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Funcionária chamada de 'gostosa' e 'legítima baiana' pelo chefe será indenizada em R$ 15 mil

Uma testemunha ouvida afirmou que o supervisor era “um psicopata com os funcionários”

  • Foto do(a) author(a) Da Redação
  • Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2024 às 10:00

Fachada do TRT 5
Fachada do TRT 5 Crédito: Divulgação/TRT 5

Uma auxiliar administrativa de Salvador será indenizada em R$ 15 mil por sofrer assédio do chefe. Entre as ofensas que recebia, ela era chamada, junto com outras funcionárias, de gostosa e de “legítima baiana”.

De acordo com decisão da 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia, a empresa Manpower Staffing Ltda terá que indenizar a trabalhadora. A LG Eletronics do Brasil Ltda, onde ela prestava serviços, responde ao processo de forma subsidiária, isto é, assume o encargo caso a empresa principal não efetue o pagamento. A decisão ainda cabe recurso.

Entenda o caso

De acordo com a funcionária, em abril de 2021, a LG impôs às suas terceirizadas a implantação do sistema 5S. O sistema é um conjunto de técnicas administrativas para organizar o ambiente de trabalho e melhorar a eficiência. Para isso, contratou um novo supervisor que passou a exigir metas imbatíveis, alterar atribuições e praticar assédio com os funcionários.

A testemunha ouvida em audiência confirmou o assédio, afirmando que o supervisor era “um psicopata com os funcionários”. O chefe obrigava os empregados a fazer limpezas dos locais de trabalho e, caso algo estivesse fora do lugar, os chamava de preguiçosos, imitando um bicho-preguiça.

A testemunha ainda revelou que o supervisor chamava as trabalhadoras de “gostosas” e comentava que elas possuíam “a bunda grande”. No relato, ela também afirma que já presenciou o superior chamar a funcionária, autora do processo, de "legítima baiana" por ela andar se arrastando, ser preguiçosa e falar muito alto.

A Manpower Staffing Ltda, inicialmente, alegou que o supervisor não era seu empregado e que não poderia responder por atos de terceiros, além de afirmar que a empregada nunca sofreu qualquer assédio. Em nova nota enviada ao CORREIO, no dia 8 de agosto, a empresadisse que repudia qualquer forma de assédio. "O ManpowerGroup tem um compromisso global em conduzir nossos negócios com ética, integridade e responsabilidade. Repudiamos veementemente qualquer forma de assédio e não compactuamos com tais práticas", disse. Ainda, afirmou que está acompanhando o processo e que se coloca à disposição para esclarecimentos.

A LG, por sua vez, afirmou não ser empregadora da vítima.

Decisões

A juíza que analisou o caso na 3ª Vara do Trabalho de Salvador afirmou que a conduta assediadora do supervisor ficou evidente, comprovando que a auxiliar administrativa foi vítima de tratamento excessivamente rigoroso e desrespeitoso. Ela condenou as empresas, sendo a LG de forma subsidiária, ao pagamento de indenização no valor de R$ 10 mil.

As empresas entraram com recurso. Elas argumentaram que, apesar dos depoimentos demonstrarem que o supervisor era uma pessoa de difícil convivência, ofereciam a oportunidade para que os funcionários denunciassem tal comportamento, e que a empregada nunca utilizou os canais de denúncia.

Para a relatora do recurso, desembargadora Eloína Machado, o ambiente de trabalho não era saudável, apresentando um tratamento humilhante, desrespeitoso e assediador. Ela observou um comportamento conivente entre as empresas, já que nada faziam para que a situação acabasse.

No recurso, a auxiliar administrativa pedia um aumento do valor da indenização, enquanto as empresas visavam uma redução. Nesse ponto, considerando a gravidade da conduta empresarial, a relatora optou por aumentar o valor para R$ 15 mil. O voto foi seguido de forma unânime pelos desembargadores Maria Elisa Gonçalves e Agenor Calazans.