Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Yasmin Oliveira
Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 08:00
Após incêndio em galpão de materiais recicláveis no bairro do Limoeiro, em Camaçari, na quarta-feira (17), cerca de 30 imóveis foram evacuados pela Defesa Civil do município com o objetivo de diminuir quantidade de fumaça inalada pela população. Nesta quinta-feira (18), as chamas ainda não foram completamente extintas e a fumaça continua espessa, mantendo os moradores afastados de suas casas e sem previsão de retorno.
“A fumaça está mais forte e está sendo bastante complicado. Ainda não tenho onde ficar e não posso voltar para casa. No momento estou na casa de minha mãe, mas não quero incomodar”, relatou Ênio Toledo, 37. O auxiliar de manutenção foi um dos moradores que precisaram sair.
No momento, o fogo está controlado e não atingiu edificações vizinhas, mas a fumaça continua sendo um risco para a população e os moradores não foram autorizados a retornarem às suas casas ou mesmo receberam uma previsão de quando a situação irá normalizar. De acordo com informações da Secretaria do Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedes), o número de famílias assistidas era de 21.
A pneumologista Larissa Sadigursky explica as complicações e riscos da inalação de fumaça. “O principal risco, quando está próximo à fumaça de incêndio, é o paciente ter sintomas relacionados com as vias aéreas e a parte ocular também. O olho pode ficar muito irritado por conta da fumaça e nas vias aéreas, dependendo da proximidade com a fumaça, pode causar, inclusive, queimaduras térmicas. A temperatura da fumaça causa essas queimaduras”, disse.
A especialista ainda alerta que esta irritação nas vias aéreas pode causar inflamação nasal e outros sintomas como rinite, cansaço, falta de ar, chiado no peito e tosse muito intensa. Com a exposição, a avaliação em uma unidade médica deve ser feita de forma imediata e o foco do profissional de saúde deve ser nas vias respiratórias.
“Ainda tem a questão da quantidade de fumaça inalada, como qualquer incêndio, tudo tem monóxido de carbono que a depender da quantidade inalada pode levar até a morte. Não existe uma quantidade de inalação específica que se torne perigoso, no entanto quanto mais você inalar, os riscos e as consequências respiratórias se tornam maiores e, não apenas pela questão da irritação das vias aéreas como pela intoxicação mesmo por monóxido de carbono”, explica a médica.
Ao chegar na unidade de saúde, o profissional irá avaliar como será feito o tratamento. Larissa relatou sobre pacientes que chegam com um quadro de bronquite, com crise de cansaço, falta de ar e chiado no peito, algo que pode ser confundido com asma, eles precisam ser atendidos com medicações broncodilatadoras e pelas vias venosas.
A oxigenação do paciente também se torna uma preocupação e, dependendo da quantidade de monóxido de carbono inalado, existe a possibilidade de ele ser entubado após observação em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Ainda existe o risco de morte por afixia, o monóxido de carbono é extremamente perigoso por sua afinidade com a hemoglobina ser 240 vezes maior do que o oxigênio. Sequelas como danos cerebrais e problemas cardíacos podem surgir após a intoxicação.
“Tudo depende do quadro clínico e da sensibilidade de cada um, é importante ressaltar isso. Não é a mesma quantidade de fumaça que vai fazer mal para um paciente que necessariamente irá fazer mal para outro paciente, depende da sensibilidade de cada pessoa”, detalhou a pneumologista.
A Prefeitura de Camaçari e a Secretaria de Saúde do município informaram que não houve nenhum registro de atendimento por inalação de fumaça na quarta-feira (17) ou nesta quinta-feira (18) nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Por outros canais que não sejam as unidades da Prefeitura, não temos como informar”, disse.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela