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Millena Marques
Publicado em 21 de março de 2025 às 05:00
Salvador ficou conhecida por ter uma igreja para cada dia do ano. Hoje, o assunto parece que é outro. Isso porque, mais do que templos religiosos católicos, a cidade está cada vez mais repleta de farmácias. Na capital baiana, é uma em cada esquina praticamente. Na Avenida Manoel Dias da Silva, que corta os bairros da Pituba e Amaralina, há sete farmácias em uma faixa de até 1,5 quilômetro, duas delas, aliás, da mesma rede. Mas, afinal, o que explica a expansão da indústria farmacêutica na cidade? >
Alguns fatores podem responder à questão, mas o principal deles diz respeito sobre a rentabilidade do setor. Quem conta isso é Bernardo Cabral, professor de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) que pesquisa a indústria hospitalar. "Ela [indústria farmacêutica] está crescendo porque ela dá dinheiro. Então, se as empresas veem um retorno, aparecem outras empresas querendo o mesmo retorno, isso faz com que o setor expanda", explica o pesquisador.>
Saber por que o setor gera muito dinheiro é essencial para entender o processo de expansão de farmácias. São fatores que envolvem questões culturais e até regulatórias, conforme revela Cabral. "No Brasil, você tem o hábito de fazer automedicação, de ser automedicado, isso é muito comum. Então, existe uma demanda muito comum das pessoas virem na farmácia e comprarem vários medicamentos. (...) Isso não é tão comum em outros países", aponta. >
Outra coisa é a expansão da renda das pessoas nas últimas décadas. Com mais dinheiro disponível, há mais chances de gastar com medicamentos. Aliado a tudo isso, está o processo de envelhecimento da população. Idosos costumam ter doenças crônicas que exigem o uso de medicamentos de forma contínua, como hipertensão e diabetes, que são tratadas com dois dos medicamentos mais vendidos do Brasil em 2024: losartana e metformina, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). >
Falando em envelhecimento, Salvador teve um aumento expressivo do número de pessoas idosas entre 2010 e 2022, de acordo com os dois últimos Censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Um salto de 61,1%, chegando a 399.075, ou 16,5% da população soteropolitana. "Lembrando que o total de moradores da capital caiu 9,6% nesse mesmo período. Houve um aumento absoluto de 151.429 idosos frente a 2010, quando eles somavam 247.646 pessoas e representavam 9,3% da população da capital", destaca a supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros. >
O crescimento da participação das pessoas idosas na população de Salvador, de 9,3% para 16,5%, fez o município subir cinco posições no ranking das capitais para esse indicador, da 15ª, em 2010, para a 10ª, em 2022. Porto Alegre/RS (21,9%), Rio de Janeiro/RJ (20,2%) e Vitória/ES (20,1%) tinham os maiores percentuais de pessoas de 60 anos ou mais de idade em 2022.>
De acordo com dados da Arquidiocese de São Salvador, a capital baiana possui 589 igrejas. O número de farmácias é 64% maior. Ao todo, a cidade tem 966 farmácias, de acordo com dados do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia (CRF-BA). Houve um crescimento de cerca de 10 vezes em 15 anos na cidade. Em 2010, o número era de 187. >
O perímetro que engloba Pituba, Caminho das Árvores e Itaigara é o que mais tem farmácias. Ao todo, são 55. A faixa etária e a condição econômica dos moradores são fatores que explicam a expansão do setor neste núcleo territorial. Em 2023, 11,4% dos moradores da Pituba, por exemplo, tinham mais de 65 anos. Já a renda média mensal por habitante do bairro era de R$ 3,1 mil. "Com pessoas vivendo mais tempo, vão ter mais doenças presentes também. É natural que pessoas mais idosas tenham mais comorbidades no decorrer da vida, como doenças crônicas e do aspecto do quadro cognitivo", diz Gibran Sousa, diretor do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado da Bahia (Sindifarma). >
Em 2023, foram abertas em torno de 100 drogarias novas. Ou seja, uma drogaria foi inaugurada na cidade a cada três dias, em média. O número foi repetido em 2024. A tendência, aliás, é que o crescimento continue nos próximos anos. "Enquanto continuar valendo a pena para as empresas abrirem farmácias, vão continuar aparecendo lojas. Elas não estão vendendo só medicamentos, elas estão vendendo mais coisas, então elas estão oferecendo mais serviços", avalia Cabral.>
A legislação também contribui para esse crescimento no número de farmácias. "Nossa legislação é muito tranquila em relação à propaganda. Então, existe muita propaganda de medicamento, a gente vê isso o tempo todo. Não é tão comum em outros países", complementa o pesquisador. >
Os dados mais recentes do Anuário Estatístico do Mercado Farmacêutico são de 2023. O mercado farmacêutico brasileiro atingiu um faturamento de aproximadamente R$ 142,43 bilhões em 2023, representando um crescimento nominal de 8,53% em relação a 2022. Foram comercializadas 5,77 bilhões de embalagens, um aumento de 1,03% comparado ao ano anterior, abrangendo um total de 14.108 tipos de apresentações.>