Mais da metade dos casos de doença transmitida por gatos na Bahia foram registrados em Salvador

Capital baiana já registrou 996 casos da doença em humanos neste ano

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  • Maysa Polcri

Publicado em 10 de julho de 2024 às 06:15

Sandra resgatou três gatos com esporotricose
Sandra resgatou três gatos com esporotricose Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

De todos os 1.640 casos de esporotricose humana registrados na Bahia entre 2022 e junho deste ano, 996 foram em Salvador. É o que apontam dados divulgados pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), a pedido da reportagem. As ocorrências na capital baiana correspondem a 60,7% de todos os casos no estado. Só neste ano, foram 175 registros da doença transmitida por gatos na cidade.

A esporotricose é causada por fungos do gênero Sporothrix. Os animais de estimação e as pessoas se contaminam através do contato com solo e vegetação onde os fungos estão presentes. Por isso, a esporotricose também é conhecida como doença do jardineiro.

Um animal contaminado pode transmitir a doença para outros animais e para seres humanos. Os sintomas mais evidentes da contaminação nos pets são lesões que não cicatrizam, especialmente na região da cabeça.

Em menos de um ano, a protetora de animais Sandra Muniz, 59, resgatou três gatos com esporotricose nas ruas de Salvador. Ela leva os animais resgatados para casa, onde realiza o tratamento e, depois, os coloca para adoção. Ciente dos riscos da doença evoluir para casos graves nos felinos, Sandra procurou o Centro de Controle de Zoonose (CCZ) de Salvador todas as vezes - o contato é feito através do Disque 156.

Esporotricose causa lesões que não cicatrizam nos animais
Esporotricose causa lesões que não cicatrizam nos animais Crédito: Reprodução/Redes sociais

“Todos estavam com a cabeça muito machucada por causa da doença. O último que resgatei foi em janeiro deste ano. Deixei ele isolado para não contaminar os outros animais e chamei a zoonose”, conta Sandra Muniz. Os especialistas diagnosticaram a doença e forneceram os medicamentos de forma gratuita. O tratamento é feito com remédios antifúngicos e dura, em média, de seis a dez semanas.

Somente neste ano, o Centro de Controle de Zoonose de Salvador recebeu 646 notificações de animais possivelmente infectados com a doença. Desses, 318 tiveram o diagnóstico positivo para esporotricose. Em todo o ano passado, 993 animais testaram positivo.

A capital baiana conta com a Unidade Móvel de Zoonoses (UZM) desde de 2022. O projeto é inédito no país e faz atendimento gratuito de animais com suspeita de esporotricose. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a unidade móvel atende todas as regiões de Salvador, de acordo com as demandas recebidas pelo 156. A doença é de notificação obrigatória no município desde 2018. 

"A esporotricose é uma doença que tem tratamento e o abandono não é a solução. Se a pessoa tiver condições financeiras, deve procurar um médico veterinário e, caso não tenha, pode entrar em contato com o 156 para solicitar o atendimento e acompanhamento gratuito dos animais", indica Andrea Salvador, diretora de Vigilância Epidemiológica do município. 

Quais são os riscos?

Se não tratada em animais, a esporotricose pode levar à morte. “A lesão é degenerativa e vai tomando proporções. Isso abre portas para outras patologias, seja uma infecção mais grave, presença de larvas ou até necrose óssea com perda do membro lesionado”, explica o médico veterinário Fernando Oliveira.

Animais com acesso às ruas estão mais sujeitos a contaminação, inclusive, pelo contato com outros animais. “A maior parte das lesões ocorrem na cabeça porque os gatos, quando brigam, se machucam nessa parte do corpo”, completa o veterinário.

Os três gatos resgatados por Sandra Muniz foram curados da doença. “Hoje eles estão bem e saudáveis, felizmente”, diz. A protetora dos animais abriga atualmente 31 felinos em sua residência, em Salvador. Quem tiver interesse em realizar a adoção de algum deles, pode entrar em contato através do telefone 71 98171-9829.

Não existe vacina para a esporotricose. Por isso, os tutores devem tomar cuidado ao entrar em contato com os animais infectados. “Os cuidados de prevenção devem ser parecidos com a covid-19. As pessoas precisam utilizar luvas para manusear os animais e desinfectar com hipoclorito de sódio [água sanitária] os objetos utilizados pelos animais”, ressalta o veterinário Fernando Oliveira.

Em humanos, o tratamento da doença também é feito com medicamentos antifúngicos. Se não tratada corretamente, a infecção pode atingir os pulmões e levar à morte. Caroços doloridos e inchados são os sintomas mais frequentes em seres humanos.