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Gilberto Barbosa
Publicado em 12 de março de 2025 às 05:40
Parque Marinho da Barra. Localizado entre o Forte de Santa Maria e o Farol da Barra, a unidade de conservação ambiental possui uma área de mais de 320 mil m² e abriga um vasto ecossistema marinho, além de três navios que naufragaram na região entre os séculos XIX e XX. No entanto, o descarte irregular do lixo afeta a conservação e a vida marítima do local. >
Pensando nisso, o mergulhador Bernardo Mussi criou, em 2010, o projeto Fundo da Folia, que reúne mergulhadores com o objetivo de preservar o parque. O projeto nasceu após o Carnaval daquele ano quando Bernardo, juntamente com outros três amigos, decidiu retirar o lixo que viu embaixo d’água no Farol da Barra. A ação foi registrada com fotos e vídeos e ele escreveu um texto para um blog. >
“A motivação foi natural, já que, como surfista, mergulhador e morador da Barra há anos, sempre estive ligado à natureza do bairro. Quando mergulhei durante o Carnaval e vi aquelas imagens, eu tinha que fazer alguma coisa. A repercussão foi grande e então passamos a fazer as ações com frequência, sempre voluntariamente, o que gerou uma adesão muito grande de outras pessoas”, diz. >
O número de voluntários e a frequência das ações aumentaram com o tempo. Bernardo também passou a dar palestras e a produzir materiais educativos. Um documentário foi feito para o aniversário de 10 anos do projeto, intitulado ‘Inspirações que vêm do fundo’. >
“Nunca tivemos patrocínio, já que não aceitamos envolvimentos comerciais e políticos para manter a liberdade que temos em nossas iniciativas. Aceitamos doações de pessoas, empresas e instituições alinhadas com o nosso propósito. O projeto vai muito além das questões ambientais, ele passou a ser uma referência em algumas outras áreas que são igualmente importantes para a melhoria da qualidade de vida das pessoas em nossa cidade”, explica. >
O resultado da iniciativa é divulgado no perfil (@fundodafolia). As ações ocorrem quando o mar apresenta condições para mergulho, a qualquer hora do dia. O grupo avalia as previsões de mar e tempo, escolhe o local e divulga através do WhatsApp. Bernardo conta que o Fundo da Folia realizou 55 ações em 2024 e pretende realizar 60 neste ano. >
“Já fizemos 19 ações e esperamos bater o nosso recorde. Divulgamos alguns dias antes e quem estiver disponível pode chegar com seus equipamentos pessoais na hora e no local marcados. Quase todas as nossas ações (95%) ocorrem na área do Parque Marinho da Barra, mas também fazemos em outros lugares como Ondina, Rio Vermelho e Boa Viagem”, continua. >
A concentração das ações no Parque Marinho da Barra tem um motivo especial: o Fundo da Folia foi um dos articuladores para a criação da unidade. Bernardo conta que a ideia era um desejo antigo dos moradores do bairro, que estavam insatisfeitos com a sensação de ‘enxugar gelo’ nas ações de limpeza da área. >
Fundo da Folia
O trabalho em conjunto resultou no decreto de criação do parque, assinado no dia 13 de abril de 2019 pela Prefeitura de Salvador. Atualmente, o Fundo da Folia é parte do conselho gestor da unidade. >
“O Parque Municipal Marinho da Barra tem uma marca importante do projeto e isso aumenta a nossa responsabilidade pela conservação da área. É um prazer, já que ele é um dos maiores patrimônios ambientais e culturais da cidade e deve ser muito bem preservado para a saúde e a qualidade de vida desta e das próximas gerações”, afirma.>
Durante os 15 anos de atividade, o projeto já realizou mais de 300 ações de limpeza do fundo do mar. Entre os objetos encontrados estão pneus, latas, garrafas pet, canudos, espetinhos, roupas, garrafas de vidro, copos, talheres e pratos descartáveis. O grupo também encontrou itens curiosos como dentaduras, vibradores e até um plug anal. >
“Nos chama bastante atenção o fato de que, nesses anos, percebemos apenas uma leve melhora na quantidade de lixo que encontramos no mar. Isso é resultado do trabalho feito pelos garis à noite e ao amanhecer na orla da Barra, que evita que os resíduos cheguem em maior quantidade no fundo do mar”, relata. >
Ainda assim, a quantidade de lixo descartada pelos banhistas preocupa. “As pessoas não se comovem como deveriam e o efeito “manada” se estabelece inconscientemente nesses espaços, gerando uma cultura difícil de reverter. Isso é facilmente constatado por qualquer pessoa que for em um dia de praia cheia na Barra, ou em qualquer lugar de Salvador”, completa. >
O Fundo da Folia realizou ações de limpeza na última quarta-feira (5) e no último sábado (8), com o objetivo de retirar os resíduos que ficaram no mar. Entre os itens encontrados estão latas, garrafas pet, copos, pratos e talheres descartáveis, além de abadás e peças publicitárias. “Infelizmente, a constatação é que, ao longo dos 15 anos do projeto, a situação do lixo marinho gerado no Carnaval da Barra não tem diminuído”, diz.>
O mergulhador destaca o alto número de quentinhas plásticas, o que não ocorria nos anos anteriores. Ele conta que a ação de sábado teve o objetivo de dar um ‘pente-fino’ no Parque e que encontrou um grande volume de resíduos nos locais onde o grupo esteve na quarta. >
“Isso mostra como o movimento das marés atua no deslocamento desses itens. Algo tem que ser feito para evitar que eles cheguem ao mar, pois o que recolhemos é apenas uma pequena parte do que vai para o oceano. Essa é uma pauta importante a ser discutida”, conclui.>
*Com orientação do editor Miro Palma>