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'Jerônimo influenciou negativamente a avaliação de Lula', afirma CEO do Atlas

Andrei Roman diz que governador da Bahia tem sofrido desgastes nas áreas de Educação e Segurança Pública

  • Foto do(a) author(a) Rodrigo Daniel Silva
  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 18 de março de 2024 às 05:00

CEO do Atlas, Andrei Roman
CEO do Atlas, Andrei Roman Crédito: Divulgação

Os institutos de pesquisas têm apontado uma queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até mesmo nas principais bases eleitorais, como Salvador, onde o petista perdeu sete pontos na aprovação. Para o CEO da AtlasIntel, Andrei Roman, a reprovação do governador Jerônimo Rodrigues (PT) pode ter afetado a avaliação positiva de Lula.

De acordo com Roman, Jerônimo Rodrigues tem sofrido desgastes nas áreas de Educação e Segurança Pública. Segundo ele, a portaria da aprovação automática editada pela Secretaria de Educação “repercutiu mal” e contribuiu para aumentar a desaprovação do governador.

Sobre a gestão Lula, Andrei Roman avalia que a comparação com o governo de Jair Bolsonaro (PL) tornou-se insuficiente para a administração petista se manter aprovada pelos brasileiros. Ele ainda entende que as antigas marcas, como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, já não agradam tanto ao eleitorado.

Três pesquisas de opinião recentes, inclusive a da AtlasIntel, apontaram a queda de popularidade de Lula. Ao que podemos atribuir a redução da aprovação do presidente?

É um conjunto de fatores. Não é apenas um evento. Quando se olha a aprovação setorial do governo, existe uma queda em todos os setores. O que indica um quadro geral pior em relação aos últimos meses e tem alguns destaques negativos nesta piora geral. Principalmente, nos setores que eram piores avaliados antes, como a segurança pública e, também nos setores que eram melhores avaliados, como a política externa. O cartão-portal do governo, que era a política externa, teve um desgaste importante, ao mesmo tempo a avaliação de áreas críticas também piorou. Existe, no contexto atual, um esgotamento da comparação com o governo anterior de Jair Bolsonaro, que vinha segurando os indicadores de aprovação de Lula. Quando se pergunta se o governo Lula é melhor ou pior, ainda a avaliação é superior ao desempenho de Bolsonaro. Mas isso por si só não segura mais a avaliação positiva do governo. Não é porque o governo Bolsonaro foi pior que as pessoas precisam avaliar a dinâmica atual como positiva.

"Há uma espécie de fim de lua de mel (do eleitor) com o governo Lula"

Andrei Roman

CEO da AtlasIntel

As sondagens de opinião, então, mostram que a lua de mel do eleitor com o governo Lula acabou?

Sim. Existe um esgotamento da habilidade do Lula de segurar bons índices de avaliação a partir de uma comparação com o governo Bolsonaro. Podemos definir como uma espécie de fim da lua de mel com o governo atual.

A economia é um fator para a queda de popularidade do presidente?

A avaliação da economia piorou em relação à pesquisa passada, ao mesmo tempo em que teve melhorias em indicadores. O PIB veio acima do esperado e o desemprego está em queda. Houve um aumento pontual da inflação dos alimentos no início do ano. Mas não acredito que isso, por si só, deveria explicar a piora das expectativas econômicas. Provavelmente, a avaliação da economia foi feita no conjunto de avaliação geral do governo, como as pessoas estão menos satisfeitas com o governo acabam também avaliando de forma pior a economia. Não é o ponto econômico que é o principal para a explicação do que está acontecendo na atuação com aprovação do Lula.

O que seria, então, os motivos para a queda da aprovação?

O governo atual está adotando marcas antigas sem ter marcas novas. O Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida continuam sendo destaques para o governo, mas são marcas antigas. Há um certo anseio (por novas marcas), principalmente, de pessoas que não se identificam mais tanto com essas propostas, até porque mudaram de vida ao longo dos 20 anos. Parece que essas pautas antigas não são mais tão relevantes hoje como eram no passado. O governo não tem uma grande pauta integradora e marcas fortes que possam, de alguma forma, substituir as marcas antigas. Junto com isso tem alguns elementos pontuais, principalmente, a política externa, com declarações que não foram acolhidas bem pela maioria da população. As falas sobre Venezuela, uma certa relativização do regime autoritário, e as falas sobre Israel. Entre o eleitor evangélico, a percepção do governo piorou muito depois da fala de Lula sobre a crise humanitária que está acontecendo na Faixa de Gaza depois que Israel que foi à guerra contra o Hamas.

A gestão Lula é ainda nova porque só tem um ano e três meses. O governo deve se preocupar com essa redução de popularidade?

Deve se preocupar. Qualquer queda de aprovação, em qualquer momento, deve preocupar. O fato de ser agora deveria preocupar até mais porque não tem tantos indicadores objetivos, principalmente, na economia que pioraram. Então, tem a piora do governo em um contexto econômico ameno.

A pesquisa do Atlas/A Tarde divulgada na semana passada mostra que Lula também caiu na aprovação em Salvador. Os fatores seriam os mesmos da queda da avaliação positiva no País?

Existe uma certa contaminação do contexto estadual. Então, a gente vê que, no contexto estadual, a reprovação ao governador Jerônimo subiu mais do que a reprovação do Lula. Talvez, isso pode ter impactado um pouco na aprovação do presidente. Não dá separar quais fatores impactaram de maneira independente porque o próprio eleitor não faz essa interpretação com tanta clareza. Mas, talvez, a possível piora da avaliação do governo estadual (pode ter afetado a avaliação de Lula), que é um alinhado.

Então, a rejeição a Jerônimo influenciou negativamente a avaliação de Lula?

Sim. Pode ser. Mas um pouco do reverso também é verdade. Quando a aprovação geral do governo federal piora. Isso acaba afetando os governadores alinhados. Então, pode ter um pouco do efeito contrário. Talvez, menos porque, quando a gente compara os dois indicadores, a gente vê que a aprovação de Lula caiu, mas a desaprovação não subiu. Já a desaprovação de Jerônimo subiu. Então, quem mais impactou negativamente foi o governo estadual no governo federal.

"Tem dois setores mais vulneráveis para Jerônimo: a Educação e a Segurança Pública"

Andrei Roman

CEO do AtlasIntel

E a que se pode atribuir a desaprovação de 53% dos eleitores de Salvador a Jerônimo?

Tem dois setores mais vulneráveis para Jerônimo. A Educação, que foi durante a campanha (de 2022), muito atacada por ele ter sido secretário de Educação. Então, naturalmente, as críticas continuaram centradas na pauta de Educação. Se ele conseguir reverter este quadro, mostrando uma grande melhora no sistema educacional, isso se refletiria numa aprovação geral melhor. Parece que não está sendo o caso e mais do que isso teve uma polêmica recente sobre a questão da aprovação automática dos alunos. Provavelmente, repercutiu mal e parte da dinâmica atual tenha a ver com essas declarações. Um segundo ponto é a questão da segurança pública no estado. Não é apenas o caso da Bahia. É um caso de todo o Nordeste e alguns estados do Sudeste. É uma pauta que gera muita atenção e escrutínio público. O governador teve uma postura bastante forte em termos de declarar apoio à Polícia Militar e divergiu um pouco da cultura mais clássica da esquerda em relação à segurança pública. Mas a realidade das estatísticas da segurança continuam ruins. A situação da segurança pública não é boa e se reflete na dinâmica nos indicadores de aprovação do governo.

A pesquisa abordou Salvador, mas o senhor acredita que há um crescimento da desaprovação de Jerônimo em todo o estado?

Não temos uma pesquisa para comentar sobre a Bahia. Agora, a chance disso refletir de maneira mais ampla é bastante grande porque as razões que a gente analisou, como a percepção da Segurança e Educação, não são apenas relevantes na capital. São relevantes no estado todo, mas para entender melhor teríamos que ter uma outra pesquisa.

Sobre a eleição de 2024 em Salvador, há um favoritismo de Bruno Reis?

Sim. Sem dúvida. É uma pesquisa que mostra que hoje ganharia no primeiro turno com mais de 60%.

Andrei Roman é doutor e mestre em Ciência Política pela Harvard University. É co-fundador do instituto AtlasIntel. O instituto de pesquisa AtlasIntel atua, além do Brasil, em países da América Latina, como México e Argentina, e nos Estados Unidos. A empresa faz o levantamento dos dados a partir de questionários aleatórios respondidos por usuários de internet.