Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 13 de junho de 2024 às 05:00
Conhecido popularmente como cobrão, o herpes-zóster – doença que se caracteriza pela reativação do Varicela Zoster, vírus que causa a catapora – foi responsável por 155 internações registradas na Bahia em 2023. O número é quase 70% maior em relação ao que foi computado em 2022, quando 92 pessoas deram baixa hospitalar por conta dessa condição, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH), do Ministério da Saúde.
Entre os motivos do crescimento de casos está o envelhecimento da população que tem risco de desenvolver a doença. De acordo com Claudilson Bastos, infectologista e consultor técnico do Sabin Diagnóstico e Saúde, qualquer pessoa pode ter o herpes-zóster, mas a condição é mais comum em pessoas idosas e imunossuprimidas. Ele acredita que com o envelhecimento da população – que a partir dos 50 anos se torna mais suscetível ao vírus – os riscos aumentam.
A doença, que pode se manifestar a qualquer momento da vida após a pessoa ter apresentado catapora, costuma ter fases de evolução. A primeira delas é a prodrômica, fase que antecede o aparecimento das lesões com dor de cabeça, mal-estar, sensações anormais na pele, dor e febre. Em seguida, há a fase aguda, momento que conta com o aparecimento de bolhinhas com água em um lado do corpo e dor que, posteriormente, pode evoluir para neuralgia pós-herpética, nome dado à dor em queimação, ardência, agulhada ou choque, que persiste por mais de três meses após o início da erupção cutânea do herpes-zóster.
As bolhinhas com água costumam seguir o trajeto de um nervo. Desse modo, as lesões podem aparecer em qualquer lugar do corpo, mas, em geral, surgem na região do tórax, da lombar e cervical, com o diferencial de sempre ocuparem apenas um dos lados, sem jamais ultrapassar a linha média que divide o lado esquerdo e direito do corpo.
Com a funcionária doméstica Vera Lúcia Pereira, de 58 anos, os sintomas da doença seguiram o quadro típico. Primeiro, ela sentiu algumas dores dias antes das primeiras bolhinhas com água aparecerem nas costas. “Apareceu um calombo que me incomodou e depois vieram as bolhinhas de água que incomodavam e doíam muito. Era muito ruim. Na hora de dormir, eu tentava deitar e incomodava. Na época, lembro que eu tinha passado por um estresse por conta de uma viagem. Estava muito ansiosa e acho que isso tenha contribuído para baixar minha imunidade”, conta.
No caso de Vera, um tratamento com pomada indicada por uma médica fez com que as lesões desaparecessem em menos de um mês. No entanto, nem sempre as vesículas somem sem deixar sequelas. “É importante ressaltar que o vírus pode provocar outros problemas de saúde, como a infecção bacteriana secundária, neuralgia pós-herpética, meningites, AVC e síndromes que podem provocar incapacidade ou limitação física, como a de Ramsay Hunt”, alerta Claudilson Bastos.
Em pacientes imunodeprimidos, ou seja, que fizeram transplante e tomam imunossupressores, as bolhas surgem em localizações atípicas e, geralmente, disseminadas, o que pode gerar complicações. O envolvimento do nervo facial (o sétimo par craniano), ou seja, de nervos que fazem conexão com o cérebro, leva à combinação de paralisia facial periférica e rash (lesão) no pavilhão auditivo, denominada síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico de recuperação pouco provável.
Já o acometimento do nervo facial (paralisia de Bell) apresenta a característica de distorção da face. Lesões na ponta e asa do nariz sugerem envolvimento do ramo oftálmico do trigêmeo (uma das três divisões do nervo trigêmeo, que é o quinto nervo craniano), com possível comprometimento ocular.
Sem cura, o herpes-zóster, de modo geral, tem tratamento com drogas antivirais e também pode ser prevenido. “A forma mais eficaz de prevenção é a vacina recombinante a partir dos 50 anos e, a partir dos 18 anos, para pessoas com risco elevado de desenvolver a doença. Esta vacina, ainda, só se encontra em clínicas privadas e o custo é considerado alto, mas vale ressaltar que o custo do internamento e de perda de qualidade de vida é significativamente maior que o preço da vacina”, finaliza o infectologista Claudilson Bastos.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro