido no exterior. Por conta disso, até hoje ele não possui registro no Conselho Federal de Medicina (CRM), nem vínculo com o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Sendo assim, não tem permissão para atuar como médico em nenhum estado brasileiro.

O Revalida é um processo de revalidação dos diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil. O exame é obrigatório e direcionado tanto aos estrangeiros formados em medicina fora do Brasil quanto aos brasileiros que se graduaram em outro país e querem exercer a profissão em sua terra natal.

Quando soube da conduta irregular do médico, o Hospital Português de Euclides da Cunha demitiu Arylton, mas não denunciou o caso à polícia. Coube ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciar Tancredo Neves por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. Arylton chegou a ser investigado, uma vez que o filho usava o CRM do pai para atuar, mas não foi indiciado, segundo a Polícia Civil, que não detalhou as razões para isso.

Como o esquema foi descoberto

 O esquema foi descoberto por uma paciente do hospital. Em uma consulta, ela foi atendida por Tancredo, mas percebeu que ele prescreveu uma receita com o registro médico de outra pessoa - o pai.

Durante dois anos, a investigação foi conduzida pela Delegacia Territorial de Euclides da Cunha que, neste ano, indiciou Tancredo Neves por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica, após denúncia do MP. 

Em nota, o Hospital Português de Euclides da Cunha informou que o médico Arylton Feliciano foi desligado imediatamente após a unidade tomar conhecimento do ocorrido, em 2022. A unidade informou ainda que a atuação médica na instituição acontece mediante apresentação prévia de documentos, além de aprovação da coordenação médica, e que Tancredo Neves nunca integrou o quadro de funcionários do hospital.

Já o Cremeb disse que vai investigar se o médico Arylton Feliciano de Arruda foi cúmplice do filho no suposto crime de falsidade ideológica. Ele tem registro ativo no Cremeb desde dezembro de 1975 e não tem especialidade médica registrada. O conselho afirmou ainda que vai investigar se Tancredo Neves, que não possui registro médico no Brasil, foi contratado para atuar como tal. 

Além do imbróglio que envolve a atuação médica irregular do filho, Arylton Feliciano de Arruda é investigado pelo crime de estelionato, em Itamaraju. O processo investigatório criminal (PIC) é conduzido pelo Ministério Público da Bahia desde novembro de 2023. O órgão foi procurado, mas não se manifestou sobre o andamento da investigação.

Delegada fez empréstimo para assassino fazer registro médico

As investigações sobre a morte da delegada Patrícia Neves Jackes Aires, encontrada morta em seu próprio carro, em São Sebastião do Passé, indicam que ela e Tancredo Neves discutiram antes da vítima ser morta. Em depoimento, ele confessou ter matado a então noiva asfixiada com o cinto de segurança do veículo.

De acordo com a delegada-geral Heloísa Brito, uma das linhas de investigação é que a briga ocorreu por conta da cobrança de um empréstimo feito por Patrícia para Tancredo. “Eles tinham, de fato, uma relação conflituosa. Estamos investigando a possibilidade de ela ter feito um empréstimo a ele e ter cobrado o valor. Ele iria usar o valor para revalidar o diploma, que teria sido feito fora do Brasil”, falou, durante coletiva de imprensa, na terça-feira (13). O processo de revalidação de diploma médico possui duas provas que, juntas, custam R$3.630.

Relembre o caso

Tancredo Neves Feliciano de Arruda foi autuado em flagrante por feminicídio, após o corpo da delegada Patrícia Neves Jackes Aires ser encontrado no banco do carona do seu veículo, em uma área de mata, no município de São Sebastião do Passé, no último domingo (11). Fontes ligadas à polícia disseram que havia diversas contradições no depoimento dele, como o fato do suspeito apontar que foi abordado por três criminosos em uma moto, veículo que comporta apenas duas pessoas.

A Polícia Civil da Bahia disse que lamenta "profundamente a morte da servidora, que estava lotada no plantão da Delegacia Territorial de Santo Antônio de Jesus, e informa que está empenhada com todos os seus departamentos para esclarecer plenamente as circunstâncias do caso e realizar todas as providências de polícia judiciária cabíveis".