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Wendel de Novais
Publicado em 14 de abril de 2025 às 12:00
Os moradores da Engomadeira, em Salvador, e os policiais militares têm diferentes versões da história que acabou na morte de Ana Luiza Silva dos Santos, de 19 anos, que foi baleada com dois tiros na barriga na entrada da Vila de Nanã, onde morava. A população afirma que os PMs chegaram no fim de linha do bairro atirando, enquanto fontes policiais indicam que encontram ao menos três homens armados do Comando Vermelho (CV) que teriam atirado contra os agentes durante uma fuga do local. >
Tia de Luiza, Ana Ildes Pereira dos Anjos, 58, contesta a versão apresentada pelos PMs. “Eles dizem que foram recebidos a tiros, mas é mentira. Tanto que foi dito por eles que os policiais que estavam nessa ação não tinham câmeras. Eles não tinham câmeras na farda porque são homicidas, vêm aqui para matar. Na maioria das vezes, a polícia chega atirando. Já é a segunda pessoa da minha família que eles tiram a vida. Anos atrás mataram meu irmão aqui sentado na mesma rua”, afirma ela. >
Uma fonte policial, que prefere não se identificar, sustenta que os tiros que balearam Luiza não saíram das armas dos policiais. “Antes da ação, os policiais receberam uma denúncia que indicava a presença de três homens armados nessa área, que tem a atuação do CV. Ao chegar no local, eles entraram em confronto com os PMs. Parte deles os tiros que acertaram a menina de baixo para cima na barriga”, argumenta. Os PMs não estavam com câmeras nas fardas durante a ação. >
Ainda de acordo com a fonte, caso as balas que acertaram Luíza saíssem das armas dos PMs, seriam projéteis de fuzis que teriam atravessado o corpo dela, o que, segundo ele, não ocorreu. “As balas ficaram alojadas. Se saíssem de um fuzil, o estrago seria muito maior”, completa ele, que afirma que os três suspeitos envolvidos no tiroteio deixaram a Engomadeira após o confronto que matou a jovem. >
Revoltados com a PM, os moradores afirmam que, no local onde a estudante foi morta, há reincidência de tiros dados por agentes de entrada da rua para baixo, na localidade da Vila de Nanã. “Não teve confronto nenhum. Passou o menino correndo e eles vieram atirando com a rua cheia. Começaram a dar tiro, a menina caiu, passaram por ela no chão e seguiram atirando lá para baixo. Eles sempre fazem assim, daqui para baixo eles atiram”, conta uma moradora, sem se identificar. >
O corpo de Luiza e a entrada da Vila de Nanã vão passar por perícia para revelar de onde saiu a bala que atingiu a jovem. Por conta da ocorrência, os ônibus não estão circulando dentro da Engomadeira desde o momento que a jovem foi baleada, de acordo com informações da Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob).>
De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado, em 2025, quatro tiroteios foram registrados em meio a ações policiais na Engomadeira. Nesses registros, três pessoas, incluindo Luiza, morrera. Em Salvador e Região Metropolitana (RMS) neste ano, já foram registrados 191 tiroteios, 173 mortos e 20 feridos em ações da polícia. >