Itapuã: mestre-de-obras morreu em fogo cruzado entre a polícia e o Comando Vermelho

Homem também era obreiro em uma igreja Pentecostal e estava voltando do trabalho quando foi atingido

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  • Bruno Wendel

Publicado em 24 de agosto de 2024 às 16:45

Vitima ficou no meio do fogo cruzado Crédito: Arquivo CORREIO

Ao sair de uma casa onde trabalhava, o mestre-de-obras e obreiro Ernesto Souza da Silva Lima, de 49 anos, chegou a ver uma viatura da Polícia Militar passando na localidade de KM-17, em Itapuã, mas acreditou que era uma mais ação rotineira. Depois de dar alguns passos – uma fração de minuto – Ernesto já se encontrava no meio de um fogo cruzado: de um lado a Rondesp Atlântico e o do outro, o Comando Vermelho.

“Ele foi baleado no tórax. Os policiais ainda o socorreram para o Hospital Menandro de Faria, em Lauro de Freitas, mas veio a óbito”, relata um parente, pouco depois de fazer o reconhecimento do corpo do trabalhador, na manhã deste sábado (24), no Instituo Médico Legal (IML), na Avenida Centenário.

Ernesto deixou sete filhos Crédito: Reprodução

“A família está arrasada. Ele era um homem que morreu trabalhando, porque já estava decidido sair do bairro e ir embora por causa da violência. Desde que essa facção chegou lá, há uns três meses, é isso direto: vários confrontos com a polícia. A insegurança ceifou mais uma vez a vida de um inocente”, declara o parente.

A tragédia aconteceu por volta das 11h30 desta sexta-feira, numa região dentro do KM-17 conhecida como “Invasão 18”, próximo à casa da vítima. “Ele estava levantando blocos, quando deu o horário do almoço e foi para casa. Quando chegou, notou que esquecer as chaves no local de trabalho e retornou. Assim que pegou as chaves e voltou para a residência dele, foi quando aconteceu”, conta o familiar.

Segundo a fonte, logo após Ernesto ter sido baleado, o confronto parou. “Os policiais pararam de atirar, porque viram que a pessoa baleada se tratava de trabalhador, tanto que ele não foi colocado na mala e sim no banco de trás”, conta.

O mestre-de-obras foi baleado pelas costas. Perguntado sobre a quantidade de disparos que a vítima sofreu, o parente respondeu que “está feio”. “Na minha visão de leigo, pela quantidade de sangue, foram muitos tiros nele”, diz. Questionado quem seriam os autores dos tiros que tiraram a vida do mestre-de-obras, o familiar respondeu: “Esse é o problema. Não sabemos se foi a polícia, se foram os traficantes. Lá impera a ‘lei do silêncio’: ninguém viu nada, ninguém sabe de nada”, declara.

A família disse que a perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT) chegou ao local horas depois, circunstância que pode prejudicar o andamento da investigação. “O tiroteio aconteceu 11h30, mas os peritos chegaram lá às 18h30. Coletaram apenas manchas de sangue no chão, tiraram algumas fotos, mas no local não encontraram cápsulas. Ou seja, se havia alguma, recolheram”, declara o parente.

Ernesto era pai de sete filhos, três deles fruto do primeiro relacionamento, sendo que dois são autistas. Religioso, era obreiro da Igreja Pentecostal do bairro. O mestre-de-obras também era apicultor e agricultou em Ribeira do Pombal, de onde saiu há 13 anos para viver em Salvador, em busca de melhores oportunidades para a família. O corpo será enterrado no cemitério Bosque da Paz. Dia e horário não foram informados.

A reportagem pediu um posicionamento à Polícia Civil e Militar, mas até a publicação não houve resposta.