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Millena Marques
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 21:59
Trinta e nove dias após o grupo petista perder a eleição municipal em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, a prefeita Moema Gramacho (PT) demitiu, ao menos, 1.666 pessoas relacionadas aos cargos de comissão. Parte dos servidores demitidos, inclusive, informou que não recebeu o salário de outubro, enquanto outros tiveram a remuneração descontada. A população, por sua vez, relatou a precarização de serviços básicos, como a limpeza urbana e o funcionamento de escolas. >
O CORREIO levantou o número de demitidos em publicação feita no Diário Oficial do Município (DOM), no último dia 14. No entanto, os servidores indicam que a quantidade de demissões é maior. “Eu tenho certeza de que é maior, fora os fantasmas, que não vão para essas listas”, afirmou Lenildo Eduardo de Jesus, 50, que trabalhava como fiscal na Secretaria de Trânsito e Transporte (Settop) há cerca de dois anos. >
Lenildo, inclusive, é um dos trabalhadores que receberam a remuneração do último mês de trabalho descontada. A diferença foi de R$800. “Meu salário era R$2 mil, e eu recebi R$1,2 mil. Isso me prejudicou demais, a mim e aos meus colegas. Tem gente que nem está com o nome no Diário Oficial (na lista de demissões) e não recebeu dinheiro ainda. É isso que não dá para entender”, contou. >
Esse é o caso da funcionária Bruna Indiara Barreto, 32 anos, que trabalha em uma unidade básica de saúde do município há cinco anos. Sem o nome da lista, a servidora não recebeu no mês de outubro, sem qualquer aviso prévio, assim como as demissões. “Não teve nenhuma informação. O dinheiro só não caiu”, disse. >
As mudanças impactaram diretamente a vida dos servidores. Bruna, por exemplo, teve que voltar a morar com o pai porque não conseguiu manter o aluguel e as despesas do filho, de 12 anos. “Agora, com a falta de dinheiro, estou indo quase todos os dias para a UPA de São Cristóvão. Sem dinheiro, tive que entregar a casa de aluguel e voltei para casa do meu pai para colocar meu filho debaixo de um teto. Estou desesperada”, disse. >
Outra servidora da prefeitura, que não se identificou por medo de represálias, informou que recebeu o salário após 15 dias de atraso, com um desconto também de R$800, apesar de não ter sido demitida. “Eu tive que negociar com a minha chefia para trabalhar menos horas. Não sou o único caso isolado, a maioria dos trabalhadores (passa por essa situação). Eu acho que é muito cruel. A pessoa trabalha como qualquer outro ser humano e não recebe um aviso prévio”, relatou. >
Precarização >
A precarização de serviços básicos após o resultado das eleições é destacada pelos servidores demitidos e moradores da cidade. O filho de Lenildo, de 11 anos, não passa 3 horas sequer na Escola Municipal Constantino Vieira, em Portão. Isso porque falta porteiro, prestadores de serviço de limpeza e funcionários da cozinha. “Os alunos estavam sendo liberados 10h. Não estava tendo aula direito. Parece que algumas professoras também estavam sendo exoneradas. Sem contar o fedor que fica na escola”, relatou. >
No loteamento Miragem, o serviço de coleta do lixo urbano foi afetado a partir da noite do dia 6 de novembro, só voltou a acontecer no dia 9. “Depois disso, a coleta voltou, mas de forma precária. A nossa questão não é só a coleta seletiva, mas um problema sério com descartes indevidos”, contou Sandra Guido, Associação dos Moradores e Proprietários do Loteamento Miragem (AMOM). >
O Miragem possui um ecoponto, utilizado para descarte de recicláveis, que está sobrecarregado porque a prefeitura não está fazendo a retirada do material. “Quando lotam, eles mandam tirar. Depois dessa greve (da precarização dos serviços), ele está uma calamidade. A suspensão do lixo aconteceu após o resultado das eleições. Aqui, no Miragem, não demorou muito por causa, talvez, da exposição que damos, mas outros pontos na cidade demoraram mais”, disse Sandra. >
Já a estudante de Pedagogia Gabriela Gomes, 23, contou que um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) onde a prima é atendida está sem agentes de limpeza e alimentação para funcionários. “Se antes chegava 12 quentinhas, hoje chega 7. Eu e várias outras pessoas ficamos com muito medo da unidade ser desligada. Teve até um dia que o atendimento foi cancelado para todo mundo por conta da falta de manutenção que era responsabilidade do pessoal da limpeza que foi desligado”, relatou. >
A prefeitura de Lauro de Freitas foi procurada para responder sobre as demissões, os salários atrasados e a precarização dos serviços. No entanto, não havia respostas até o fechamento desta matéria.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro >