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Fundado há quase 85 anos, Porto do Moreira já não atende clientes

Comerciantes e pessoas que transitam na região informaram que atividades foram encerradas há um semana; família que administra o local não se posicionou oficialmente

  • M
  • Millena Marques

Publicado em 19 de julho de 2023 às 05:00

Porto do Moreira encerrou atividades há uma semana, de acordo com comerciantes e pessoas que transitam na região
Restaurante foi palco de encontros de figuras históricas em Salvador Crédito: Marina Silva/CORREIO

Há pelo menos uma semana, informam comerciantes e pessoas que transitam na vizinhança, quem vai até a porta do tradicional restaurante Porto do Moreira sai de lá de barriga vazia. É que, apesar de não ter feito um anúncio oficial, o restaurante não está mais em atividade. Fundado em 1938, o estabelecimento, localizado entre o Largo Dois de Julho e a Rua Carlos Gomes, é aberto às 8h e fechado antes das 11h, sem a presença de funcionários e clientes. Apesar de nitidamente não operar mais, a família administradora do local ainda não confirmou oficialmente o fechamento do estabelecimento que foi palco de encontros históricos em Salvador.

Fundado há quase 85 anos, o restaurante foi frequentado pelo escritor Jorge Amado, responsável por imortalizar o Porto do Moreira em suas obras. O local também foi ponto de encontro de grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB), como os baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso. O espaço pensado e criado pelo português e carpinteiro José Moreira tem sofrido com diversos problemas financeiros nos últimos anos, reforçados pela pandemia da covid-19, e foi colocado à venda em 2022, como explicado pelo atual proprietário, Francisco Moreira, um dos quatro filhos do fundador.

“Temos seis funcionários e era para ter menos, mas não tenho como pagar os encargos. O dinheiro foi todo embora. Então é isso, não tem condições de continuar. O movimento do Centro caiu muito, não é mais como antigamente”, disse Chico ao CORREIO, à época.

Francisco Moreira administrava o local com o irmão até o falecimento dele, em 2018, quando começou a tocar o estabelecimento com a filha, Cristina Moreira, que teria confirmado o fechamento do restaurante em entrevista a um veículo local. No entanto, em contato com a administradora nesta terça-feira (18), ela afirmou que a declaração foi feita em uma conversa informal e ainda aguarda respostas dos advogados para confirmar a notícia oficialmente.

Amigos do Porto do Moreira

Em dezembro do ano passado, um grupo intitulado ‘Amigos do Porto do Madeira’ tentou realizar uma corrente de solidariedade para manter as portas do tradicional restaurante abertas após a sinalização de uma placa de ‘vende-se’ ter sido colocada no sobrado. À época, clientes novos e antigos lotaram o estabelecimento como há tempos não acontecia. Apesar dos esforços e das tentativas de manter o espaço, o fechamento de mais um empreendimento histórico do Centro parece inevitável.

Criador do grupo de mobilização, o conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Luiz Coutinho lamentou o possível fim do estabelecimento, o que aponta ser, caso concretizado, uma perda cultural para toda a Bahia. No sobrado histórico, o advogado participou de diversas reuniões sobre as eleições da OAB. “Era um espaço não só de gastronomia, mas de cultura. A ideia do próprio contexto do restaurante era muito interessante para Salvador”, afirma o conselheiro, que frequentava o espaço há 20 anos.

Depois do anúncio de crise financeira do restaurante, os membros do grupo tentaram fazer um movimento de retomada da clientela, convidando antigos e novos clientes para realizarem as refeições lá, o que funcionou durante um tempo. “Infelizmente, a crise que o restaurante estava passando parecia ser mais séria do que o movimento poderia fazer frente”, acrescenta Coutinho.

Quem também lamentou a situação foi o professor e advogado Fernando Santana, um dos participantes da corrente solidária. Quando saiu de Barra da Estiva, no sudoeste da Bahia, para estudar Direito na capital, em 1963, ele teve no Porto do Moreira um local de encontro de intelectuais, artistas e profissionais liberais, com direito a comida de boa qualidade. “É uma tristeza grande. Esse declínio golpeia a memória das pessoas que frequentavam o local”, afirmou o advogado, fã da moqueca de carne do local.

Surpresa

Apesar da exposição dos problemas financeiros do restaurante ter acontecido há meses, algumas pessoas foram pegas de surpresa ao encontrar as portas fechadas ontem. É o caso de Bárbara Maria dos Santos, 80 anos, moradora do bairro da Federação. Ela era esposa de um dos floristas que trabalhavam na região quando o Porto do Moreira era a principal referência da entrada do 2 de Julho.

“Ele almoçava todos os dias aqui e frequentou o lugar por 30 anos. Se ele soubesse que o restaurante está nessas condições, estaria triste, com certeza”, disse dona Bárbara Maria, que perdeu o companheiro há 10 anos.

O encerramento das atividades do Porto do Moreira na última semana também era desconhecido pela técnica de administração Ana Lúcia dos Santos, 69, que começou a frequentar o restaurante há um mês.

“Eu vinha almoçar, arejar a mente. Um restaurante desse não pode fechar, é uma grande perda”, disse.

*Orientada pela chefe de reportagem Perla Ribeiro.