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Mar azul e branco: fiéis reverenciam Iemanjá nas águas do Rio Vermelho

Prefeitura estima que mais de 1 milhão de pessoas passaram pela festa neste domingo (2)

  • Foto do(a) author(a) Millena Marques
  • Millena Marques

Publicado em 2 de fevereiro de 2025 às 20:03

2 de fevereiro no Rio Vermelho
2 de fevereiro no Rio Vermelho Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Um mar azul e branco tomou conta da faixa de areia da praia do Rio Vermelho neste domingo (2). Gente de tudo que é lugar. Uns que jogam rosas em agradecimento pelas bençãos alcançadas por meio da Rainha do Mar. Outros que entregam os presentes, com pedidos pessoais para o novo ano que se inicia. O fato é que milhares de apreciadores e devotos de Iemanjá, a matriarca espiritual das águas, lotaram as ruas do bairro, que é sede da casa da orixá há anos.

Quem vai deixar os presentes no mar enfrenta uma fila quilométrica em frente à Colônia de Pescadores Z1, responsável pela festa. É ali que o empurra-empurra é intenso e a fé é, de certa forma, é colocada à prova. Afinal, quem sai de casa em um domingo, com o sol ‘rachando’ e os termômetros marcando 30 °C (mas uma sensação térmica que parece ser de 40ºC), se não tiver muita fé? O caminho é intenso, mas a chegada é de tirar o fôlego - no bom sentido, é claro.

A gaúcha Camila Kleim, 42 anos, é filha de Iemanjá. Sai de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, há mais de 10 anos para prestigiar à mãe nas águas no Rio Vermelho. Esse ano, no entanto, é mais que especial. Foi sob a proteção da Rainha das Águas que Camila e os irmãos passaram pelas enchentes no Sul sem qualquer ferimento. “Nossa família religiosa toda conseguiu passar pelas enchentes, sem sofrer absolutamente nada”, diz, emocionada.

Nos olhos, um brilho que não é ofuscado pelas lágrimas que saem ao abrir a boca. Nas mãos, um barco de 90cm, feito em com produto biodegradável, azul, repleto de flores, canjica e perfumes. “Esse barco não é só meu, é da minha família religiosa. A gente não perdeu ninguém. Perdemos bens materiais, mas não perdemos uma vida. Isso que é mais especial esse ano. É só agradecimento”, continua. Considerada a pior tragédia climática do estado, as chuvas que atingiram o estado em maio de 2024 vitimaram 183 pessoas.

Camila Kleim
Camila Kleim Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A tradição foi passada à Camila pela mãe, Mãe Izza de Oxum, 69, que lidera um terreiro em Porto Alegre. “Esse ano, nós agradecemos. Depois de tudo que o Rio Grande do Sul viveu nas enchentes, as bençãos, não só de Iemanjá, mas de todos os orixás, foram fundamentais”, completa. Marcando presença na festa do Rio Vermelho há tantos anos, Mãe Izza sequer lembra a data que pisou os pés no bairro pela primeira vez.

Mãe Izza (à esquerda) e Mãe Diana de Oxum (à direita)
Mãe Izza (à esquerda) e Mãe Diana de Oxum (à direita) Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Há quem se junte à multidão por questões exclusivamente religiosas ou ancestrais, e quem junte os dois – se é que é possível separá-los. É o caso da esteticista Laise Tavares, 35 anos. Natural de Salvador, de uma família de descendentes indígenas de Piatã, a soteropolitana liga a tradição do dia 2 de fevereiro ao nascimento da própria mãe. “A minha mãe nasceu no mar. Temos uma relação muito forte com o mar. É o que nos acalma quando estamos nervosas, o que traz tranquilidade e energia boas”, relata.

Agora, além do vínculo ancestral, Laise volta ao mar do Rio Vermelho com a filha, Nicole Santos, 15, depois de morar seis anos no Rio de Janeiro e em Manaus. A adolescente foi atraída pela Rainha das Águas ao retornar para Salvador. “Eu sempre fui da Igreja Católica, mas, quando voltei, comecei a pesquisar outras religiões para entender por qual eu me identificava mais. Me identifiquei com a Umbanda, amei demais. É a coisa mais linda”, diz. Nicole ainda destaca que o dia foi apenas de agradecimentos. “A única coisa que pedi foi para que ela (Iemanjá) me guiasse”, completa.

Nicole Santos
Nicole Santos Crédito: Arisson Marinho, CORREIO

Em 2025, a festa de Iemanjá completou 103 anos de história. A tradição partiu de pescadores da capital baiana, em 1923, que resolveram oferecer presentes para a divindade das águas na expectativa de que ela pudesse resolver o problema da escassez de peixes.

Seguindo a determinação da Colônia dos Pescadores Z1, o presente oficial de Iemanjá deixou o barracão às 16h04 para ser entregue às águas do Rio Vermelho. "Odoyá, Rainha do Mar", diziam os devotos e apreciadores que seguiram o andor com a imagem até a faixa de areia.

O presente começou a ser confeccionado às 4h deste domingo. Neste ano, o Terreiro Olufanjá (Ilê Axé Iyá Ofulandê) foi responsável pela ornamentação da oferenda principal. "É muito gratificante, é uma benção. É cansativo, trabalhamos muito, mas é muitas flores, muito perfume, muito presente que se oferece à Iemanja, e ela abraça a todos, ela é mãe de todos", diz Iya Nicinha, ialorixá do terreiro Olufanjá há 26 anos.

Presente principal de Iemanjá
Presente principal de Iemanjá Crédito: Arisson Marinho/CORREIO