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Homem encontrado morto em isopor na Barra teria sido vítima de briga de facções

Corpo estava coberto no meio do lixo próximo à praia do Porto da Barra

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 31 de julho de 2023 às 05:10

Corpo foi encontrado por volta das 6h Crédito: Leitor CORREIO

O homem, ainda não identificado, que foi encontrado morto dentro de um isopor na manhã deste domingo (30), no Porto da Barra, teria sido vítima de um conflito entre grupos criminosos da região. De acordo com moradores, todo episódio de violência registrado no bairro acontece por uma disputa por pontos de drogas espalhados em um dos cartões postais com mais movimentação de Salvador.

Uma moradora, que prefere não revelar seu nome e vive em frente ao Porto da Barra, conta que a movimentação de traficantes é constante. "Como a área é turística e a segurança é frágil, eles sempre estão por aqui vendendo droga. Tanto para quem é daqui como para os turistas. O Porto é muito movimentado, então é um ponto que rende e, por isso, ficam brigando para ver quem domina a área", relata ela.

Apesar das facções do Bonde do Maluco (BDM) e do Comando Vermelho (CV) protagonizarem uma guerra em diversos bairros de Salvador, como Tancredo Neves, quem mora na Barra não sabe informar quais seriam os grupos envolvidos nos episódios de violência no bairro. Sobre o homem encontrado no isopor em meio ao lixo, quem trabalha no local afirma que via ele na região da praia regularmente.

"O nome eu não sei, mas via ele direto aqui rodando sozinho e também com outros homens. Não sei de envolvimento dele com tráfico, ele só vivia na região mesmo, era alguém que frequentava muito", diz um barraqueiro que se surpreendeu ao chegar na praia cedo e se deparar com a retirada do corpo feita pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). Ele é outro que não fala o nome por medo de represálias.

Pessoas em situação de rua do bairro, porém, garantem que o caso se trata de um resultado de mais um conflito entre grupos criminosos. "Todo mundo vê e pensa que é morador de rua brigando, mas aqui não está tendo isso. Esse cara não vivia na rua, na certa alguém de outra facção deu de cara com ele, matou e colocou aí. Só não deve ter colocado no lixo porque não coube o corpo dele", fala um homem, que dorme nas imediações do Porto.

A Polícia Civil (PC) foi procurada para responder sobre as circunstâncias do crime e como a vítima teria sido morta, mas não deu detalhes. Em nota, informou apenas que foram expedidas as guias de perícia e remoção para o local e que a 1ª Delegacia de Homicídios/Atlântico ficou responsável pela investigação do caso. Sobre a possibilidade de usar imagens de câmeras do local para identificar quem foi o autor do crime, a polícia não respondeu. Apesar de questionados, tanto a PC como a Polícia Militar não informaram se o homem foi morto a tiros ou de outra forma.

De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em Salvador e Região Metropolitana (RMS), a Barra registrou, até a última sexta-feira (28), quatro tiroteios, dois mortos e dois feridos em 2023. Em levantamento da reportagem, porém, pelo menos seis casos graves foram registrados no bairro neste ano.

No dia 20 de janeiro, houve um tiroteio na faixa de areia do Porto da Barra. Na ocasião, houve correria e um homem, que era investigado por tráfico de drogas, de acordo com a PC, acabou ferido. Em 23 de março, um homem foi morto a tiros na Rua Raul Drummond, próximo à Ladeira da Barra. Ele foi identificado como Jorge Anderson Lima Santos Mezi, 41 anos. Na ação, dois homens chegaram em uma moto e o que estava na garupa disparou contra a vítima.

No dia 6 de junho, um jovem identificado como Gabriel da Silva Costa, 20, foi baleado e morto na Rua Professor Lemos Brito durante a noite. Além de Gabriel, um outro homem, não identificado, ficou ferido e precisou ser socorrido pelos policiais para uma unidade de saúde da região.

Já no dia 26 de junho, Luide Santana de Oliveira foi morto a golpes de faca durante a tarde na praia do Porto da Barra. O suspeito chegou a fugir, mas foi encontrado um dia depois e preso ainda na Barra, na Rua João Pondé. O autor do crime usava tornozeleira eletrônica.

Apesar dos casos registrados esse ano, a questão da violência na Barra não é de agora. Em setembro de 2021, a Polícia Militar chegou a trocar o comando da 11ª CIPM, companhia responsável pela segurança no bairro, por conta de uma onda de violência. Mesmo após a mudança, uma rua do bairro chegou a registrar duas execuções em menos de três meses por conta do tráfico.

A reportagem procurou a PM para falar com o atual comandante da companhia e saber sobre possíveis ações para coibir casos como o deste domingo. No entanto, não teve resposta até o fechamento da matéria.

Violência que assusta

Ainda assim, os números da violência armada na Barra estão longe de se comparar a bairros como o Tancredo Neves, que registrou 33 tiroteios, 12 feridos e 20 mortos até aqui. O que não impede, no entanto, que moradores, comerciantes e frequentadores vejam o bairro como um local inseguro. Emerson da Silva, 32, estava na praia neste domingo pela manhã, mas diz que vai muito menos ao local do que gostaria por conta da violência.

"Eu gosto demais do Porto, saio do Pau Miúdo para vir e costumava chegar aqui semanalmente. Nos últimos tempos, por conta de tiro na praia, facção brigando e a sensação de que algo pode acontecer a qualquer momento, me afastaram", relata ele, que se assustou ao ver a situação justamente no dia que escolheu deixar o medo de lado e curtir sua praia favorita.

José Gonçalves, 54, é morador do bairro e diz que a região está entregue e precisou mudar hábitos para se sentir seguro. "Eu costumava fazer exercícios mais tarde,, durante a noite por volta das 20h. Agora, só faço de manhã porque, apesar de vocês registrarem uma parte, tem muito mais crime rolando, seja homicídio, roubou ou furto que praticam e ninguém faz nada", reclama o morador, destacando que nunca viu o bairro tão inseguro como agora. A Associação de Moradores da Barra (Amabarra) foi procurada para falar sobre a situação, mas não enviou nota ou posicionamento até o fechamento desta matéria.

Uma nova sede da 14° Delegacia Territorial (DT) da Barra até foi inaugurada em maio, mas não deu fim aos problemas. Na época da inauguração, Marcelo Werner, titular da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) afirmou que a sede tinha o objetivo de melhorar as condições de trabalho da PC na região, que registra o maior fluxo de pessoas da capital.

"É uma região tradicional, com muita densidade populacional e apelo turístico. Então, a gente tinha que dar uma melhor condição, realmente, de atendimento a essa área. [...] Essa unidade vem com o propósito de fortalecer os trabalhos investigativos na região e o operativo da polícia militar, integrando as forças policiais", disse Werner, na época.

A reportagem voltou a procurar a SSP para repercutir o amontoado de casos de violência no bairro e questionar sobre um plano de ação específico para segurança na Barra, mas não recebeu resposta da pasta até o fechamento desta matéria.

Corpos no lixo

Essa não é a primeira vez no ano que um corpo é encontrado do lado ou dentro do lixo em Salvador. Pelo contrário, três casos foram registrados em menos de 40 dias na cidade. No dia 29 de junho, o corpo de um homem foi encontrado dentro de uma lixeira no Comércio, na Travessa Frederico Pontes, próximo a Ladeira da Água Brusca.

O local onde um corpo foi encontrado é um ponto de desova de pessoas mortas, de acordo com comerciantes. "Não é a primeira vez que acontece isso aqui, já deixaram corpos umas três vezes. Nunca em uma lata, mas muitas vezes jogado mesmo. A gente não sabe o que é, se é pessoa em situação de rua ou alguém que mataram longe e trouxeram aqui para largar", contou uma proprietária de bar, sem se identificar.

Menos de uma semana depois, um corpo foi encontrado em uma balde de lixo na manhã do dia 3 de julho, na Avenida ACM, nas imediações do viaduto localizado em frente a Igreja Universal. O homem que estava dentro da lixeira tinha um ferimento de tiro na perna. A Policia Civil recebeu a denúncia por volta das 6h40, mas não informou se o corpo estava lá durante toda a madrugada.

Seguranças que trabalham na área afirmaram que viram um 'vai e volta' constante de homens na área às 4h. Comerciantes contam que a região é ocupada por pessoas em situação de rua.

"Nesse viaduto, durante a noite, fica cheio de pessoas que vivem na rua. Eles pegam papelão, estendem no chão e dormem aí. Porém, como tem muita gente, nem todos conseguem ficar embaixo. Alguns ficam mais à frente, onde encontraram o corpo ali", conta uma comerciante, que prefere não se identificar.

Ainda de acordo com ela, as confusões entre quem permanece no local são constantes. "Eu não vejo muita coisa porque não fico na madrugada, que é quando eles estão. Mas, vendendo o café aqui, a gente sempre escuta que um roubou o outro, que teve briga e essas coisas", afirma ela.