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Maysa Polcri
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 14:51
As dilatações no teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, preocuparam os freis que vivem no convento anexo ao templo. Na segunda-feira (3), dois dias antes do desabamento que matou uma turista de 26 anos, o frei Pedro Júnior Freitas da Silva relatou o problema ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele diz, no entanto, que não acreditava que fosse um risco iminente. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) não foi informada. >
Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira (6), Pedro Júnior explicou que os religiosos não tinham noção do risco de parte do teto desabar. "Nós somos leigos no assunto de estrutura. Não tínhamos capacidade de dizer que aquela fissura era motivo de desabamento e que deveríamos tirar as pessoas de dentro. A carta foi enviada ao Iphan e não para a Defesa Civil", explicou. >
Foi a primeira vez que um ofício sobre as dilatações no teto foi enviado à autarquia federal. O Iphan, por sua vez, havia marcado uma vistoria para esta quinta-feira (6). O desabamento aconteceu no dia anterior. "Quem nos alertou sobre o aumento de uma fissura foram os trabalhadores que atuam aqui", completou o frei. Pedro Júnior disse ainda que não tem conhecimento de outros riscos iminentes. >
As preocupações com a estrutura de uma das igrejas mais visitadas de Salvador não são novidade. Guias de turismo que atuam no Pelourinho relatam que turistas brasileiros e estrangeiros questionavam as dilatações no teto do templo com frequência. O historiador Rafael Dantas explica que são indícios de que o local precisaria passar por reformas. >
"São afastamentos dos retábulos de madeira. Isso acontece porque alguma coisa se soltou. As madeiras podem ter se separado por questão de cupim ou umidade, por exemplo", avalia o historiador. >
Em setembro de 2021, o Iphan foi condenado a realizar obras de recuperação, conservação e manutenção da Igreja e Convento de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador. A autarquia federal se tornou ré de ação após a Comunidade Franciscana da Bahia, dona do imóvel, alegar não ter recursos para realizar obras emergenciais.>
A decisão, a qual o CORREIO teve acesso, revela que perícia realizada em 2018 apontou problemas no "pavimento superior, na clausura, no depósito, na biblioteca, no elevador, na varanda superior do imóvel, nas peças e madeiras e elétrica com fiação aparente, na cobertura, na varanda do pavimento superior, na rede pluvial, na fachada e na estrutura do imóvel".>
Leandro Grass, presidente do Iphan, negou que o órgão tenha "abandonado" o templo religioso. Ele lembrou que a restauração dos azulejos do espaço, realizada em 2023, custou R$ 4,2 milhões. "No ano passado, encaminhamos a contratação de um projeto executivo para o restauro de toda a igreja, incluindo a estrutura. Esse projeto está em fase final de elaboração", afirmou. >
Ainda de acordo com Leandro Grass, não havia risco iminente de desabamento. "Existiam problemas como rachaduras, frisões, sujeira e fungos, mas nada que colocasse em risco a integridade das pessoas que frequentam o espaço", disse. Sosthenes Macêdo, diretor-geral da Defesa Civil de Salvador, confirmou que não houve acionamento recente para averiguação de riscos estruturais. >
O diretor da Codesal falou sobre a possibilidade de que o teto tenha desabado pelo sobrepeso no forro do teto central. “É um forro de madeira e antigo. É uma edificação secular, então, se há ruptura de uma parte, certamente aquela parte vai puxar o todo. Mas, essa é uma análise visual". >
"Quem vai poder esclarecer o que aconteceu, depois, é o Departamento de Polícia Técnica (DPT), a Polícia Civil da Bahia e a perícia da Polícia Federal. Vale dizer que, preliminarmente, não tinha nenhum indício que apontasse que ia cair. O único indício presumível é o fato de que a igreja tem uma edificação antiga”, finalizou.>
Nesta quinta-feira (6), agentes das polícias Civil e Federal realizam perícia no local do desabamento. Entre os equipamentos que serão utilizados está um scanner 3D, que será usado para fazer registro de toda área. "Vamos gravar essas imagens, para que a gente possa revisitar o local do crime para fazer exames complementares, se necessário", detalhou Maurício Salim, corregedor da Polícia Federal que atua na investigação.>
O corregedor diz que é preciso fazer tudo com cuidado. "Se tratando de imóvel tombado, a repercussão vai além da fase criminal. Sabemos que haverá repercussões cível e administrativa. A investigação tem que ser muito bem preparada porque dará ensejo a uma série de ações". Depoimentos estão sendo colhidos. Segundo ele, a hipótese de homicídio na morte da turista não é descartada pela Polícia Federal. >