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Millena Marques
Publicado em 29 de abril de 2024 às 05:00
Sabe aquela sensação de que a internet é movida a manivela? Se você vive na Bahia com certeza sabe. É porque o estado tem o segundo pior desempenho de banda larga do país, com uma velocidade média de download de 98 Mbps. Pior que a banda larga baiana, somente a alagoana, que tem uma velocidade média de 95 Mbps. >
O ranking integra o levantamento feito pela parceria entre os sites MelhorPlano.net e Minha Conexão, que avalia o desempenho de banda larga segundo índices de velocidade de download, upload e latência, de 2023. O Acre é o estado com melhor desempenho de velocidade de internet do Brasil, com média de 280 Mbps – 182 a mais que a Bahia. >
Dois fatores relevantes são responsáveis pelo índice negativo: infraestrutura e condições climáticas da região, segundo Alexandre Martins, gerente de produto dos dois sites. “Quando a gente fala de estados que a população está mais concentrada no litoral, a gente tem esse comportamento. Existe uma dificuldade de entregar uma boa conexão nessas regiões pela infraestrutura de passagem de fio, que acaba ficando mais caro”, explica. >
Juliana Pereira, 29 anos, trabalha como atendente da área de suporte da Scooto, central de relacionamento entre cliente e empresa. A qualidade da internet é essencial para realizar um bom trabalho, uma vez que todas as atividades são feitas remotamente. “Sem internet, eu não consigo trabalhar. Trabalho de 14h às 20h, de segunda a sexta”, afirma. >
Por dois anos, Juliana utilizou um plano de uma operadora de grande porte nacional. Nesse período, inúmeros foram os perrengues, incluindo atraso para o trabalho. “Já teve situações de ficar sem internet e ter que avisar as coordenadoras que eu ia ter que me atrasar. Às vezes, a internet ficava instável ou fico sem internet durante minutos ou horas”, relata. Esse problema é prejudicial à operação do serviço, uma vez que as demandas de Juliana vão para outra pessoa. >
Já a jornalista Marina Fernandes, 26, ainda utiliza um provedor de internet de grande porte. Estudando para concurso público, a comunicadora chegou a ficar 48 horas sem internet. “Eu preciso de internet porque estudo basicamente online. Se não me engano, isso aconteceu duas vezes. Acabei usando a internet do celular, que é mais lenta também, então, nem sempre dá para carregar direito as aulas”, relata. >
Outro ponto importante é a questão socioeconômica de cidades do interior baiano, que acabam afetando o resultado geral do estado. Isso envolve desde pessoas que não possuem acesso à internet ou a aparelhos eletrônicos com capacidade de extrair grandes velocidades de conexão. “Do ponto de vista do provedor, há a dificuldade do investir na qualidade da sua infraestrutura. Eu estou falando de provedores regionais, que atuam especificamente nessas cidades do interior”, continua. >
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 2 milhões de pessoas não utilizaram internet na Bahia em 2022, ano do último levantamento. Esse número representar 15,5% da população de todo o estado. Destes, 48,1% não sabiam utilizar o serviço e 19,9% alegaram serviço à internet ou equipamento necessário caro. >
O Acre é o estado com melhor desempenho de velocidade de internet do Brasil, com média de 280 Mbps – 182 a mais que a Bahia. Essa discrepância é explicada por questões de relevo e condições climáticas. “Há uma dificuldade de passar fio e tem a questão de investimento em infraestrutura”, explica Martins. No Nordeste, o Piauí possui o melhor desempenho, com 190 Mbps. >
Os testes de velocidade foram feitos pelos sites de janeiro a dezembro de 2023. No site Minha Conexão, o usuário consegue fornecer a latitude e longitude dele. Com isso, a equipe mede qualidade de download, upload e ping de conexão do provedor. Além disso, o usuário consegue dar uma nota e avaliar o provedor dele em estrelas, de 1 a 5 estrelas. >
O CORREIO solicitou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o número de reclamações relacionados ao serviço de internet na Bahia. Até o fechamento desta matéria, não havia resposta.>
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo >