Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Bruno Wendel
Publicado em 14 de março de 2025 às 15:08
No Instagram, a influencer e designer de interiores Lydi Siqueira ostenta uma vida luxuosa para os seus 16 mil seguidores. Mas fora da rede social, Liydianen Siqueira Santana Souto – seu nome de batismo –, 42 anos, é ré em mais de 20 processos judiciais e dezenas de queixas registradas em delegacias de Feira de Santana. Ela pertence a uma família rica e tradicional da cidade e, segundo as vítimas, usa todo o prestígio para aplicar o golpe: se apresenta como arquiteta, recebe dinheiro pelos projetos e não os realiza.>
Em alguns casos, segundo denúncias, chega a praticar extorsão. De cinco empresários, o prejuízo supera os R$ 200 mil. Mas o estrago pode ser milionário. Em dois grupos de WhatsApp, estão 90 pessoas, que dizem ter sido lesadas pela “golpista de elite”, como está sendo chamada a influenciadora no meio policial. >
Lydi Siqueira é filha de donos de uma tradicional loja de aluguel de vestidos de noivas na Avenida Getúlio Vargas e foi criada na Igreja Batista da Avenida, normalmente frequentada pelas pessoas mais ricas de Feira de Santana. “Usava o prestígio da família, que tem status. Quando a pessoa vai ao Instagram dela, tem essa percepção do luxo, só tem imagens de ambientes caros. Inicialmente, ela é educadíssima, se faz prestativa, diz que tem muitas indicações e nisso tudo vai conquistando as pessoas. No pós-crime, ela faz ameaças, dizendo que vai processar por quebra de contrato, ao mesmo tempo, em que se vitimiza e faz ataques, com fake news no Instagram e WhatsApp”, declara Matheus Junqueira Galvão Amorim, advogado de três das inúmeras vítimas que acusam a influencer de crime de estelionato. Duas delas ainda processam Lydi Siqueira por calúnia, injúria e difamação. >
A maioria das pessoas que acusam a influencer é dona de lojas de roupas, de joalherias e de clínicas, como foi o caso da biomédica Fabiane Santos dos Santos, que precisou fechar o seu centro de estética em Feira de Santana, após contrair uma dívida superior a R$ 150 mil. Ela foi uma das pessoas que registraram a ocorrência na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Feira de Santana.>
“Em dinheiro, perdi R$ 34 mil, mas ela me fez alugar um ponto enquanto faria a obra. Ou seja, estava pagando o aluguel de dois espaços, sem falar que toda hora ela pedia dinheiro para uma coisa, pra comprar móveis, iluminação e outras coisas que nunca apareciam. Ela tem um poder de persuasão muito forte, que envolve a gente, que demorei para perceber que tinha caído em um golpe”, conta. >
Fabiane conta que a influencer a procurou em outubro do ano passado e, inicialmente, quis fazer uma permuta, mas a empresária recusou. Então, segundo ela, Lydi Siqueira faria o projeto sem custo algum “pois estava afastada, mas precisava voltar ao mercado”.>
“Dias depois, ela me cobrou R$ 3 mil para imprimir o projeto, projeto este que nunca vi. Me obrigou a dispensar toda a equipe de pedreiro, porque só aceitava fazer o serviço com as pessoas de confiança dela. Quando eu dizia que não tinha dinheiro, ela ameaçava que ia quebrar o contrato, que eu teria que pagar multas e ainda ficar sem a reforma. A gente, que é uma pessoa correta, quer honrar com os compromissos e comecei a pegar empréstimos em banco e com parentes, por pouco não recorri a agiotas”, detalha. >
Diante de tanta pressão, Fabiane acabou vendendo uma loja de fardamentos avaliada em R$ 50 mil. “Ela me pressionava tanto, que fiquei desesperada e praticamente dei à loja R$ 5 mil para dar o valor que ela exigia para a obra, que nunca ficou pronta”, conta. A vítima quase passou o carro dela para o nome de uma mulher, indicada pela acusada. “Só não fiz isso, porque meu irmão entrou na jogada e percebeu que eu estava sendo vítima de extorsão”, conta. >
A partir daí, a empresária começou a desconfiar do golpe. Algumas situações alimentavam a sua desconfiança, como o fato de Lydi ter usado o nome de um empresário renomado na construção civil de Feira de Santana. >
“Quando queria arrancar dinheiro, dizia que ele é quem faria toda obra e que precisava de dinheiro para comprar mais materiais. Ela me encaminhou mensagens que seriam dele exigindo o pagamento. Só que uma certa vez, encontrei com esse empresário, que disse que não estava com a minha obra”, relata Fabiane. Ela descobriu que os orçamentos de materiais apresentados pela influencer eram falsos. “Liguei para uma grande loja de vidros daqui, informei os dados do orçamento, porque estava demorando muito. Para minha surpresa, a loja constatou que o comprovante que ela me passou era falso”, conta a empresária. >
Em janeiro deste ano, a vítima foi ao encontro da acusada, na loja da mãe dela, para pôr fim à negociação. “Só que ela queria mais dinheiro, fazendo novas ameaças. Eu já estava desesperada, já tinha perdido tudo. Foi aí que liguei para a polícia, que levou ela para a delegacia”, conta Fabiane. >
Na 2ª Delegacia Territorial de Feira de Santana, o caso foi registrado como ameaça. “A delegacia fez um termo circunstanciado, quando deveria ter feito o flagrante por estelionato, havia elementos suficientes para isso”, declara. Diante da repercussão, o inquérito foi encaminhado para a DRFR, onde as ocorrências contra a influencer são apuradas como estelionato. >
Outras vítimas >
Além de dois grupos de WhatsApp, o perfil no Instagram “Denuncias Lydi Siqueira” contra com mais de 640 seguidores e foi criado para dar voz às vítimas e evitar também que outras pessoas fossem vítimas da chamada “golpista de elite”, como foi o caso de Gilmara Barbosa, que disse que contratou Lydi Siqueira como arquiteta para “realizar o sonho de reformar a minha empresa do ramo de confecções”.>
“Vi as fotos no Instagram dela e a procurei. Ela disse que poderia realizar o meu sonho, se mostrando super solidária. O projeto todo ficaria em R$ 20 mil, mas o meu prejuízo com ela é hoje algo em torno de R$ 150 mil, porque tive que pagar locação, luz, água, credores, porque a minha loja ficou parada para uma reforma que ela nunca fez”, conta Gilmara, que era dona de uma loja de roupas e sapatos masculinos e femininos, fechada agora. >
Com a demora da obra, Gilmara começou a desconfiar. “Eu já tinha dado tanto dinheiro e nada da obra começar. Ela me dizia que era assim mesmo, que a demora era dos fornecedores, que os materiais estavam todos em Salvador e nisso ela pedia mais dinheiro”, relata. Quando decidiu acabar com a extorsão, Gilmara conheceu outro lado de Lydi Siqueira. “Começou a fazer ameaças: ‘se você não pagar, eu vou quebrar o contrato, vai ter multas’. Disse ainda que iria à delegacia dar queixa contra mim”, relata. >
Rosineide Oliveira Lima tinha uma loja de roupas, até cruzar com Lydi Siqueira em 2022. Ela e a filha eram sócias de um sonho e queriam ampliá-lo, mas acabaram perdendo o ponto num pesadelo. “Paguei várias dívidas dela em lojas, achando que estava pagando a obra. Ela me disse que estava com umas lâmpadas que custavam R$ 36 mil, mas que ela já tinha, que pagasse R$ 12 mil que ela devia numa loja de roupas. Só depois que descobri que a dona era amiga dela de infância, e que ela tinha medo de ser desmascarada pelos amigos da alta sociedade”, conta Rosineide. >
Para a suposta reforma, a influencer cobrou R$ 22 mil. “Após assinado o contrato, exigiu que eu desse mais R$ 22 mil de uma curadoria, que não abriria mão disso. Seis meses depois, quando a gente quis desistir, ela ameaçou a minha filha com uma tesoura”, conta ela, que ficou com depressão e vive à base de remédios, além de consultas constantes com psicólogo e psiquiatra. “Hoje já consigo falar sobre o assunto, mas antes... Perdi R$ 57 mil, isso que está anotado, mas, na verdade, foi mais de R$ 100 mil. Tive que fechar (loja) por conta disso”, completa. >
Investigação >
Os casos que estão na Justiça contra Lydi Siqueira estão nos Juizados Especiais, em ações indenizatórias por danos materiais e morais, na tentativa de reaver o dinheiro. No total, são 26 processos, boa parte de pessoas que dizem ter pagado pelo serviço dela como arquiteta e não ter a obrar sequer iniciada. >
Já a maioria dos processos criminais começou a ser instaurada há uma semana na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Feira de Santana. “São diversas vítimas. Não tenho como lhe precisar quantidade. Os de competência da Furtos são por estelionato, mas existem outros crimes de atribuição de outras unidades. Não tenho como dizer quais crimes e quais unidades. As queixas são registradas em um plantão central”, declara o delegado André Gomes, titular da DRFR. >
O delegado disse que a influencer ainda não foi ouvida. “As vítimas estão sendo ouvidas ainda. Procuraram a delegacia a partir de terça-feira (11). A acusada não foi ouvida ainda. Existe em curso o inquérito. Não se pode ouvir a acusada sem ouvir as vítimas primeiro”, explica a autoridade. >
Defesa >
Procurados, os advogados de Lydi Siqueira enviaram uma nota ao CORREIO, dizendo que “todas as acusações em redes sociais e na mídia são infundadas”. Informaram, por enquanto, que a influencer não dará entrevista. >
Leia nota na íntegra >
Diante da repercussão das notícias, precisamos reafirmar que todas as acusações em redes sociais e na mídia são infundadas. >
Os fatos serão devidamente apurados nas esferas cabíveis em busca da verdade e da compreensão de todas as circunstâncias. >
Até a presente data só temos conhecimento da suposta acusação de ameaça registrada na 2. delegacia territorial de Feira de Santana. >
A inocência da Sra. Lydi Siqueira será provada em momento oportuno com o devido processo legal. >
Além disso, se coloca à disposição da justiça, colaborando no que for necessário. >
Atenciosamente, >
Dra Patrícia Nogueira >
Oab/Ba 38.764 >
Orlando da Silva Daltro Júnior >
Oab/ba 64.201 >