Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 28 de agosto de 2024 às 05:00
Grande parte dos soteropolitanos que acordam cedo para trabalhar ou estudar estão acostumados a usar pelo menos dois meios de transporte – quando não três – todos os dias. A depender do trajeto, o uso pode ser repetido: ônibus, metrô, ônibus ou ônibus, metrô, metrô novamente e ônibus outra vez. O percurso, além de demandar bastante tempo no trânsito, pode ser lento a depender do fluxo de automóveis ou de problemas com o metrô. É por isso que, para otimizar tempo e evitar estresse, mais de 48 mil pessoas estão usando a bicicleta como meio de transporte em Salvador. A informação é da pesquisa Impacto Social do Uso da Bicicleta em Salvador, conduzida em 2023 pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). >
O estudo, que tem patrocínio do Banco Itaú Unibanco, revelou que o quantitativo de usuários de bicicletas em Salvador corresponde a 2% da população. Segundo Victor Callil, pesquisador e diretor administrativo do Cebrap, são três as razões que justificam a preferência por esse modal. “Os ciclistas que participaram do estudo usam a bicicleta por ser mais rápido e porque é mais barato”, aponta.>
No caso de Salvador, ficou constatado que o uso da bicicleta se dá para curtas distâncias e que os ciclistas tendem a usar menos a ciclovia porque, geralmente, vivem longe do sistema cicloviário. Diante desse cenário, Luciana Nicola destaca a importância do estudo para possibilitar mudanças. “O trabalho é importante porque começamos a entender a vocação de cada cidade, que vale para a escolha das estações e para basear o diálogo com o Poder Público na tentativa de intensificar a infraestrutura para os ciclistas”, defende. >
Para o servidor público Tite Duarte, 40 anos, a bicicleta é a única forma de transporte utilizada para circular no bairro do Rio Vermelho, onde mora, tanto pela economia quanto pela praticidade. “Eu faço tudo de bicicleta, seja ir à academia, supermercado ou à casa de um amigo. Prefiro a bike porque carro tem manutenção muito cara e, como não preciso dele para trabalhar, não tem motivo para deixá-lo parado na garagem de casa”, afirma.>
Já o pedreiro Antônio Bonfim, 53 anos, faz uso da bicicleta como meio de transporte há cinco meses e, desde então, passou a usá-la sempre que precisa sair de casa, na Vasco da Gama, para os bairros da Pituba, Itaigara e até Itapuã. “É mais prático porque não pego ônibus, não tem tumulto e eu prefiro para fugir do trânsito, que aqui na capital é muito estressante. Às vezes fico esperando o ônibus por uma hora e, de bicicleta, em meia hora estou no trabalho.>
Além da economia pessoal, há também como a cidade poupar recursos que hoje são destinados à saúde. Os cálculos da pesquisa permitem estimar que, caso a população de Salvador tivesse o mesmo padrão de atividade física dos ciclistas, poderia haver uma economia de até 14% dos custos do SUS municipal com internações ocasionadas por doenças do aparelho circulatório e diabetes. Isso equivale a uma economia de R$ 19,4 milhões de reais. >
“Nós temos estudos dentro da área de saúde que apontam que, quando há aumento da atividade física da população, pode haver uma incidência menor de doenças. No caso, mensuramos a diabetes e doenças do aparelho respiratório”, conta Victor Callil, pesquisador e diretor administrativo do Cebrap. >
A estimativa não leva em consideração custos com medicamentos nem os gastos com outras doenças, o que significa que o impacto na saúde com o aumento do uso da bicicleta pela população poderia ser ainda maior. De acordo com o cardiologista e médico esportivo Eduardo Lisboa, a bicicleta é recomendada por trazer inúmeros benefícios à saúde. >
“Pedalar regularmente fortalece o coração, melhorando sua eficiência e reduzindo o risco de doenças cardíacas, hipertensão e derrames. A atividade física constante promove a circulação sanguínea, ajudando a controlar os níveis de colesterol e triglicerídeos, fatores essenciais para manter o coração saudável”, diz. >
A prática também melhora a capacidade pulmonar e aumenta a resistência física. Ainda, libera endorfinas, substâncias que promovem o bem-estar, combatem o estresse e melhoram o humor, contribuindo para a saúde mental, que está diretamente ligada à saúde cardiovascular.>
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo>