Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Priscila Natividade
Publicado em 5 de março de 2024 às 08:59
A primeira reação da maioria é entortar a boca e perguntar: será que isso vai dar certo? Carne, queijo, camarão, pimenta e maionese de dendê. Sim, de dendê. Quando a gente acha que o baiano já fez de tudo, ele vem e cria um hambúrguer de moqueca e estamos aqui para provar. A iguaria é uma invenção da Vk Burguer (@vk.burger), hamburgueria que fica no Stiep e uma ideia colocada em prática pelo chef da casa, Marcio Garrido. “Confesso que quando comentei que queria fazer um hambúrguer de moqueca, teve gente que me disse que seria um assassinato gastronômico misturar azeite de dendê com hambúrguer. A ideia surgiu da vontade de trazer algo regional, mas que não fosse algo que todo mundo já usa, como carne seca, carne do sol, banana”, conta.
A versão inusitada surpreendeu logo na primeira tentativa: “Por incrível que pareça, eu criei esse hambúrguer na cabeça e ele foi direto para a prática. Não teve testes. Resolvemos homenagear a nossa culinária baiana, trazendo harmonização entre os insumos regionais para dentro de uma culinária americana. Mostrar que você pode construir sabores sem ter regras. Com intuito de levar a nossa cozinha para fora do estado ou quem sabe do país”.
O hambúrguer custa R$ 44,90 e, segundo o chef, o segredo mesmo está na maionese. “Graças a Deus, as pessoas têm superado as expectativas com ele. São feedbacks positivos. Conseguimos realmente tirar o famoso ‘uau’ dos clientes. O primeiro desafio foi entender que haveria uma rejeição, segundo, criar estratégia para as pessoas experimentarem e, depois que experimentar, se apaixonar. Por ser um burger novo, ainda não tem expressividade financeira, porém, é um produto que vem com uma crescente na venda, despertando curiosidade nos clientes e valorizando a nossa cozinha regional”, comenta Garrido.
Marcio Garrido
chefA Vk Burguer chega a produzir por mês cerca de 2 mil burgers. No cardápio, os mais vendidos são Thor - pão australiano, carne 160g, cream cheese, queijo coalho, banana-da-terra e cebola caramelizada (R$32,90) – e, também, o Odin, uma versão que leva pão tradicional, carne 160g, queijo parto, fonduta de três queijos, bacon e cebola caramelizada (R$ 36,90).
“Sempre buscamos trazer coisas diferentes. Já temos prato novo que em breve estará no cardápio. Aqui na VK a gente cria na hora. Tivemos uma cliente na semana passada com alergia a carne e leite. Criei um sanduíche para ela com vinagrete de tangerina, camarão frito e um molho com toque do chefe”, destaca o chef.
A média de faturamento mensal da hamburgueria é de R$ 80 mil, como acrescenta Marcio Garrido. “No ano de 2024, a nossa ideia é conquistar mais clientes, fortalecer a marcar, enraizar a cultura e padronizar nossa produção para em 2025 iniciar o estudo do projeto de expansão”.
A estratégia de apostar nos ‘diferentões’ vem dando muito certo. “A lição é fazer o que você acredita, como cozinha. Entregar sempre comida de verdade para as pessoas, bem temperada, com afetividade e nos faz viajar sem sair da cadeira. Além de entender que podemos e devemos pensar fora da caixa”, ressalta.
Houve um tempo em que as hamburguerias artesanais viveram um verdadeiro ‘boom’ na cidade. Algumas se consolidaram, outras reformularam sua presença. Inúmeros negócios, no entanto, não conseguiram se sustentar por tanto tempo diante da concorrência. Como se manter relevante nesse mercado? Quem responde essa questão é o consultor de Negócios, mestre em Marketing e Gestão EEmpresarial, professor do UniRuy Wyden, José Hamilton Sampaio: “Em Salvador, assim como em muitas cidades, há certas ‘ondas’ no hábito de consumo, notadamente no segmento de alimentos. Já vivemos o período das pizzarias, das temakerias, das fornerias e, como não poderia deixar de ser, das hamburguerias com inúmeras tendências de gourmetização”.
Ou seja, ofertar sempre produtos diferenciados, agregando maior valor. “A estratégia é ficar no cliente atual e potencial e gerar experiências que encantem e mantenham vivo o vínculo de consumo. Vejo também como outra vertente, a aposta em versões que atendam o segmento vegetariano e vegano, com o uso de soja, vegetais e raízes, por exemplo”, completa.