Indígenas da Bahia chegam ao Rio para encontrar manto sagrado

Item sagrado estava na Dinamarca desde o século 17

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Publicado em 9 de setembro de 2024 às 07:49

Indígenas da Bahia chegam ao Rio para encontrar o manto tupinambá Crédito: Reprodução / Redes sociais

O povo Tupinambá da Bahia chegou ao Rio de Janeiro para encontrar o manto sagrado devolvido ao Brasil depois de séculos na Dinamarca. O item repatriado está no Museu Nacional do Rio e os indígenas se reuniram no último sábado (7) para celebrar o manto. A cerimônia está marcada para os dias 10 a 12 de setembro.

Vídeos mostram um grupo já no outro estado em direção ao local. Eles são alguns dos 4,6 mil indígenas no Território Tupinambá de Olivença, formado por 23 aldeias, entre os municípios de Ilhéus, Buerarema e Una. 

O ancestral sagrado, para essa etnia indígena, é um manto vermelho com penas da ave guará que desembarcou no Brasil sob sigilo em julho. Desde o século 17, ele estava na Dinamarca.

A relíquia deu o primeiro passo do retorno no dia 15 de maio, quando foi retirada de exposição pelo Museu Nacional de Copenhague, o Nationalmuseet, para ser enviada ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Antes disso, em reuniões, lideranças e anciãos tupinambá que vivem no sul da Bahia já planejavam os detalhes do reencontro. 

“Fiquei feliz por ele estar no Brasil”, afirma a cacique Valdelice Tupinambá, “mas triste, porque não achávamos que o manto pudesse chegar sem nós estarmos lá”.

O traje, com 1,2 metro de altura e 60 centímetros de largura, não é apenas divino para os tupinambá. É um símbolo da história do Brasil, confeccionado quando esse povo indígena predominava da costa de São Paulo até o Ceará, no século 16.

Encontro sagrado na Bahia

Aos 84 anos, Rosário Tupinambá, um dos anciões consultados durante a reunião do Conselho, desabafa: “Merecemos esse reencontro”. Foi com o pai, indígena nascido em 1902, que ele aprendeu a sonhar com a volta da relíquia. É assim, de geração em geração, que a história do manto sobrevive na memória, já que a indumentária deixaria de ser produzida.

“Precisamos fazer uma visita. Fiquei muito triste de não ter recebido a notícia. A gente não se aproximou. No momento, quero ver onde ele está”, diz Rosário.

A capa sagrada, segundo a crença de alguns deles, deixou pela primeira vez a aldeia para ficar guardada na Igreja de Nossa Senhora de Olivença, depois que os jesuítas chegaram, no século 16.

A hipótese mais aceita é que ele tenha sido levado por Maurício de Nassau à Dinamarca, depois da ocupação holandesa do Nordeste brasileiro. Na Europa, mantos tupinambás eram usados por nobres em ocasiões especiais, o que denota poder. Depois, eles avolumaram acervos de museus.