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Mais de 640 mil famílias dependem de auxílio para comprar gás na Bahia

89,4% dos lares dependentes são comandados por mulheres

  • Foto do(a) author(a) Millena Marques
  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Millena Marques

  • Larissa Almeida

Publicado em 3 de janeiro de 2025 às 05:00

Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), gás de cozinha
Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), gás de cozinha Crédito: Shutterstock

Depois de nove reajustes em 2024, comprar o gás de cozinha se tornou ainda mais custoso para os baianos. Mas, para algumas pessoas, a dificuldade é ainda maior. Mesmo com redução de 10% em relação ao ano de 2022, 649.547 famílias baianas ainda dependem do Auxílio Gás para ter o botijão dentro de casa, de acordo com dados de dezembro deste ano da Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único (Sagicad).

Com as festas de final de ano, o movimento na cozinha para fazer a ceia de Natal, preparar a refeição do Ano Novo e garantir a satisfação gastronômica das visitas ainda fez com que o gás acabasse ainda mais rápido em muitos lares baianos. Esse foi o caso da atendente Joilza Sousa, 45 anos, que teve que comprar um novo botijão antes do planejado justo na véspera de Natal.

“O meu gás foi embora quando eu estava fazendo a ceia. Foi um desespero para saber onde ia achar um lugar para comprar, porque já era de noite. Acabei conseguindo comprar, mas com um preço absurdo. Cada dia que passa está ficando mais caro. O pior foi que não estava nos meus planos”, afirma ela, que chegou a chamar o filho para ajudar no valor diante do orçamento apertado na reta final de 2024.

No ano de 2022, havia 724.140 famílias dependentes do programa social na Bahia. A quantidade total, que representou um aumento de 2,8% em relação ao ano de 2021, decaiu no ano seguinte para 660.816 famílias (-8,7%). Entre 2023 e 2024, a tendência de queda se manteve, com redução de 1,7%.

Robério Souza, presidente do Sindicato dos Revendedores de Gás do Estado da Bahia (Sinrevgás), afirma que o menor número de famílias dependentes do Auxílio Gás está ocorrendo por causa de um processo de reformulação do programa. “O Governo Federal entrou no processo de repaginar esse programa social. O gás, por se tratar de um produto social, é um elemento surpresa. Nem todo mundo que recebia o Bolsa Família comprava o gás. Então, houve cortes do governo para reequilíbrio de gastos”, esclarece.

Para Márcio Lima, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) na Bahia, o número de dependentes do auxílio na Bahia pode ser explicado pelos altos índices de desemprego no estado. “As pessoas que estão nessas condições são pessoas que dependem ainda de doações e de ajuda governamental para sobreviver", disse.

De acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Bahia possui a segunda maior taxa de desocupação do Brasil, com 9,7%, atrás apenas de Pernambuco (10,5%). O índice baiano está acima da média nacional, que é de 6,4%. Os dados são referentes ao terceiro trimestre de 2024.

Moradora de Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, Edivania Santos, 24, faz parte dos dois grupos: pessoas que estão desempregadas e que precisam do auxílio. O aumento constante do preço do gás de cozinha é um dos principais problemas para a soteropolitana, que divide casa com o pai, a mãe e uma tia. “Esse aumento nos obriga a abrir mão de outras necessidades básicas para conseguir cozinhar”, contou.

A família de Edivania consome um gás por mês com o auxílio governamental. Neste ano, o produto chegou a ser comprado por R$ 150, no mês de novembro. Para poder economizar e fazer com que o gás dure os 30 dias, algumas "estratégias” foram adotadas.

“Planejamos a nossa alimentação semanal e cozinhamos os grãos na panela de pressão, além de deixá-los de molho”, disse.

Mulheres

Das 649.547 famílias que dependem do Auxílio Gás, 582.041 são de lares comandados por mulheres (89,4%). “O recorte de gênero demonstra o duplo papel desempenhado pelas mulheres, que estão ao mesmo tempo no comando do lar e buscando a renda a fim de garantir um salário no final do mês para manutenção da família”, pontuou Taiane Almeida, mestre em Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento pela Universidade do Recôncavo da Bahia (UFRB).

O Auxílio Gás é um benefício que só é entregue a pessoas incluídas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). O valor equivale a 100% do preço médio do botijão de 13 kg, que atualmente é de R$ 104. Em Salvador e Região Metropolitana, o botijão chega a custar R$ 154, de acordo com dados do Sindicato dos Revendedores de Gás do Estado da Bahia (Sinrevgas).

Alta

A tendência é que, ao longo do ano, os preços subam ainda mais. “Nós aqui da Bahia temos uma particularidade diferente do restante do país. Somos abastecidos pela Acelen, que adota uma política de precificação diferente da Petrobras. A cada dia primeiro do mês, ela revisa os preços e usa como base da precificação três variáveis: o comércio internacional, a cotação do petróleo e a variação do câmbio, que é o dólar”, explicou.

“Diante do cenário atual, são três variáveis muito instáveis, sensíveis e que toda hora aumenta e tem oscilações de mercado. Então, o gás de cozinha provavelmente tem pela frente um 2025 de altas de preço. Espero estar enganado, mas essas são as projeções”, finalizou.

Insegurança alimentar

A dificuldade do acesso ao gás de cozinha e algumas estratégias para economizar o produto estão diretamente relacionadas com a insegurança alimentar, segundo Márcio Lima. "Muitas das famílias que têm mais de um filho, dois filhos, eles têm determinado tipo de alimentos que demoram um tempo mais de cozimento. Então, a qualidade, a mal alimentação ou a falta de terminados de alimentos vai impactar diretamente na segurança alimentar dessas famílias”, pontuou.

Entre 2018 e 2023, a Bahia registrou uma queda na taxa de insegurança alimentar: de 45,3% para 40%. No entanto, foi menor do que a verificada no Brasil como um todo (de 36,7% para 26,7%), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também foi apenas a 21ª redução mais intensa entre as 27 unidades da Federação.

Entre 2017 e 2018, a Bahia tinha o 14º maior percentual de domicílios com algum grau de insegurança alimentar (45,3%). Em 2023, apesar do índice menor 40, o estado passou a ter a 6ª maior proporção do país.