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Larissa Almeida
Publicado em 25 de outubro de 2024 às 14:08
O galinheiro que abrigou os 70 enfermos acolhidos por Irmã Dulce na década de 40, ao lado do Convento Santo Antônio, em Salvador, agora é o ponto inicial do tour guiado pelo Memorial Santa Dulce dos Pobres. Após passar por uma requalificação que durou aproximadamente um ano, o espaço de memória e preservação da trajetória da santa abrirá as portas para o público, gratuitamente até o final do ano, a partir do dia 5 de novembro. Com novo nome – antes, o local se chamava Memorial Irmã Dulce –, o equipamento cultural e religioso foi completamente transformado e adaptado para receber idosos, crianças e pessoas com deficiência. >
Na manhã desta sexta-feira (25), foram apresentadas as novidades do museu. Se antes quem chegava para visitar o espaço ia direto para a exposição sobre a vida de Irmã Dulce, agora é preciso ir direto para os fundos, de volta para onde tudo começou. “Era um desejo nosso ter o marco zero, porque o galinheiro é muito emblemático para as pessoas que nos visitam e, especialmente, para que os nossos profissionais nunca percam as origens. Nós começamos de um galinheiro e nos tornamos uma grande empresa com os mesmos valores de quando começamos”, afirma Maria Rita Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e sobrinha da santa. >
“O galinheiro simboliza o momento em que ela [Santa Dulce] decide mudar totalmente, abraçar a vocação como religiosa, acolher os mais pobres. Ela, que era professora, sentiu o chamado de Deus para cuidar das pessoas que mais precisavam dela. Isso é o que esse Memorial mostra o tempo todo”, pontua Maria Rita. >
O galinheiro foi reformado, ganhou um gradil ornamentado com desenhos de galinhas e duas fotos inéditas de Irmã Dulce cuidando dos pobres que passou por ali durante os dez anos em que o espaço funcionou como local de acolhimento. Além disso, a estrutura do museu ganhou novos recursos de acessibilidade, como rampas de acesso, elevadores, corrimões, monitores bilíngues e de Libras. O local ainda passou a ter um novo roteiro de visitação, com salas divididas por ordem cronológicas dos fatos marcantes da vida da primeira santa brasileira. >
As novidades também incluem um corredor lúdico que reúne objetos que remetem à infância do Anjo Bom da Bahia: representações de mamonas – fruto que as crianças jogavam umas nas outras –, pipas, bolas de gude e a camisa do Ypiranga, o clube de futebol pelo qual ela torcia. No local, ainda há um espaço para contação de histórias sobre a trajetória dela até a santidade. Outras salas contam com telas interativas integradas a dispositivos de áudio, que narram pedaços da vida de Dulce, fotografias inéditas e um espaço para retratar a devoção dela a Santo Antônio, incluindo objetos, esculturas e relatos inusitados que testemunham essa relação. >
Márcio Didier, gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres e um dos idealizadores da reformulação museológica do Memorial, contou que a ideia de implementar as mudanças que resultou na obra de qualificação surgiu através de uma história inusitada. Em 2014, o Memorial foi colocado na lista de 8 museus para serem visitados no mundo, em uma lista elaborada pelo TripAdvisor. A indicação foi recebida com surpresa pelo acervo limitado que existia à época, o que provocou curiosidade e desejo de expansão. >
“Vimos que o que nos levou à indicação era forma e a emoção com que os monitores contavam a história dela [Santa Dulce]. Então, pensamos em um processo de qualificação em que fosse preciso que não perdêssemos isso, mas trouxéssemos tecnologia para o museu, experiências audiovisuais e um espaço infantil para formarmos os devotos de amanhã através do cartum. É um mergulho no legado e nos valores que ela deixou para nós, e que garante a continuidade dessa história”, enfatiza Márcio Didier. >
Se depender da comissária de bordo Maru Marrero, a história de Santa Dulce dos Pobres vai continuar não apenas entre os brasileiros, mas também entre os europeus. Ela, que é belga e vive em La Hulpe – um município da Bélgica próximo à capital Bruxelas –, ouviu falar da santa brasileira pela primeira vez em 2021. Em 2022, durante um passeio turístico no país, Maru decidiu conhecer a fundo a história do Anjo Bom da Bahia e se encantou. >
“Eu fiz a visita ao antigo Memorial e fiquei impressionada com essa pessoa tão carismática, precursora e inspiradora de valores. Eu não acreditava que as pessoas, gerações depois, ainda faziam de tudo para ajudar a continuar as obras que ela fazia. Foi então que eu perguntei se poderia fazer voluntariado para ajudar e deu certo. Ano passado foi a primeira vez que estive aqui fazendo voluntariado e foi uma dessas coisas que mudam a vida da gente”, relata. >
A mudança foi tanta que Maru retornou neste ano para repetir o período de ajuda à serviço da Osid. Ela integrou a equipe do Abraço Acolhedor, um projeto da Osid que acolhe os pacientes e acompanhantes que chegam em Salvador vindos do interior do estado ou de regiões mais distantes, auxiliou o Bazar e outras ações sociais, como a distribuição de brinquedos para crianças carentes no último Dia das Crianças e a distribuição de café para dependentes alcóolicos. >
Com retorno programado para Bélgica nesta sexta-feira, Maru afirma que vai embora com a expectativa de voltar em 2025, mas até lá quer seguir os ensinamentos de Dulce. “Ela é uma inspiração para mim. É uma mulher que tinha determinação e nos mostrou que tudo é possível com amor, carinho, atenção e dedicação. Essa é a mensagem principal dela”, finaliza. >