Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Elaine Sanoli
Wendel de Novais
Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 17:31
Em meio aos diferentes casos de violência associados à apropriação de sinais por facções criminosas de Salvador, o cantor Igor Kannário criticou o uso dos símbolos como uma representação desses grupos. Durante um episódio do programa 'Groovadinho de Verão', do Macaco Gordo, o músico relembrou a origem e importância de sinais como o "paz e amor", feito ao levantar apenas os dois dedos, para a população das favelas da capital baiana. >
"Eu sou do tempo da Hangloose, do Fido Dido, Bad Boy, Quiksilver, sempre foi arte, que foi transformada por pessoas como nós, [mas que] têm outras ideologias e fazem de um símbolo, de um verso, de uma frase, algo para se vangloriar, esquecendo que existem populares, crianças, jovens, um mundo que não aborda essa manifestação que o tráfico faz", opinou Kannário. >
Nos últimos meses, o tema tem ganhado espaço e repercussão por conta execuções orquestradas por facções criminosas. Um dos exemplos mais marcantes de resposta brutal aos sinais foi a execução dos irmãos Daniel Natividade, 24 anos, e Gustavo Natividade, 15, vítimas de traficantes do Comando Vermelho (CV). Os dois, que eram músicos do bloco afro Malê Debalê e não tinham qualquer envolvimento com o crime, foram mortos horas depois de posarem para uma foto durante um passeio em Emissário de Arembepe, área turística de Camaçari.>
Nas mãos, as vítimas e outras duas pessoas faziam o ‘sinal do 3’, o que, para seus assassinos, saudava o Bonde do Maluco (BDM). Apesar de baianos, os irmãos eram de Salvador e estavam em Emissário como turistas, desconhecendo a realidade da região.>
"O que não pode é tirar o direito de ir e vir dos moradores de respeito que acordam cedo, que batem o cartão, trabalham mais de não sei quantas horas para ganhar um salário mínimo que é uma merda no nosso país. É sobre essas coisas", acrescentou o cantor de pagode durante a entrevista. "Eu peço aos moradores da favela que tenham paciência. No meu tempo, os coroas do crime que passavam na minha frente, quando eu era garoto, sempre respeitaram idoso, trabalhador, criança. Criança não via arma, droga na biqueira, que só funcionava depois que tava todo mundo dormindo. Esses 'bagulhos' não é de ladrão, não. Esses 'bagulhos' não é de chefe. E o chefe que tiver ouvindo eu falar agora, vai 'castelar' e vai dizer: 'O Pivete tá dando a ideia batendo, tá pelo errado'.">