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Larissa Almeida
Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 22:06
Tudo começou em Itapuã e voltou para lá. Após anos de reclamações de moradores, a Lavagem de Itapuã, que havia ganhado enorme proporção há uma década, completou 120 anos nesta quinta-feira (20) celebrando a tradição desde a madrugada com número reduzido de participantes. Engana-se quem pensa que, por conta disso, o evento não ficou cheio. >
Antes mesmo do amanhecer, o bloco Bando Anunciador ganhou as ruas do bairro para convocar os moradores para a festa religiosa, como acontece desde o início da história da celebração. Eles desfilaram fantasiados e tocando instrumentos musicais para aquecer o clima festivo. >
Depois que o sol raiou, foi a vez de as baianas de acarajé e mães de santo tomarem a frente do cortejo. Saindo de Piatã, elas seguiram o caminho de dois quilômetros até a Igreja da Nossa Senhora de Itapuã e tiveram fôlego para cantar músicas em iorubá durante todo o trajeto debaixo do sol. >
Quando chegaram já encontraram quem as aguardava para fazer a tradicional lavagem das escadarias do espaço sagrado. Para o momento, não faltou vassoura, água e sabão, além de folhas de pitanga e pétalas de rosa para atrair boas energias. >
O tradicional café da manhã, batizado de Café Nativo, antes servido por Dona Niçu – figura já falecida que se tornou o símbolo da Lavagem de Itapuã – foi mantido pelos filhos. Depois que se alimentaram, os participantes da festa foram ver de perto as pequenas apresentações de artistas do bairro, dentre eles o Malê Debalê e o bloco Itapuãzeiros, que fez homenagens a Dorival Caymmi. >
A baiana de acarajé Deyse Silva de Jesus, 67 anos, marcou presença no evento que acompanha desde a infância. Ela foi uma das encarregadas de dar banho de cheiro em moradores, visitantes e turistas que compareceram à celebração e ouviu de perto os pedidos de proteção a até mesmo de marido. O mais importante, no entanto, foi ver viva a tradição. >
“Eu vi muitas idosas vestidas de baianas e elas conseguiram trazer o resgate da nossa ancestralidade. Nós estamos acompanhando esse resgate e vamos ter que mantê-lo, para não morrer. Em todos os balaios que estiveram no cortejo, em todos os presentes, havia fundamento. Jogamos milho branco e pipoca. Ali estava o fundamento, ali estava a representatividade do candomblé dentro de uma festa religiosa e profana”, destacou. >