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Millena Marques
Publicado em 31 de julho de 2023 às 15:11
O homem que foi encontrado morto dentro de um isopor no Porto da Barra, na manhã do último domingo (30), foi flagrado andando de bicicleta no bairro antes do crime acontecer por câmeras de segurança, de acordo com a titular da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), a delegada Zaira Pimentel, responsável pela investigação do crime. A vítima foi identificada como Uziel Silva da Hora, 39 anos, e tinha passagens por furto, roubo e receptação.
O homem foi assassinado em uma residência localizada em uma travessa da Barra, que não teve o nome divulgado pela delegada, para evitar situações de vandalismo, por exemplo. O corpo descartado entre o Forte de Santa Maria e o Farol da Barra, na calçada de pedestres, perto de um quiosque de água de coco, com sinais de violência e marcas de disparos de arma de fogo. "A vítima foi morta em um local, e o corpo foi descartado em outro", informou a delegada.
O fato do homicídio ter acontecido em uma local diferente do descarte do corpo é apontado como uma forma de dificultar a elucidação do caso, segundo a delegada. "O crime é dinâmico. E, sobretudo, o homicídio é um crime complexo. Matam em um lugar e descartam em outro, justamente para que fique mais difícil a elucidação".
Apesar de pessoas em situação de rua do bairro garantirem que o caso se trata de um resultado de mais uma disputa entre facções, a delegada Zaira Pimentel ainda não confirma a relação do homicídio com o conflito entre grupos criminosos. "Ainda está muito cedo para falarmos se foi tráfico ou não", disse ao CORREIO.
De acordo com a delegada, já foram realizadas as oitivas dos familiares e a análise da vida pregressa da vítima — verificação se o homem tinha algum envolvimento com drogas e passagens pela polícia.
Embora a confirmação da motivação do crime não seja uma realidade ainda, a responsável pela investigação afirmou que 89% dos casos de homicídios em Salvador têm relação, direta ou indireta, com o tráfico de drogas. "Não tenho como pontuar se esse caso possui relação com o tráfico, porque a investigação ainda está muito 'verde". Questionada sobre as facções que disputam território na região do Porto da Barra, a delegada preferiu não citar denominações, para que esses grupos não sejam "prestigiados".
Em contrapartida, um homem, que dorme nas imediações do Porto, afirmou que o homicídio aconteceu por disputa de território. "Todo mundo vê e pensa que é morador de rua brigando, mas aqui não está tendo isso. Esse cara não vivia na rua, na certa alguém de outra facção deu de cara com ele, matou e colocou aí. Só não deve ter colocado no lixo porque não coube o corpo dele", disse, sem se identificar.
Quem mora na Barra também não sabe informar quais grupos criminosos seriam envolvidos nos episódios de violência do bairro. Sobre o assassinato de Uziel da Hora, a delegada acredita que foi cometido na madrugada, enquanto o descarte foi feito por volta das 4h: "A pessoa não ia descartar esse corpo às 5h", disse a delegada, salientando que, nesse horário, já existe um fluxo considerável de pessoas no local.
No domingo, após o acionamento do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma equipe de investigadores e agentes do Núcleo de Inteligência da DH/Atlântico estiveram no local, com o objetivo de ter acesso ao circuito de câmeras de segurança. Os policiais recolheram informações sobre a vida pregressa da vítima e de prováveis autores do crime. As diligências perduraram pela madrugada desta segunda, quando, após um Disque Denúncia, a polícia identificou um dos possíveis envolvidos.
Ainda conforme a delegada Zaira Pimentel, o bairro possui muitos circuitos de câmeras de segurança. No entanto, a maioria deles é particular e, muitas vezes, não está funcionando. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) possui dois dispositivos no local, porém, estão instalados em pontos que impedem a captura de imagens do espaço onde o corpo foi descartado. "Estamos analisando o que conseguimos até o momento", disse.
"Criminalidade não escolhe local"
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em Salvador e Região Metropolitana (RMS), a Barra registrou, até a última sexta-feira (28), quatro tiroteios, dois mortos e dois feridos em 2023. Em levantamento da reportagem, porém, pelo menos seis casos graves foram registrados no bairro neste ano.
Questionada sobre o Porto da Barra, cartão postal da cidade, ter sido palco de um crime tão violento como o de domingo, a delegada Zaira afirmou que a criminalidade atinge todos os bairros de Salvador. "O fato de ser Barra não quer dizer absolutamente nada. O crime acontece na cidade inteira, seja homicídio, tráfico ou roubo. A criminalidade não escolhe local hoje", pontuou.
A única diferença apontada pela titular da DH/Atlântico sobre o crime ser na Barra é a possibilidade de obter imagens de circuitos de câmeras de segurança, tecnologia que não atinge outros bairros da capital, que também são palcos de crimes violentos.
*Sob a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro